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Acordar antes do nascer do sol se tornou um hábito para mim também aqui em Tibbutz

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Acordar antes do nascer do sol se tornou um hábito para mim também aqui em Tibbutz. Rapidamente, me troco e saio de casa, furtivamente, na escuridão. Assim que deposito os pés no deque úmido de madeira, tapo a boca com ambas as mãos para engolir um grito.

Um vulto alto e musculoso escurece a vista do lago.

Mas, não é o mesmo da gruta. Disso tenho quase imediata certeza.

Quando me dou conta de quem é, sinto o impulso para praguejar, mas me policio bem a tempo. Se quero ser uma tibbutzina, devo finalmente aprender a me comportar como uma.

Sussurro, tentando manter minhas emoções sob controle:

— O que está fazendo aqui a essa hora?

Raah olha para mim, por cima do ombro, com tranquilidade, e mantém os braços cruzados ao peito, quando retorna o olhar para um ponto fixo distante.

— Às vezes venho aqui para observar os preparativos da Singularidade.

Eu me aproximo dele na ponta dos pés e inspiro fundo, tentando convencer meu cérebro da normalidade de encontrar Raah fora do horário de treino, enquanto estamos vestidos com nossos trajes de descanso à luz da lua cheia. De onde estou, sinto o calor que exala de sua pele e contenho o instinto de me aproximar ainda mais, ao ponto de tocá-lo.  

— Você está numa localização privilegiada — ele prossegue, indicando com um aceno do rosto toda o panorama ao nosso redor.  — Daqui dá para ver o vale inteiro.

— Você ama essa festa tanto quanto a Tinker?

Ele dá de ombros tão de leve e tão rapidamente que não sei dizer se foi intencional.

— É uma tradição importante —  responde, após uma pausa.

— Por que é importante?

— É o momento de relembrarmos que todos nós fomos criados únicos, com atributos exclusivos, e, portanto, cada um de nós tem uma função e um propósito intransferíveis a cumprir — recita como a um texto decorado. — Cada um carrega uma responsabilidade.

— Mas... isso é lindo.

Raah assente com a cabeça, sem expressar opinião.

— Tinker estava tão empolgada — sorrio com a lembrança. — No jantar, ela não parava de falar que era a noite mais favorita das favoritas dela — tento imitar, contendo o riso, a voz aguda e o sotaque da garotinha saltitante.

— Sim, as crianças adoram.

Seu tom não soa convidativo para que eu continue a conversa. Então, volto meu rosto para a direção que Raah se concentra e, ao longe, do outro lado do lago, observo pontos de luz que se acendem e se apagam lentamente, num ritmo constante.

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora