Olhou para a joia, que agora pulsava ainda mais forte, as batidas ecoando nas paredes douradas à sua volta. Uma lembrança de que o irreal poderia existir, bastava acreditar nele.

"Isis..."

O lamento na voz era claro e isso a fez retroceder, sentindo algo se quebrando dentro de si, uma dor latente, em resposta à dor dele. Como isso era possível? Ela se perguntava e não sabia nem sombra da resposta. Os enigmas se tornando tantos que a sufocavam, mantinham-na presa mesmo que contra sua vontade, nas entrelinhas.

"Amon..."

Se ajoelhou.

A dor a consumindo.

Uma dor que ela não via o motivo. Uma dor que a corroía de dentro pra fora, como se estivessem a torturando sem qualquer piedade. Era tão agonizante que ela se sentiu deitar no chão e se contorcer.

Depois do que pareceram muitos segundos, Isis se sentiu bem o bastante para levantar e deixar a joia ali já não parecia nem um pouco o certo a ser feito. Se ela sentisse aquela dor novamente, por Deus, não queria nem passar perto do lugar!

- Eu morri? Estou em alguma missão no outro mundo, pra provar meu valor? – Perguntou, sua voz ribombando, ecoando, cada vez mais longe.

"Não está morta."

- Por que não aparece agora? – Ela questionou, irritada.

Achava que ele devia ter a mínima consideração com ela e aparecer para lhe aplacar o medo. Seria o mais decente a ser feito depois de tê-la deixado pirada.

Amon se materializou na sua frente e não lembrava em nada a personificação dourada que aparecera em vários momentos no seu quarto. Parecia diferente. Mais sério, como se tivesse acabado de passar por algo insuportável.

- O que deseja, Isis?

Ela queria respostas! Queria entender porque se sentia perdida e incompleta!

- Entender!

- Está em suas mãos, só falta aceitar. – Ele respondeu e não havia nenhuma sombra de misericórdia no seu olhar.

Muito menos empatia.

Parecia realmente o deus que era e Isis sentia que a qualquer momento a mandaria calar a boca, por ser estúpida demais. Por não saber se colocar em seu lugar.

- Enigmas e mais enigmas.

- Sua vida inteira é um enigma, Isis.

Ela não ficou brava com a fala dele, porque ela sempre soube que faltara alguma coisa, que não era completa e Amon estava ali, para provar esse ponto.

- Não pode me contar nada?

- Eu sou um deus, que se apaixonou por uma humana. Um sentimento tão forte, que entreguei algo pra ela. Algo que agora é necessário para que Seth não consiga o que quer.

- A joia? – Isis perguntou, mesmo sabendo que Amon não diria nada diretamente.

Somente frases misteriosas e significados ocultos.

- A joia é um receptáculo, como uma urna.

Ele sentiu a dor corroer o seu corpo. Isis ainda não estava preparada para saber toda a verdade e se ele prosseguisse com tudo, ela desfaleceria ali mesmo, na sua frente e ele se veria novamente ajoelhado, perante o corpo da mulher que amava.

Duas almas ligadas por milênios.

- Receptáculo? – Isis perguntou.

Como uma urna? Pensava...

A joia de IsisWhere stories live. Discover now