_ Voltamos mais cedo. Minha mãe vai ajudar sua avó e sua mãe com a comida.

Ele sabia que eu odiava que chamassem Martha de minha avó, mas fazia de propósito. Já estava preparada para continuar nossa discussão habitual quando Kimmie interveio e acenou.

_ Kimberly. Meu nome.

_ Sim. Essa é a Kimmie, minha melhor amiga.

Taylor se apoiou no píer e, fazendo força com os braços, se projetou para cima e deu um beijo do rosto dela.

_ Taylor. Prazer.

Kimmie olhou pra mim e sorriu para ele, que saiu andando. _ Nos vemos mais tarde!

A partir deste momento, Kimmie não parou de falar que eu precisava ter mencionado que o beijo roubado do verão passado tinha sido obra de um menino fofo demais. Continuou falando inclusive dentro do banho.

Eu não aguentava mais.

_ Eu achei mais importante dizer que ele é meio metido, já te expliquei. - falei alto para que ela ouvisse mesmo com o barulho da água, enquanto experimentava meu vestidinho vermelho na frente do espelho.

Kimmie não respondeu e desligou o chuveiro. Dois minutos depois, abriu a porta de uma vez, com a toalha enrolada na cabeça. _ É sério! Ele é bonito!

Pulei de susto. _ Jesus, Kimmie!

Ela se sentou na cama, com as pernas cruzadas.

_ Sério. Estou chocada que você não falou que ele é essa gracinha.

_ Mas ele não era! Digo, não é! Continua não sendo. Argh! Por que você não para de falar disso?

Kimmie apertou os olhos e fez uma bola de chiclete.

_ Você tem ciúme dele? - disse ao estourar a bola.

_ Deus, não! Já te falei mil vezes.

_ Mas ele te beijou, né? Não sei...

_ Um selinho de nada! Não. Não tenho ciúme. Não gosto dele. Inclusive, divirta-se com o Taylor se quiser. Quem sabe assim ele para de pegar no meu pé.

O rosto de Kimmie se iluminou, como uma criança que ganha o que pediu no Natal.

_ Sério?

Rolei os olhos e me virei pro espelho de novo. _ Eu nem acho ele bonito.

_ Você é cega!

E ela ia se meter numa enrascada.

_ Ele é um saco. Não diga que não avisei.

O churrasco de 4 de julho foi uma das coisas mais legais que já tínhamos feito na praia. A comida estava ótima, e eu tinha uma amiga pra conversar, ainda que ela tivesse ficado completamente obcecada. Ao pôr-do-sol, fomos para a praia ver os fogos. Ike nos chamou para ficar com uma turma que eu conhecia apenas de vista e de jogar esportes. Mas quanto mais melhor, certo?

Nos sentamos todos na areia, em cima de toalhas e cobertores e assistimos ao espetáculo. Kimmie se levantou para buscar algo para beber. _ Coca-cola. - ela jurou pra mim e eu acreditei e agradeci. O pessoal mais velho bebia e eu mesma já tinha tomado cerveja, mas se voltássemos para casa com qualquer traço de álcool no sangue, minha mãe farejaria e estaríamos mortas. Lembrei do que tinha feito com Taylor no ano anterior e ri comigo mesma, ao mesmo tempo que sentia os olhos encherem de lágrimas. Eu sempre me emocionava com fogos de artifício.

_ Gostando? Cadê a Kimmie?

Era Taylor se jogando no chão ao meu lado ao se sentar.

_ Foi buscar refrigerante. - continuei olhando para frente e tentei não piscar. Era o que me faltava ele me ver chorar.

Pelo canto do olho vi ele sorrir. _ É bonito mesmo.

_ É como se o céu ganhasse todas as estrelas que a gente não consegue ver.

_ Nunca pensei isso. Mas parece mesmo.

Nossos corpos estavam coloridos de luzes azuis, vermelhas e brancas. Olhei pra ele, com o cabelo preso e os olhos atentos. A Kimmie tinha razão. Ele era bonito.

A constatação, somada ao fato de que ela ia voltar a qualquer momento, e eles começariam a fazer gracinhas um com o outro, e eu teria que ver e depois aguentar ela narrando tudo de novo pelas próximas horas ou dias, me irritou. Fiquei nervosa o suficiente para odiar a situação toda. Kimmie chegou no segundo seguinte, e eu me senti culpada. Ela era mesmo a minha melhor amiga, e eu gostava mesmo dela. Mas naquela hora só queria muito que ela não estivesse ali.

Me levantei na hora em que ela se sentou ao meu lado.

_ Já vai? - Taylor perguntou.

_ Eu volto já já. - pisquei pra Kimmie, que se moveu um pouco para o lado, ocupando parte do espaço em que eu estava sentada.

Achei um lugar bem espremido entre Ike e um outro cara que não sabia o nome. Ele gostou de me ver, passou o braço nos meus ombros e me
apertou ligeiramente antes de soltar.

Me esforcei para me concentrar no show de luzes e nas conversas a minha volta. Mas não aguentei de curiosidade e, um tempo depois, quando os estouros começaram a rarear, olhei para atrás, para onde tinha deixado Kimmie e Taylor. Eu sabia que o que veria, e ainda assim a cena não me agradou. Os dois se beijavam. Um beijo de verdade. Nada a ver com o que ele havia feito no outro ano.

Castelos de AreiaWhere stories live. Discover now