Capítulo 20

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Alguns dias depois de ter sido capturado por Kane, Arthur seguia com o grupo em direção à Kaniirh, para cortarem caminho em direção à Myran. Ele sabia que a passagem por ali exigia muito mais cuidado, pois era conhecida como reduto de bandidos, saqueadores e os mais variados tipos de picaretas que entravam clandestinamente no reino, seja pelas passagens nas minas, que eles conseguiam encontrar, ou vindo pelo Azure, se sobrevivessem a sua fúria. Concordava com Kane que eram um grupo bem armado e que pensariam bem antes de atacá-los, e além de tudo tinham um mago entre eles. Mas, qualquer um daqueles homens gostaria de ter como refém um dos filhos de Elran, quem sabe os dois. Teve tempo o suficiente para conhecer um pouco melhor os dois. Kane não lhe parecia mais o homem divertido que vira a algumas noites atrás. Estava quase todo o tempo quieto, e a única pessoa capaz de fazê-lo falar era o irmão. Noah era mais falante, mas não era exatamente gentil. Ele lhe fez um breve interrogatório um pouco antes de virem, mas nada que lhe perturbasse. A verdade é que achou o príncipe herdeiro um pouco distraído e preocupado em partir logo. Na noite anterior ele e Kane finalmente o chamaram para uma conversa. Quando entrou na sala principal da casa, estavam lá todos os oficiais, alguns conferindo equipamentos. Um deles lhe entregou seu arco, e suas flechas, e ele notou que havia marcas de runas em todas elas.

- Pedi ao Niel para encantar sua arma - Kane disse, aproximando-se. - Só espero que você não use contra nós. Um tiro desses pode incendiar o alvo.

- Lyra disse que você foi de grande ajuda em Myran. Gostaríamos que nos acompanhasse ao mosteiro - Noah disse, vestindo a jaqueta militar preta com detalhes dourados e em seguida o manto vermelho leve, que ficava somente sobre o ombro direito.

Não esperava por aquele convite e tentou pensar rapidamente sobre o assunto, já que parecia que Noah e Kane queriam ouvir uma resposta imediata. Poderia ser reconhecido por alguém da Guarda no caminho para Myran, pois seria quase certo que encontrariam membros pelo caminho. E não queria que Lyra interpretasse de forma errada sua ida à Myran. Ela não sabia nada a seu respeito. Por outro lado, havia ouvido falar sobre a forma como ela se arriscou nas montanhas rochosas, e estava realmente preocupado.

- Algum problema? - Noah perguntou, ainda esperando por uma resposta.

- Não... - ele respondeu, incerto.

- Mas... - Noah parecia querer uma resposta simples e direta naquele momento.

- Eu só não esperava pelo convite, Alteza - ele justificou, ainda pensativo.

- Tem um cavalo?

- Cheguei aqui em um - ele respondeu e viu Kane dar uma risadinha, e Noah entendeu que ele havia consumido com o animal, então olhou sério para o irmão.

- Precisamos de velocidade, arqueiro. Vi usar um dos nossos - o príncipe disse, seguindo porta afora com a mochila. Kane e outro oficial o seguiram, e lá Arthur viu que montaria um cavalariço com três cavalos, para que um deles o escolhesse. Kane disse que se aproximasse dos animais e esperasse, mas isso nem foi preciso. O garanhão efyrino marron veio ao seu encontro e como se fossem velhos conhecidos, permitiu que ele o montasse. Kane olhou desconfiado, mas ouviu Noah comentando que era um excelente cavalo.

Arthur experimentou a montaria nos primeiros quilômetros e espantou-se em como era veloz sem ao menos apertar o passo. Naquele ritmo, se não tivessem problemas no caminho, estariam em Myran ao anoitecer. Passaram quase sem que percebessem sua presença por Kaniirh. Viu Noah subir a encosta que levava à passagem para a Estrada do Prado Sonolento, exigindo de seu corcel branco, seguido pelos demais. Ele queria evitar que ficassem por ali muito tempo, pois a paisagem e a vegetação tinham realmente o poder de deixar qualquer um cansado, às vezes levando dias para passar por poucos quilômetros. Assim que deixaram o prado para trás, desmontaram para um gole de uma poção feita a fim de evitar qualquer efeito tardio da magia local, e seguiram adiante. Ele não sabia se era segurança de que ninguém os alcançaria facilmente, ou realmente pressa, mas seguiram no ritmo dos príncipes até o anoitecer, e não poderia sequer reclamar o cansaço. O cavalo efyrino era diferente de tudo que já havia visto, não era à toa que eram montarias da realeza. Passaram rapidamente pela cidade, onde já podiam ouvir a música e a conversa de viajantes pela rua. Noah rodopiou com o cavalo a frente deles e deu mais um estirão pela estrada que levava ao mosteiro. Kane acirrou o corcel negro e saiu na caça do irmão.

Exibidos, pensou Arthur, e em seguida os seguiu, alcançando-os bem onde terminava a subida, seguindo pelos portões do mosteiro que estava iluminado ainda que escondido pela cerração.

Viu alguns aprendizes aguardando-os para ajudar com os cavalos e pertences, e o mesmo Elder que acompanhava Lyra quando a encontrara pela primeira vez estava lá para recebê-los. Nunca havia entrado no mosteiro, claro. E mesmo tentando disfarçar o quanto estava impressionado, com certeza isso deveria estar meio óbvio. As colunas de pedra marmórea, paredes de um branco quase cinza e ricas luminárias. Haviam arcos de passagem para os corredores e as escadas de um cinza muito claro, com corrimões de ferro trabalhado.

Então foi ali que ela passou todos aqueles anos até se tornar Arquimaga, falou para si mesmo.

Ouviu o Elder falando alguma coisa sobre o General que os estava aguardando no próximo salão, e viu uma porta abrir-se à presença deles. Viu um homem numa farda tradicional holt, elegante, mas bem intimidador, aguardando por eles. Ao seu lado estavam Lyra e Vivian. Noah trocou um abraço afetuoso com o homem e pôde vê-lo beijar as mãos das moças. Percebeu que os oficiais estavam entrando em formação e não teve sequer tempo de voltar quando sentiu a mão de Kane no seu ombro, levando-o para frente de Lyra. Se não estivesse de capuz, certamente ela teria visto que ele ficou sem graça, e perdido no meio daquelas formalidades. Ela o olhou, esperando que tirasse o capuz, e assim o fez. Primeiro ela meio prendeu a respiração, depois sorriu.

- Arthur. - Ela se aproximou e o abraçou logo em seguida.

O arqueiro sentiu todos os olhares da sala em cima dele. Mas não se importou, estava feliz em vê-la. Não lembrava de algum abraço na vida que o tivesse deixado tão feliz até aquele momento como o dela. Deu-lhe a impressão que estava onde deveria estar.

Noah notou o canto da boca de Kane tremer enquanto viu o abraço dos dois graimes, e não se recordava de ter visto isso em algum momento antes. Durante o jantar que fora oferecido pela Arquimaga, ele realmente foi o que menos falou. Parecia que a presença de Arthur o incomodava, mas não entedia o porquê. Não havia percebido nada de diferente entre os dois. Parecia mais uma grande amizade. Talvez ela só estivesse impressionada com a habilidade dele com o arco.

Tomou mais um gole de vinho e voltou à conversa com o General e os oficiais.

Lyra estava sentada entre Vivian e Arthur e os três conversavam animadamente, mas não podia evitar prestar atenção nas conversas alheias. Com certeza Sirius não daria maiores detalhes sobre o calabouço. Seus convidados teriam uma boa noite de descanso e uma reunião no dia seguinte. Particularmente, estava ansiosa para voltar lá. Sua intuição lhe dizia que o cetro estava lá. Lyra percebeu que estava sendo observada, e nem precisava olhar para saber que era Noah. Ainda devia algumas explicações ao príncipe, mesmo porque ele estava ali atendendo a um pedido de Sirius, e seu. Olhou discretamente para o príncipe, que ainda olhava em sua direção, e infelizmente o achou ainda mais bonito do que da última vez que o viu. Ele sorriu, ela sorriu de volta, mas tinha certeza absoluta que no dia seguinte estaria lhe rosnando.

Loyalty - Reclamada Pela Realeza - Duologia AmbarysOnde as histórias ganham vida. Descobre agora