Capítulo VI

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A noite chegara rápido e os guardas subiam a torre para buscar o ruivo na cela. A sua espera estava a multidão sedenta para ver seu fim, portando tochas, gritavam ofensas para o garoto.

Rirk caminhava de cabeça baixa subindo a escada do palanque de madeira onde estava a forca. Um soldado o ajudou a subir num banco alto e ajeitou a corda grossa em seu pescoço enquanto um homem gritava para a plateia.

— Esse traidor será enforcado hoje! Alguém tem alguma objeção a fazer? — Disse o executor. Na saída de Berton estava Alon com uma trouxa nas costas ao longe apenas olhou o irmão e com um olhar de ódio falou.

— Por sua culpa eu sofri Rirk — Ele virou-se indo em direção a estrada de saída da cidadela e completou — Que seu fim seja doloroso e demorado... Nos vemos na terra dos mortos, Irmão! — Gargalhou seguindo seu caminho.

******

Alon olhava para trás de tempos em tempos, vendo as altas torres da cidadela Berton, ficarem cada vez menores. Pagou por suas escolhas, tendo que largar tudo para trás, mas em seu coração sentia-se livre e, enquanto caminhava sorria constantemente. Uma humilde carroça puxada por dois cavalos negros aproximava-se de Alon vindo pelo caminho. Ao chegar ao lado do jovem, diminui a velocidade. Um velho homem vestindo um manto vermelho fitou o jovem que mantinha os olhos para o horizonte estrelado.

— Não acha perigoso viajar sozinho de noite meu jovem? — Alon mudou seu semblante largando o sorriso e cerrando o cenho ao olhar o velho e retrucou.

— Quem se importa?

— Não está mais aqui quem perguntou — O velho deu de ombros — Atitude louvável a sua lá em Berton, parabéns garoto. — Alon se surpreendeu e de imediato pensou:

"Será que ele sabe sobre meu pai?"

— Do que você está falando velho?

— Seu irmão! Você o entregou não?

— Sim... Ele mereceu.

— Eu te entendo, também tive uma cruz dessas em minha vida, mas são águas passadas — O velho sorriu — Não me apresentei me perdoe, mas sabe que um homem da minha idade, já não tem uma memória tão boa não é jovem? — Alon sorriu da piada — Me chamo Valdo, ao seu dispor.

— Sou Alon.

— Belo nome Alon... Você se interessa por magia meu caro?

— Sempre tive vontade de aprender, mas os livros da cidadela não explicavam muito.

— Então hoje é seu dia de sorte, caso queira posso lhe ensinar.

— Como um velho assim vai me ensinar algo? — Alon gargalhou questionando.

— Que preconceito jovem, não deveria, mas vou lhe mostrar uma coisa já que não acredita — Valdo pegou o cajado que estava encostado ao seu lado sobre o assento da carroça e apontou para uma rocha enorme ao lado da estrada. O velho proferiu algumas palavras fazendo a pedra púrpura na ponta de seu cajado brilhar e disparar um feixe de luz que seguiu na direção da rocha. A Luz trespaçou a grande pedra fazendo-a explodir no mesmo instante. Alon arregalou os olhos sorrindo de empolgação e olhou para Valdo dizendo:

— Onde eu assino mestre? — Valdo gargalhou respondendo.

— Vamos Alon suba! Temos um longo caminho pela frente — O jovem sentou ao lado de Valdo e seguiram pela estrada.

******

Rirk já com a corda em seu pescoço olhou em volta, notando pessoas que choravam por ele e as que torciam pelo seu fim. Ele fechou os olhos aceitando o que viria a seguir. Um soldado acenou para que fosse puxada a alavanca. A estaca de madeira rangeu abrindo um alçapão aos pés do ruivinho, fazendo o banco cair. A corda esticou apertando seu pescoço e lhe tirando o ar enquanto o pequeno se debatia. Tudo já ficava distante, o som das pessoas gritando, a sua visão escurecia e um silêncio tomava conta de tudo, mas em meio a aquela agonia, a voz que lhe assolou na noite que fora chicoteado e quando era levado para julgamento, tornava a soar.

— Deixe-me ajudar garoto! Eu posso tirar você daqui.

— O que um menino tolo como eu vai fazer vivo? Ser enganado novamente e morrer de qualquer jeito... Me deixe — Rirk respondia em pensamento.

— Vai deixar seus pais sofrerem só porque você é um covarde?

— Eu não sou covarde! Me tira daqui que lhe provarei... — Rirk parou de se debater e ao verem aquilo a multidão vibrou comemorando.

— Achei que não iria permitir! Eu assumo daqui garoto... Para sempre quero dizer — A voz na mente do garoto gargalhou e se calou em seguida.

A alegria das pessoas a sua volta cessou quando uma gargalhada grave soou alto, enquanto uma brisa soprava forte. A multidão se calou buscando de onde vinha aquele som sinistro, foi quando viram Rirk balançando seu corpo de um lado para o outro com sua mão direita segurando a corda que o enforcava. Em seguida ele cessou a gargalhada e com uma força descomunal puxou a corda fazendo a estrutura de madeira da forca despedaçar-se e caiu em pé sobre o palanque. As pessoas ao verem a cena começaram a gritar desesperadas, fugindo do local, mas quando tentaram sair se chocaram com uma espécie de barreira invisível.

Rirk mantinha um sorriso sádico no rosto, enquanto caminhava para beira do palanque, onde levantou a cabeça revelando veias negras em sua testa e ambos os olhos brancos, sem vida.

— Vocês não gostaram do espetáculo? Não sorriram enquanto esse corpo morria? E agora fogem como um bando de ratos? Não consigo entender por que após séculos vocês nunca mudam... Estão sempre torcendo pela derrota uns dos outros, agindo pelo ódio e se destruindo — Rirk apontava para a multidão que temerosa assistia — Nem a minha corja é assim. Agora vocês vão festejar comigo, já que querem tanto a desgraça, eu posso ajudar! — Rirk pulava caindo ao chão onde as pessoas fugiam tropeçando e pisoteando umas às outras, enquanto ele caminhava lentamente em direção a elas.

Alguns guardas que também ficaram presos ali e brandiram suas espadas indo de encontro ao ruivo. O primeiro pulou caindo com a lâmina na direção do garoto que, apenas levantou sua mão direita segurando a longa espada com a ponta de seu dedo indicador e, logo em seguida desferiu um soco no peito da armadura do algoz amassando-a e jogando-o para longe. Ao ver aquilo os outros guardas recuaram ficando mais atentos. Rirk então se abaixou pegando a longa espada do soldado ao chão e com sua mão direita apontou para os guardas.

— Quem será o próximo? — Questionou gargalhando.

DEGUSTAÇÂO - As Sombras de ArkronOnde as histórias ganham vida. Descobre agora