| 3 | O Cheiro De Tinta (I/II)

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Léia's P.O.V.

Meus olhos se abrem e me encontro novamente na sala de concreto. Idêntica a outra, essa também possui uma janela de vidro e uma porta para o mundo exterior, para a minha próxima fase. 

Me apoio na parede mais próxima até ficar completamente ereta. Me aproximo da janela e tento ver o que há lá fora: escuridão, prédios e algumas luzes brilhando ao longe. Vou à porta e a abro, sendo recebida pela brisa fria e macia da primavera. 

Faço meu caminho por uma rua deserta, sem rumo. Não havia bilhete algum na sala que pudesse me preparar para o que vai acontecer, ou pelo menos me dar uma simples dica do que me aguarda, para que eu haja como tal. 

Pelos prédios a minha volta e a considerar o tamanho das ruas, acredito que estou em Seoul. Por que?

Meus passos são o único som audível. Eu e eu. Desde o momento que morri, perdi a noção de tempo, então não faço ideia de quanto tempo estou andando, mas minhas pernas estão começando a cansar. 

Me vejo no centro da cidade, e as vitrines coloridas e iluminadas das lojas me distraem por alguns minutos. Uma das lojas contém uma painel de led com diversas promoções correndo, o que considero inútil considerando que não há ninguém nas ruas a essa hora. 

Mas afinal, que horas são?

Como se o letreiro lesse meus pensamentos, suas luzes de acendem para formar o horário: 03:00. 

- Obrigada, foi de extrema ajuda - digo com certo tom de deboche para as luzes de led amarelas diante de mim. 

Enfio as mãos no casaco que aquece meu tronco e aproveito para olhar minhas roupas no reflexo do vidro de uma vitrine qualquer. Jeans, camiseta, jaqueta e tênis. Não é uma roupa da qual me lembro de ter usado em vida, mas gosto como cada peça me cai. Me sinto confortável nelas. Meu cabelo está curto, ruivo e com mechas azuis. 

Esquisito, esse era meu visual quando reencontrei os meninos depois de fugir do manicômio... 

Um barulho me tira de meus pensamentos, me deixando totalmente alerta. É um barulho de vidro se estilhaçando. Olho para os dois lados da rua mas não vejo movimento algum. Espero um pouco e o barulho se repete, dessa vez pouca coisa mais alto, e vem subindo a rua. Mesmo com medo, sigo o barulho rua acima, que se repete diversas vezes até ficar insuportavelmente audível. Tapo minhas orelhas com as mãos e ainda assim procuro de onde ele vem. 

Por fim o som cessa e me encontro diante de uma loja de artigos de verão e praia. A vitrine tem areia no chão, um guarda-sol e dois manequins, de um homem e uma mulher. O boneco masculino tinha uma peruca escura no tradicional corte com franja, com roupas padrão. A boneca feminina tinha roupas masculinas muito maiores que seu tamanho corporal, o cabelo representado por uma peruca laranja. Ambos os manequins estão sentados na areia e entre eles há uma garrafa de vidro quebrada, banhada em sangue vivo. 

Me assusto ao notar que, pelo reflexo do vidro, minhas mãos estão ensanguentadas. Levo-as diante de mim e vejo os cristais de vidro encrustados em meus pulsos, sinto dor apenas na mão direita. Minha mão esquerda está entorpecida. 

Olho novamente para os manequins e imediatamente me lembro do que aconteceu em Busan há anos, quando quebrei uma garrafa com meus próprios punhos na areia da praia, no quintal da casa de Jimin. 

Antes mesmo que eu possa raciocinar tudo que aconteceu naquela noite, uma imagem chama minha atenção. O vidro da vitrine reflete um poste de iluminação de rua, com um homem em roupas escuras e uma mochila nos ombros, apoiado, olhando diretamente em minha direção.

Me viro e analiso a figura do outro lado da rua, que acena para mim e esboça um sorriso característico. 

- Taehyung? - sussuro. 

Save Me From The Fire {Min Yoongi} - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora