Capítulo Dois

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Mas uma nova espiadela naquela bandeja da perdição o desviou completamente do caminho dos justos.

Até porque não havia discussão contra uma consciência com a voz dos seus amigos, e por mais que Sandro adorasse sacanear os outros com sugestões fajutas, Marco não poderia negar que o tio de seu melhor amigo também era seu amigo.

Foi assim que ele se viu pedindo o sonho e mandando a restrição de açúcar para o beleléu.

A atendente sequer piscou ao sair de perto das receitas mais saudáveis e se aproximar daquela bomba calórica e açucarada. Apenas o instruiu a se acomodar em uma das mesas e aguardar o seu pedido.

Depois de esperar com ansiedade, e finalmente ser servido com aquela guloseima maravilhosa, Marco lhe deu uma enorme mordida e acabou se sujando todo. A boca, o queixo e os dedos ficaram cobertos de açúcar e recheio.

Por um segundo, arrependeu-se de não ter escolhido a fatia de torta. Ela era um doce muito mais civilizado, principalmente quando imaginou que a qualquer momento alguém do escritório poderia aparecer por ali e vê-lo daquele jeito.

Seria um grande golpe em sua imagem profissional.

Ou melhor, em sua imagem profissional empoada.

Franzindo a testa perante aquele pensamento, Marco mandou um "foda-se" para essa maldita descrição tão inexata de sua pessoa e afogou todas as suas mágoas no resto do doce.

Mais tarde, depois de um pulo no toalete para se limpar e se sentindo mais centrado para prosseguir com o resto do seu dia, ele pegou o carro e foi ao fórum.

No caminho, teve de parar duas vezes para atender um cliente por telefone, que só queria uma "informaçãozinha rápida". A primeira ligação durou exatos vinte e um minutos, e a segunda mais trinta e quatro.

Infelizmente, aquilo já era habitual em seu trabalho. Alguns indivíduos não percebiam que, para determinados assuntos, era necessário agendar uma consulta.

Por fim, depois de ficar um bom tempo esperando o estagiário encontrar um processo, Marco saiu do fórum com o intuito de voltar ao escritório.

Entretanto, assim que percebeu aonde realmente ia parar, ficou surpreso. De alguma forma, ele acabou pegando um retorno e seguindo até a rua da oficina de Elisa.

Não soube porque fez aquilo. Talvez fosse culpa de seus pensamentos, já que enquanto esteve na cafeteria se esbaldando em açúcar, havia voltado a refletir sobre a mulher e a situação que os dois levavam em mãos.

Tinha decidido, entre goles de café e mordidas em seu sonho fofinho, que o mais lógico a fazer era ligar para Elisa e convidá-la para uma reunião informal.

Pensava agora, ao frear numa faixa de pedestres e receber um sinal de agradecimento da senhora à espera para atravessar, que essa era a decisão mais razoável a ser tomada.

Elisa e ele jantariam, conversariam sobre o Corvette e acabariam com aquela animosidade que só crescia desde que se conheceram.

Não que ela se sentisse assim em relação a ele, claro.

Aliás, a doida sempre o olhava com um interesse descarado.

Marco, porém, não se sentia confortável em classificar uma mulher como doida e, ao mesmo tempo, desejá-la em sua cama. Tampouco gostava de saber que os dois pretendiam lutar pelo mesmo carro. Ainda mais numa guerra que, ele suspeitava, seria longa e acirrada.

Talvez devamos ter um encontro ao invés de uma reunião informal, considerou ele.

Foi quando voltou a pensar no Corvette. O que o levou, inconscientemente, a continuar no assunto Elisa e, por consequência, lembrou-o da oficina dela.

Meu Adorável Advogado [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora