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Ter de me explicar pra Perol, Charles e Juniper foi, definitivamente, uma das coisas mais complicadas que fiz. Contei que acabei andando demais e me perdi na faixa onde a praia encontra as árvores. Passei todo esse tempo, sozinha e com frio, tentando encontrar o caminho de volta e acabei tropeçando, o que fez o ferimento na minha cabeça.
Não me sinto confortável em mentir pra eles mas sei que é necessário.

Depois de terminarmos a nossa conversa, subo as escadas e vou pro quarto. Por mais surreal que isso pareça, ontem conheci uma sereia. E não pretendo contar pra ninguém já que a minha conversa com Nonahir foi extremamente significativa.

Hoje decidi que vou tomar ação e não esperar que nada venha até mim.

Vou buscar respostas sobre meu passado.

Me apresso, pegando um casaco e descendo as escadas rapidamente. Abro a porta mas sou interrompida por alguém.

— Pra onde você tá indo?— me viro e percebo que é Charles. Penso em inúmeras respostas mas nenhuma me serviria, então permaneço quieta.— Você quer conversar?

É tudo que mais quero. Eu desenvolvi um laço muito forte com essa família e uma das coisas que mais quero é poder conversar com eles sobre tudo o que sinto. Sei que não é nada absurdo mas não sei como posso explicar todo esse caos que existe na minha mente.

Balanço a cabeça em afirmação e caminhamos até a praia. Achei que ver esse lugar depois de ontem me daria ânsia de vômito mas acabou me relaxando. Talvez eu já esteja ficando acostumada.

— Onde estão a Perol e Juniper?— digo, tentando desviar o assunto.

— Elas receberam um telefonema depois que você subiu e saíram correndo. Deve ser importante. — ele disse, sentando na areia e faço o mesmo. — Sol, o que você tá sentindo?

Olho pra ele e tento decidir o que falar. Eu deveria ser aberta e contar que me perturba o fato de não saber quem sou? Sei que não posso falar sobre tudo mas alguém pra escutar meus lamentos é uma das coisas que mais preciso nesse momento.

—Eu não quero acordar todas as manhãs sem saber quem sou. Eu sinto que só posso existir quando souber o que realmente aconteceu comigo, entende? E sei que ficar parada é a pior escolha pra fazer. Tenho que procurar qualquer coisa, mesmo mínima, que me de um sinal de que to no caminho certo. —falo, olhando pras ondas e me lembrando de tudo que Nonahir que disse ontem.

—E onde exatamente você quer procurar?— ele me olha, mas não tiro os olhos do mar. Eu ainda não estou segura o suficiente para contato visual.

—Esse é o problema, Charlie, eu não faço a menor ideia.

— Então você ia sair e ficar andando pela ilha sem rumo nenhum? Não é um bom plano.— ele levanta, esticando a mão.— Eu nasci nesse lugar e, se me permitir, posso te ajudar.

Me levanto, ignorando sua mão.

—É claro que pode me ajudar. Odiaria ter que andar sozinha nesse lugar cheio de gente. Por qual lugar você pretende começar?

—Pelo lugar que mais tem informação em toda essa ilha, a biblioteca.

Sorrio e olho para ele. É, talvez contato visual não seja tão ruim como pensei.

Entramos na casa e espero Charles pegar uma mochila para irmos andando até a biblioteca.

Me impressiono ao chegar lá.

ALONEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora