Sr. Hughes

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— Eu só lhe peço mais uma chance.

Ri com escárnio quando ele me disse isso, e em questão de segundos um filme inteiro passou bem diante dos meus olhos. Um filme que tinha começado anos atrás, pouco antes de Luke sair pela mesma porta que havia entrado novamente, agora, dois anos depois.


Eu implorava para que ele não me deixasse, enquanto ele dizia com todas as palavras que eu já não ocupava mais um lugar em seus pensamentos, e muito menos em seu coração.

— Mas eu não sou capaz de viver sem você, Luke — repliquei em prantos.

— Pode ir começando a aprender, então.

Deu-me as costas e saiu. Luke e eu sempre tivemos altos e baixos no nosso relacionamento, e ele chegou a me enrolar durante um bom tempo até que finalmente me assumisse como sua namorada, mas ele nunca tinha falado daquela forma comigo, e eu sabia que era definitivo. E eu nunca tinha sentido tamanha dor em toda a minha vida. Tenho certeza de que um tiro teria doído menos do que vê-lo indo embora, levando com ele todos os planos que tínhamos feito para o nosso futuro, e me deixando devastada.

Foram dias e noites chorando, sofrendo e implorando para que Deus o trouxesse de volta para mim. Eu sabia que não poderia viver sem tê-lo ao meu lado. Tinha tanta certeza disso como tinha de que o céu era azul. Eu sentia como se minha vida simplesmente tivesse acabado e não encontrava mais razão nenhuma para seguir vivendo. Não havia nada nem ninguém que conseguisse me animar, nem remédios, nem bebidas — nem mesmo ter ganhado ingressos para ver minha banda favorita ao vivo, na área VIP. Nada era capaz de me tirar do chão.

Eu já não comia e nem dormia direito e em consequência disso, eu perdi muito peso. Mas quem dera isso tivesse sido a única coisa que eu perdera.

Eu perdi também o meu emprego — que eu realmente detestava, pois, trabalhar em uma loja de roupas como vendedora não era para mim, mas era o que me sustentava — e por muito pouco eu não perdi também o meu apartamento. Perdi a minha dignidade, e também a minha identidade. Já não era metade da pessoa alegre, bem-humorada e vivaz que costumava ser. Eu me perdi de mim.

Eu fui de mal à pior em tão pouco tempo, que sempre que penso nisso, sinto algo pior do que vergonha. Algo que eu nem posso descrever.

E quando cheguei no fundo do poço, naquele lugar extremamente escuro, tive um par de mãos que foram capazes de me puxar para fora, e me ajudaram a ver a luz novamente.

Eu cheguei definitivamente ao fundo do poço quando, em uma noite, eu resolvi ver todas as fotos que tínhamos juntos — e eram muito mais do que eu me lembrava. Ver e relembrar todos os momentos que tivemos juntos nos últimos seis anos, ver o quanto éramos felizes me devastou de tal forma, que eu simplesmente me joguei no chão e chorei. Eu chorei tanto, que cheguei a ficar sem ar várias vezes e perdi todas as minhas forças.

E eu também perdi a consciência.

Acordei não sei que horas no dia seguinte, com a minha melhor amiga e o zelador do prédio agachados em minha frente. Minha amiga tinha lágrimas nos olhos e me ajudava a levantar do chão, dizendo que a primeira coisa que passou pela sua cabeça quando me viu ali, caída, era que eu tinha morrido. O zelador perguntava várias vezes se queríamos que ele chamasse uma ambulância. Eu tentava explicar ao dois que apenas havia adormecido no chão, e que eu estava bem.

Quando o zelador saiu e fiquei a sós com minha amiga, eu tornei a chorar, dessa vez, de vergonha. Eu realmente estava no fundo do poço.

Mas eu disse que um par de mãos me ajudou a sair deste lugar escuro.

Sobre O Amor E Outras CoisasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora