problem

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5.

"Os meus pés calcavam a madeira rangente lentamente, quase sobrevoando a mesma, com a leviandade de um fantasma. Mas não. Era eu, em carne e osso.

Eu não conseguia resistir ao inevitável, apesar de a minha consciência tentar por um travão ás minhas ações. Eu sabia que debaixo daquele alçapão ia estar aquela rapariga, sabia que ela estaria a entrançar o seu cabelo, sabia até que ela usaria um vestido de noite branco, que se confundia com o nevoeiro típico. Mas eu continuava a andar. Eu continuava a abrir o alçapão. Continuava a procurar a tal menina. Continuava a vê-la de costas para mim. Continuava a chamá-la. E ela continuava a virar-se lentamente para mim, quase mostrando a sua cara."

Quase, até eu acordar. Como sempre.

Tentei adormecer, mas soltei um grunhido, quando o telemóvel começou a tocar a Robbers dos The 1975, a minha banda favorita, indicando que já eram horas de estar acordada.

Nunca pensei em me sentir tão mal por ouvir aquela melodia.

Eu não me queria levantar. Nesse momento foi como se uma rajada de pensamentos fosse empurrada para dentro da minha cabeça, o bem conhecido choque da realidade. Então começaram as preocupações, obviamente. Comecei a pensar no Harry. De tantos assuntos, problemas, questões e tópicos, o problema que me apareceu como principal foi o Harry. Pode-se dizer que estava a perder a réstia de sanidade que ainda tinha. E de repente eu não conseguia parar de pensar nele e no que aconteceu.

Mais no que aconteceu talvez. Ou mais nele.

Eu. Não. Sei.

Levantei-me preguiçosamente, saltitando para o roupeiro. Eu não costumava usar roupa curta para a universidade, mas havia uma saia nova que queria vestir, por isso, depois de fazer a minha higiene matinal, vesti-a, conjugando-a com um top floral e ondulante e um casaco.

Estes últimos dias foram diferentes. Segunda-feira, quando é suposto eu ir para a revista, o Harry nem apareceu por lá, ou, pelo menos, andou a evitar-me, porque eu não o vi uma única vez. Acho que apenas posso agradecer a Deus por isso. Na terça foi um dia normal de faculdade, ou seria, se a minha atenção estivesse na matéria. Mas o assunto Harry Styles, nem por um momento deixou de encher a minha mente. Como é que é possível?

Ugh.

Os meus sapatos brancos com sola alta pisaram o chão apressadamente, acompanhando a minha corrida, enquanto eu arranjava tudo e saltava o pequeno almoço.

Vi que ainda faltava meia hora para eu ter de sair de casa, assim, decidi fixar-me no meu cabelo. Como fiquei indecisa entre dois penteados, tirei foto dos dois e mandei-as ao Liam e á Em.

Fiquei ás espera de uma resposta enquanto lavava os dentes.

E obtive-a. O Liam, também conhecido como o meu único amigo rapaz nesta cidade de malucos, quase me matou virtualmente e mandou-me ir dar uma curva, ainda alegando, e passo a citar, "EU NÃO SOU GAY". Estereótipos.

Felizmente, Emma serviu de ajuda, escolhendo o segundo penteado que constava em basicamente ondular o meu cabelo e prender algumas mechas atrás.

E foi exatamente isso que eu fiz.

Tinha combinado com o Liam para ele me vir buscar, já que a universidade era um destino mútuo e andar de táxi começava a ser cansativo e caro.

Alguns minutos depois de dar os últimos retoques no meu cabelo, o meu telemóvel vibrou.

Saí de casa, trancando-a, e dirigi-me ao rés do chão do edifício onde vivia. O Liam esperava-me, batendo com os dedos no volante. Entrei no carro, sentando-me no lugar do pendura.

troublemaker // h.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora