Capítulo 28

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- Você vai amar o que eu acabei de encontrar, garota do casaco vermelho – um sorrisosombrio toma conta de sua face – o endereço da unidade em que sua irmã passou atrabalhar. 

Meu passado é como uma grande força tentando abrir novamente a porta fechada pormim. E quase consegue. Nicholas percebe como estremeço na bancada, então colocasua mão em cima da minha. Meu corpo se aquece novamente. Estou pronta. Estoupronta para matar. 

Quando Nicholas me encara, percebo que ele também sabe que dessa vez será diferente.Não podemos mais arriscar entrar lá e ao mesmo tempo, tenho certeza que ele sabe quematar o gerente, dessa vez, não será suficiente. Ele apenas entrará para ter certeza que éali e que Katherine não está lá. Não quero acabar matando minha irmã. Sei que pode seruma atitude egoísta, mas preciso com todas as minhas forças ver aquele localdesmoronando. Só assim, tudo acabará por completo e poderei continuar minha jornada. 

Paramos o carro em um posto perto da casa de Scarlet. O local não é muito longe dali,nem sei como não pensei nessa possibilidade. Andamos pelas ruas tão conhecidas pormim até chegarmos ao local. É bem mais reservado. Nem se parece com um clube destrip. Porque as strippers foram mandadas para a outra unidade. Pensei que Glass fossemenos ingênua. Por aqui eles só pagam o serviço e recebem regalias. É aqui ondeKatherine passa a maior parte da madrugada. Passava. Nessa casa quase caindo aospedaços. 

Nicholas pede pela minha aprovação. Como se eu fosse frágil. Assinto com a cabeça.Ele entra no local. Assim que sai, assente, Katherine não está lá. É hora de agir. 

Pego o galão de gasolina e confiro os fósforos no bolso. Como a casa é feita de madeira,não demorará muito para que o trabalho seja feito. Há pessoas "inocentes" ali, eu sei.Mas acho que, nesse caso, os fins justificam os meios, não? 

Dou a volta no local enquanto despejo a gasolina ao redor. Não penso em nada. Esqueçotudo o que aconteceu com Scarlet. Apenas preciso seguir uma única missão. Acabarcom esse lugar e acabar com tudo. O sofrimento de Katherine nunca poderá ir embora,mas ela será libertada. Ela precisa ser libertada. Eu preciso salvá-la. É a última coisa quepenso antes de acender o fósforo e jogá-lo na casa. 

Quando a fumaça começa a subir junto com as chamas, eu olho para uma das janelas epercebo alguém quase igual a mim. Mas não é um reflexo, porque esse alguém corre atéa janela e nem tem tempo de pedir socorro. É, Katherine, a sua irmã é a Garota doCasaco Vermelho e você vai morrer queimada agora. 

O mundo começa a girar em câmera lenta. Deixo que a porta se abra, mas preciso mecontrolar. Quero sair correndo e entrar naquele fogo pois uma parte de mim conseguiupensar que seria melhor deixa-la ali. Com Katherine morta eu poderia fugir de verdade,poderia começar uma nova vida, pois ela, de certa forma, é a única que ainda me prendeaqui. Mas ela é minha irmã. Tudo começou por causa dela e só acontece por causa dela.Porque Kath fez com que o fogo da justiça acendesse em mim. Não posso deixa-lamorrer. Não agora. Mas não há escapatória. Nicholas disse que ela não estava lá.Nicholas. Nicholas. Seu olhar parece tão chocado quanto o meu. A diferença é que euestou morrendo por dentro. As chamas que me construíram agora me desconstroem edeixam a pior parte do meu eu a mostra. Deixam-me nua. 

- Você disse que ela não estava na casa – grito. 

- Ela não estava. Ela não estava!! 

- Você conferiu o quarto, Nicholas? Nicholas! Me responde! – começo a correr de umlado para o outro enquanto os gritos vindos da casa tomam conta de meus ouvidos. 

Gritos do gerente. Gritos dos homens que abusaram de minha irmã e de mim. Gritos degarotas inocentes que estavam sendo abusadas. Gritos de Katherine. Gritos da minhairmã. E os meus gritos, se unindo ao coro. 

- Eu não sei, merda. Falaram que não tinha ninguém com o nome lá! 

- E você confiou em um recepcionista, cafetão ou sei lá quem era aquele merda?! Eudisse pra você conferir, Nicholas. Eu disse pra você conferir – dou um soco em seurosto, ele deixa, faz ainda com que fique ainda mais a mostra – me da a merda do seucelular, vamos ligar para a polícia. 

- Você ta louca? Eles vão descobrir quem você é! 

- Nicholas, acho que mesmo com todo esse tempo você não aprendeu uma coisa, não é?Então vou fazer questão de te explicar. Minha irmã é a razão de tudo, sem ela nada temmotivo. Preciso salvá-la, Nicholas. Prefiro ser torturada ao ver a minha pequena sendomorta pela merda que eu fiz. 

- A merda que você fez? Você estava tentando salvá-la!! 

- E agora ela vai acabar morta, que engraçado, não é?! Me da a merda do telefone – eleentrega o celular em minhas mãos. 

Fecho os olhos. Respiro. Sei o que vai acontecer quando eles me encontrarem. Sei queserei torturada e provavelmente morta. Mas nada disso importa mais. Disco. 190. 

- Scarlet – Nicholas me chama, fazendo com que eu olhe para a porta. 

Deixo o celularcair.Há um homem com um rosto familiar segurando Katherine pelo braço. Ainda escuto osgritos. O rosto dele, os olhos, o cabelo. E então me lembro desse mesmo homem emjantares feitos pelo meu pai, seus olhares que percorriam os nossos corpinhos infantis. 

- Seu pai ficaria orgulhoso de saber que a filhinha inofensiva transformou-se em umaassassina. – ele abre um sorriso incrivelmente nojento – ele gostava do perigo, daprovocação. Mas quem diria, não é? Scarlet é a Garota do Casaco Vermelho. – eleaproxima uma faca do pescoço de Katherine 

– Você deve estar se perguntando comoconsegui encontrar você. Bom, não foi difícil. As notícias correm rápido. Soube quevocê e seu amiguinho estavam indo para as casas de show e matando cada gerente. Nodia em que tudo começou, Scarlet, você se esqueceu? Acho que estava afobada demaispara prestar atenção. Mas entrei no escritório de seu pai minutos depois e te vi fugircom o casaco vermelho. Eu sempre soube, Scarlet. E sempre foi o nosso segredinho –sua risada me da vontade de vomitar – Não contei para ninguém porque queria colocaras mãos em você, primeiro. A recompensa da polícia é boa. Mas um sequestro poderender bem mais, não é?! Está ouvindo esses gritos? São gritos de gente inocente. Genteque nem sabia que isso iria acontecer. Então me responda você, Garota do CasacoVermelho, isso é realmente justiça? 

- Solta a minha irmã. – eu rosno. 

- Não até você se entregar. 

- Você vai morrer, desgraçado – Nicholas pega uma pistola do bolso. 

- Se eu fosse você, não faria isso. Há pessoas assistindo e, com um tiro, todos ossegredos da Garota do Casaco Vermelho podem vir a tona. Duvido que depois de veremas imagens das garotas de programa mortas e tantas outras pessoas inocentes que vocêmatou, a sociedade ainda te verá como uma heroína. Você nunca foi isso, Scarlet. Vocêé uma assassina e gosta disso. 

- Abaixe a arma, Nicholas. Eu vou me entregar. – caminho em direção ao homemenquanto ele solta minha irmã.Nessa transição, meus olhares se cruzam com o de Katherine. Posso ver a angústia econfusão em seus olhos e posso apostar que ela consegue ver o desespero nos meus. E aculpa. Eu me sinto culpada, não? Eu sempre fiz justiça, eu não devo me sentir culpada.Nossas mãos se encontram por milésimos de segundo e tudo o que consigo fazer émurmurar um "me desculpa", mas não sei se ela ouviu. Então olho para Nicholas emordo os lábios para que as lágrimas não venham. Meu olhar pede para que ele cuide deKatherine e pelo menos tente fazer com que ela entenda. Embora, novamente, nem eusaiba quem sou. Tudo fica escuro quando o pano é colocado em minha cabeça. Os gritoscessam. O plano foi executado com perfeição. Ninguém conseguiu escapar. Ninguémque não fossem Katherine e o sócio do meu pai morto.

A Garota do Casaco VermelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora