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Cheguei em casa e nem me esforcei em disfarçar, corri para meu quarto, tranquei a porta e desabei na cama. Pouco tempo depois alguém bate na porta.

— Filha — escutei a voz preocupada de minha mãe do outro lado da porta.

— Não quero falar agora — disse controlando meu choro.

— Você está triste? — ela perguntou já sabendo a resposta.

— Muito, mas não quero falar disso agora, me deixa quieta, por favor.

— Mas filha não é bom ficar triste, você sabe que a tristeza atrapalha nossa magia, é a alegria que...

— Vai embora, mãe, por favor! — interrompi minha mãe.

—Tá —ela disse com a voz baixa. — Depois falamos.

Não respondi nada e voltei a chorar. Só saí do meu quarto quando já estava noite. Na sala encarei os olhos da minha mãe e dos meus pais assustados. Tristezas não eram comuns para Braites, era quase um tabu, eles não sabiam nem o que falar para mim, só ficaram me olhando.

Confesso que vê-los quietos foi um alívio. Seria difícil de suportar se ficassem dando conselhos sem sentido nenhum para mim.

— Tô melhor e só estou triste, mas um dia vai passar.

— Entendo — disse meu pai com cautela. — Alguma coisa que podemos fazer por você?

— Não fiquem me pressionando para ser feliz, tá? Eu tenho o direito de ficar triste, e é uma droga ter que explicar isso.

— Sim, claro — disse minha mãe querendo ser colaborativa — Mas o que exatamente aconteceu, Pam?

— Terminei tudo aquilo que nem tinha começado com aquele Laluli incrível.

Meus pais suspiraram aliviados e aquilo me cortou por dentro.

— Estou fazendo o que vocês acham, mas eu tô mal e ele também tá muito mal. E não acredito que gostar de alguém devia ser ruim. Essa regra nem tem lógica. Se tudo que queremos sentir é alegria e amor, nunca devíamos recriminar esse sentimento. Devia ter alguma saída, devia ter... Pois se é amor, se é... — Não consegui terminar minha frase e saí correndo de volta para meu quarto para chorar mais.

Senti alguém sentando na minha cama, abri os olhos e vi as pernas do meu pai sentadas.

— Minha filha, você fez muito bem — ele disse, colocando uma mão em minhas costas.

— Será, pai? — disse encarando-o com minha dor.

— Fez — ele falou firme.

— Tomara que você tenha razão — disse virando o rosto para o outro lado.

— Eu sei que fez, filha. Eu sei que fez — ele falou como se ele próprio quisesse se convencer que toda aquela minha dor fosse justificável. — Não existe um caso de um romance desse que tenha dado certo. O amor entre Lalulis e Braites não é possível. Nós perdemos energia ao ficar do lado deles por uma razão e se quisermos continuar como Braites ficar longe deles é uma necessidade.

Eu levantei e me sentei ao lado dele e encostei minha cabeça no seu peito para abraçá-lo.

— Sabe, pai, ainda acho tem alguma coisa de errado nisso. Eu só sinto que isso tá errado. Se eu gosto dele, eu devia poder ficar perto dele. É só isso.

Meu pai me abraçou forte, mas não adiantou, eu estava inconsolável.

Não devo ter dormido mais que três horas. Continuei quieta pela manhã, mas meus pais não forçaram a barra e respeitaram meu espaço. Saí voando para fora de casa, assim que vi que o bonde voador se aproximava. Coloquei os pés na escola e corri para biblioteca. Peguei um computador do fundão da sala e comecei a procurar tudo que existia sobre Lalulis. Eu precisava saber tudo sobre Raul, queria entender como ele sentia, como era ser um Laluli, se seria mesmo proibido, se haveria alguma alternativa no fim para aquilo que a gente sentia.

#ACREDITE (VENCEDOR DO #THEWATTYS2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora