6. Touro

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Quando me levantei no dia seguinte, tudo parecia diferente do anterior. Na verdade, eu me sentia diferente.

Foi com um frio na barriga que me lembrei: sete dias já tinham se passado e naquele momento eu poderia ser a Julia Virginiana ou a Julia Ariana ou a Julia Taurina.

Naquele momento me dei conta que na verdade eu era apenas a Julia enlouquecida. Então obrigada Universo, estou adorando ser a Julia do Karma.

Resolvi que o melhor que eu tinha a fazer era me levantar e fazer minha higiene. Acordei predisposta a tomar um banho longo para me acalmar, mesmo que já sentisse a calma me dominando aos poucos. Vesti o uniforme e decidi que colocaria alguns acessórios para implementar aquele look tão impessoal. Percebi que não tinha uma identidade visual e que precisava daquilo, precisava mostrar minhas bijuterias que não viam a luz do sol tinha um bom tempo.

Coloquei alguns anéis e falanges - aquelas que param no início do dedo e parece que pegamos um anel com a numeração errada -, brincos com uma pedra rosa presa ao meio dos brilhantes que haviam em volta, junto com um colar que combinava com os brincos. Dispensei a pulseira, porque me atrapalharia na hora de escrever.

Fui saltitante até a cozinha e encontrei todos devidamente vestidos, se alimentando do café sempre farto que tínhamos. Me sentei à mesa e recebi olhares desconfiados ao notarem que eu me servia enquanto assoviava uma melodia qualquer.

- O quê? - Perguntei, um sorriso esperto pintando os lábios.

- Qual bicho te mordeu hoje? - Minha mãe resolveu checar se eu tinha febre.

Me esgueirei pra longe do toque dela e revirei os olhos, o sorriso ainda estampado no rosto.

- Não tenho nada, mãe.

O silêncio ainda predominava a mesa, mas eu não podia me incomodar menos.

Olhei para a minha mãe e a vi com uma roupa simples, quase maltrapilha e sem as bijuterias de sempre. Arregalei os olhos, parando no mesmo instante de passar manteiga no meu pão francês e encostei o queixo no peito, podendo olhá-la melhor.

- O que foi, Julia? - Minha mãe tinha uma expressão divertida no rosto enquanto os homens daquela casa observavam interessados a interação das únicas duas mulheres que viviam ali.

- Você vai sair assim na rua? - Apontei para ela, dando uma mordida no meu pão seguida de um gole no café.

Minha mãe franziu o cenho, sem entender a minha dúvida.

- Assim como, Ju? - Questionou dona Alessandra.

- Sua mãe está fabulosa. - Meu pai completou e ela corou, piscando para ele.

- Eca! - Arthur gritou como uma criança sobre a interação dos nossos pais. - Tá vendo o que você fez, Julia? Agora vou ter pesadelos.

- Ninguém fez gestos ou falou nada, Arthur. Você quem tirou suas próprias conclusões nessa sua cabecinha fértil e cheia de sacanagem. - Ao final da frase do meu pai, Arthur emitiu um grunhido, fazendo-nos cair na gargalhada.

Me virei para a minha mãe enquanto terminava o meu café, erguendo um dedo e passando a falar:

- Primeiro que você está com as roupas que usava quando o Davi nasceu. - Ergui mais um dedo. - Segundo que você não tem um acessório. E eu não tenho um terceiro. - Dei de ombros.

Minha mãe tinha a expressão surpresa, sabia que eu não era muito ligada à moda ou acessórios. Eu mesma sabia disso, mas entendia minha mudança repentina: eu estava em outro signo, só não sabia dizer exatamente qual era.

Não Acredito Em SignosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora