o i t a v o

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Jimin era meses mais velho, não chegava à um ano; contudo, havia uma época em que ele entitulava-se o responsável por nós, um milhão de anos mais sábio, pois possuía um número superior ao meu em sua certidão de nascimento. Por esta razão, não me recordo exatamente de nossas idades em minhas lembranças adormecidas, ele poderia ter um ano à mais, talvez, a mesma idade.

Entretanto, na última vez que o vi, possuíamos cinquenta anos, e mais em breve, ele faria cinquenta e um; seus cabelos tornaram-se inteiramente brancos, como flocos de neve.

Já os meus, permaneciam negros, coloria-os toda semana, buscando mascarar a velhice de forma desesperadora.

As bicicletas amarelas eram relíquias, tão preciosas quanto memórias e fotografias. Partilhávamos uma garrafa de vinho à conversar sobre nossas esposas e suas manias corriqueiras, rindo quando não víamos graça alguma.

Jimin tocou meu rosto pela primeira vez em anos, estudando-o pragmaticamente. Com álcool quente em nossas veias, nossos corações numa sintonia infinita e os lábios unidos, confessamos:

"Eu sempre te amei."

Ele sorriu, um sorriso que não via há décadas; os lábios brilhantes e pigmentados, fora a última vez.

Àquela noite de sexta-feira, ele adormeceu em meus braços enquanto cantava Petti LaBelle, frente à lareira da sala de estar. Seus dedos cansados fizeram uma leve carícia em minhas mãos calejadas antes de pararem, entregues ao sono.

Na manhã seguinte, Jimin não despertou; sua respiração cessara, os batimentos cardíacos também. Ele se foi com o final da primavera, juntamente com as folhas verdes e jasmins amarelados; deixou para trás sua esposa, dois filhos e um amor nunca vivido.

Eu compreendi, todos nascemos para morrer, mas... Fora tão injusto. Nossas vidas inteiras traçadas de maneira errônea quando poderíamos pentencer um ao outro, poderíamos ser felizes, cheios com a essência de nossas almas interligadas.

Mas optamos por um mundo vazio, infeliz, incompleto. E desde que ele se foi, restaram apenas memórias, aquela nossa bicicleta amarela e um austero romance precário, existente somente em mim.

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e esse foi o final, frustrante, eu sei, mas eu queria escrever algo sobre pessoas que se amam e não têm coragem para viver o que sentem. o triste é que isso acontece com mais frequência do que deveria, muitas pessoas vivem o resto de suas vidas ao lado de quem não amam, simplesmente porque deixaram seu amor ir.

eu espero que eu não viva isso.

mas enfim, foi curtinha, mas foi feita com amor.

ᴀǫᴜᴇʟᴀ ɴᴏssᴀ ʙɪᴄɪᴄʟᴇᴛᴀ ᴀᴍᴀʀᴇʟᴀ.Where stories live. Discover now