L I A R

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Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

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Acordei com a cabeça latejando deploravelmente, meu corpo estava mole, pesado e a boca seca. Tentei erguer o tronco para me sentar, mas uma náusea se apossou do meu estômago e eu quase vomitei, sendo obrigado a retornar para a superfície macia.

Levei ambas as mãos até os olhos, apertando-os enquanto tentava acalmar o enjoo, inspirando e expirando em uma lenta contagem de seis. Aos poucos os flashes de memória revivem, as informações começam a se montar me deixando afobado por não saber ao certo o que tinha acontecido. Virei para o lado notando que eu repousava na minha própria cama, no hotel. Estava tudo estranhamente normal e não havia indícios de que outra pessoa estivera ali.

Eu tinha certeza que alguém havia me desmaiado na sala de vídeo e depois me trazido para cá, a questão é quem? O sujeito precisaria ter motivos para me afastar, pois aquilo me pareceu uma medida de precaução para que eu não visse algo errado. Meus olhos se arregalaram, era ele! O Jin usou clorofórmio para me apagar porque sabia que eu estava desconfiando! Ele está sempre por perto, vive desaparecendo e tem contato com o caso! O assassino estava dormindo ao nosso lado esse tempo todo e eu precisava avisar ao delegado antes que alguma coisa acontecesse!

Levantei abruptamente, dobrando os joelhos por ainda me sentir sem forças, tudo estava girando e eu precisei me apoiar na cabeceira para conseguir andar. Cheguei até a porta a passos cambaleantes, parecia um bêbado abraçado às paredes.

Toquei a maçaneta e joguei o corpo para fora em um único impulso, trombando fortemente com alguém. Acabei desequilibrando com a pancada e caí de bunda, a tontura fez com que a ânsia retornasse de uma vez e as imagens ficassem se movendo e duplicando. Eu ergui a mão até a cabeça como se isso pudesse fazer a visão desembaçar, mas notei que um par de All Stars pretos estavam parados na minha frente e seu dono logo agachou-se.

— Noite agitada, detetive?! — Aquela voz levemente zombeteira e sarcástica me fez ignorar o mal-estar para observá-lo com indignação, meus olhos aumentando de tamanho involuntariamente.

— Jimin? O que...? — Fui interrompido pelo seu sorriso presunçoso, aquele que eu passei a repudiar desde a conversa na cafeteria.

— Eu falei que voltava, não falei?! — Fiquei pasmo com a audácia que ele tinha, não conseguia devolver-lhe uma resposta à altura. O ruivo apenas deu de ombro em descaso e se ergueu, seguindo caminho na direção do elevador e me largando sozinho.

O que diabos ele estava fazendo aqui? Por que? Como? Quando ele chegou? Fiquei alguns segundos sentado, levantando hipóteses para a presença do ruivo, até finalmente me lembrar que precisava correr. Levantei ainda zonzo e segui até o final do corredor o mais rápido que meu andar torto possibilitava, dando várias batidas na porta que seria do delegado.

— Já vai! Já vai! — Ouvi-o gritar, mas a minha ansiedade impedia os movimentos de cessarem. — Calma porra, eu tô indo!

Quando Yoongi finalmente abriu passagem com rudeza, eu pulei para dentro do quarto, olhando para trás como um paranoico em crise.

— O que você está observando? Está tudo bem, Taehyung? — Ele espiava sobre o meu ombro, procurando aquilo que eu parecia estar vigiando.

— Hyung, eu acho que sei quem é o assassino! — Falei exasperado assim que o puxei para fechar a porta.

Yoongi ficou ainda mais pálido que o habitual e me agarrou pelos ombros com certa pressão, sacudindo e reforçando a minha ânsia.

— Quem é, Taehyung?! Diga-me quem é o desgraçado! — Era notável o quão desesperado o delegado estava para prender o sujeito e acabar com aquele inferno. Ele também tinha círculos azulados abaixo dos olhos, mostrando-me que há muito tempo não dormia direito...

O Silêncio dos InocentesWhere stories live. Discover now