Mago deu de ombros. Prossegui:
- Quero sondar o terreno, entendeu? Tentar descobrir quem ela é, e por que tenho sonhado com ela, sem parecer um lunático filho da mãe.
- Cê quem manda – Mago encolheu os ombros novamente. – Mas vai ter que me pagar as horas de trabalho, morou? Acha que vivo de vento?
- Posso te pagar em sexo? Porque grana eu não tenho – falei, detendo-me nas orientações do Google. – Vire aqui!!!
Mago girou o volante rapidamente, atravessando a pista à sua direita e entrando na rua perpendicular. Agarrei-me à alça do lado do passageiro (aquele item indispensável, cujo nome ninguém sabe, mas todos chamam de puta-que-pariu). À manobra arrojada, seguiram-se xingamentos de um motoboy, que gesticulou para nós mostrando o dedo do meio.
- Caralho, Túlio! Fica de olho nessa merda aí!!! – esbravejou Mago, recuperando o fôlego.
Após ver a morte de perto, segui em silêncio, apenas falando para ditar as instruções ao condutor.
- É aqui, chegamos – disse, observando o sobrado verde com convidativo portão branco e placa em relevo onde se lia Dr. Pet. A clínica ficava num local arborizado de Higienópolis e, pelos modelos de carros estacionados nas três vagas da garagem defronte ao prédio, não fora difícil deduzir que os clientes estavam num estrato social muito superior ao meu.
- E agora, gênio? – perguntou-me Mago.
- Agora – desci com Vishnu nos braços –, você procura um lugar pra estacionar o Incrível Hulk, enquanto eu penso no que dizer à moça de cabelos de cobre.
*****
Vishnu ainda se mostrava arredia e em estado de alerta enquanto eu subia o pequeno lance de escadas até a recepção da clínica. A fachada era clean e ornamentada com um jardim discreto, mas bem cuidado, localizado na calçada pela qual senhores e madames faziam caminhadas.
A cadelinha manteve as orelhas pontudas em riste quando rompi a porta de entrada e cheguei à recepção. Na sala de esperas, localizada de modo adjunto à salinha que dava as boas-vindas aos clientes, duas mulheres, uma de bastante idade, e outra mais nova, aguardavam juntamente com seus respectivos cães.
A senhora, cuja idade calculei estar em torno dos 70, trazia no colo uma schnauzer que, com base na quantidade de pêlos brancos do focinho, devia regular em número de anos com sua dona. Assim que eu e Vishnu entramos em seu campo de visão, o animalzinho contorceu-se, emitindo um rosnado rouco.
Meneei a cabeça, amistoso, exibi meu melhor sorriso, e passei os olhos na outra senhora, bem mais jovem, na casa dos 40, e que trajava roupas de academia. Ao seu lado, um pastor alemão ressonava tranquilamente.
As paredes estavam decoradas com quadros grandes que exibiam cães em suas melhores formas, saltando, correndo ou, simplesmente, olhando de modo amistoso para a câmera com a enorme língua para fora.
Detive-me diante do balcão branco, atrás do qual uma garota morena de seios enormes, parcialmente visíveis através do decote ousado, e de olhar convidativo, me recebeu com um largo sorriso.
- Posso ajudar o senhor? – perguntou, passando o dedo pela tela de seu celular, que repousava sobre o balcão.
Ainda olhando, sem qualquer discrição, para os seios da garota, imaginando como seriam seus mamilos encobertos por aquele naco de tecido, murmurei algo como "Estou procurando a Dra. Marina".
- O senhor tem cadastro em nossa clínica? – ela perguntou, aparentemente ignorando meu olhar despudorado.
- Na verdade, é a primeira vez que venho. Minha cachorrinha está doente e um amigo me recomendou vocês. Disse que a Dra. Marina é uma excelente veterinária – falei, mentindo de modo deslavado.
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NOS MEUS SONHOS
Romance"Pode-se dizer que eu, literalmente, encontrei a mulher da minha vida no momento mais fodido por que já passei. Bem, na verdade, ela me encontrou... nos meus sonhos. Mas esta é uma história que terei que contar em detalhes, e espero que você acredi...