H E L L ' S . G A T E S

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Até que encaremos a morte,

é impossível dizer que se tem

o necessário para sobreviver.

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Assim que eu fechei aquela porta atrás de mim, foi como se o peso do mundo tivesse recaído sobre as minhas costas. O que eu havia acabado de sugerir causaria um verdadeiro pandemônio entre os integrantes da investigação, tinha certeza. Entretanto, apesar de ser extremamente arriscado e incerto, eu não conseguia enxergar qualquer outra alternativa, não havia qualquer outro caminho que eu pudesse percorrer a salvo, não mais.

Um suspiro penoso me escapou os lábios no instante que minha cabeça latejou, fechei os olhos como se isso pudesse de alguma forma aliviar as ferroadas que recebia nas têmporas e segui a passos trêmulos pelo corredor até o meu aposento. Uma dor latente nas costas e na cintura me impedia de andar com uma postura correta. A adrenalina começava a baixar seus níveis, permitindo-me sentir o quão detonado meu corpo se encontrava.

Estava completamente destruído e por esse motivo Yoongi pediu para que eu tentasse tomar um banho, limpar as feridas e esfriar os pensamentos enquanto ele tratava de reunir todos no saguão. Pude ver na sua postura que ele esperava que com isso eu refreasse a minha decisão tão perigosa. Mas eu não pretendia mudar de ideia, só precisava traçar uma estratégia que conseguisse atingir meu alvo, fazê-lo vacilar de alguma forma.

Assim que tranquei meu quarto, fui retirando aos poucos cada peça de roupa profanada e maltrapilha, abandonando os tecidos sujos e desfiados ao longo do caminho até o banheiro. Meus músculos pareciam ranger de tão tensionados e meus olhos ardiam inexplicavelmente. Tentei evitar o espelho, não conseguiria enfrentar meu reflexo ainda marcado pelas insígnias de um assassino. O chuveiro demorou alguns segundos para ser ligado e assim que a água gélida caiu eu me enfiei debaixo da cascata sem pestanejar. Precisava de um choque térmico para poder despertar minha mente tão perdida e sobrecarregada. Um arrepio cortante não demorou para me acometer, de baixo para cima, eriçando os pelos e me forçando a abraçar meu próprio corpo. Deixei a testa encostar no azulejo.

Por trás das minhas pálpebras cerradas se passavam todos os rostos que faziam parte daquela investigação, toda a equipe cruzando meus pensamentos de maneira desordenada, rápida. Lembranças de suas vozes distantes, brincadeiras internas, risadas mais acanhadas, gargalhadas escandalosas... Estava tão perto e ao mesmo tempo tão distante. Palpável, porém turvado por distrações. O assassino era como uma antítese, talvez até uma ironia e essa era a parte mais frustrante de todas.

Eu sabia que seu orgulho consistia justamente em brincar com todos nós, estando tão próximo que era uma afronta, como se ele estivesse dizendo "ei, idiotas, eu posso cuspir na cara de vocês e ninguém vai fazer nada". Era a mesma afronta do Hoseok ao se apresentar na cena do próprio crime e ainda conversar com o delegado deliberadamente, como se fosse alguém inocente. O comportamento estava emparelhado, tão ligado um ao outro que era quase impossível separá-los e eu não entendia, não fazia sentido algum.

Hoseok tem uma nítida necessidade da mãe, um édipo patológico gritante que serviu de gatilho... Não, ainda não era isso. Ele ter matado o padrasto ao lado dela não era suficiente, tinha algo a mais ali, o verdadeiro gatilho estava relacionado a mãe, mas tinha de ser mais forte para poder desencadear toda a ira que ele descontou nas vítimas.

Já o segundo assassino seria apenas um admirador? Isso não tinha lógica. Não teria porque o Hoseok simplesmente ajudar um fã, ele é orgulhoso demais para admitir qualquer um o copiando, ele tem sentimentos de narciso. Deveria ter algo entre eles que, de alguma forma, impusesse algum reconhecimento.

O Silêncio dos InocentesWhere stories live. Discover now