IV

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Ele abraçou o corpo com as mãos, o sorriso esperançoso crescendo na face, esperando, esperando, as pernas já adormecidas enquanto a nevasca aumentava. Usou todo o seu estoque energético para focar na direção a seguir, o travesseiro amarelo, o cobertor axadrezado, sim, ele já via as listras vermelhas saltando aos olhos, o feltro peludo por baixo dos dedos, o pijama de flanela acalentando as canelas...

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Manhã seguinte, tininte, os jornais regurgitavam a reação – era o fim da paralisação – tudo transitava para a normalidade – escolas, hospitais e comércios retomariam sua atividade normal. Num call center normal, numa dentre tantas outras ruas paulistanas, num segundo andar de janelas perfeitamente normais, divisas, mesas, fios e cadeiras, um só lugar padecia, descontente, e dia após dia aguardaria, sem garantia, deslocado no espaço, à revelia, com uma cabine espectral, distal e – anormalmente – vazia.


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Amanda Reznor é escritora, professora, pesquisadora, gamer, apresentadora do Criador de Mundos na Rádio Geek e mais uma dentre os milhões de brasileiros afetados pela crise.

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