Manual de como não sobreviver a um parto

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Nos abraçamos durante um tempo e senti as lágrimas rolarem de meus olhos. Quando nos afastamos contemplei aquele olhar de amor e esperança,  que vi nos olhos da Carol, quando recostaram a nossa pequena Emma em seu rosto. Foram os melhores segundos da minha vida.

Voltamos a realidade ao ouvir a buzina impaciente do automóvel, juntamos rapidamente todas as coisas que Vick pediu e voltamos ao carro.

— O que vocês dois estão fazendo? Porque demoraram tanto para pegar uma bolsa?  — Questiona Vick já alterada no banco de trás.

— Calma, foi você que quis vir buscar a mala — digo em nossa defesa — Vamos Derek, dá a chave que eu dirijo.  

— Acho melhor o Derek dirigir, você dirige feito um maluco, perigo o bebê nascer numa freada  repentina —protesta a Vick.

— Mas se eu dirigir, ele vai ter que cuidar de você até chegarmos no hospital — fala Derek nervoso.

— Ótimo, eu sou o mais experiente aqui com gestação e partos — falo com ares de sabedoria e os dois trocam um olhar temeroso — Que foi, menti?

— Não leva mal não,  mas a sua grávida morreu, não sei se isso conta como experiência positiva — diz Derek.

— Derek! Sou que faço essas observações desnecessariamente cruéis e não você. Gêmeo bom — aponto para ele — Gêmeo mau — atenha-se ao seu papel!

— Dá para vocês se decidirem logo! Eu tô tendo um bebê! — Ela grita se contorcendo de dor.

— Você dirige — fala Derek enfiando a chave na minha mão.  

Tomo posição ao volante, naquele carro ecologicamente correto, com câmbio automático, sensor de poluição e gasto de combustível do Derek e piso fundo no acelerador. Vick se concentra em tentar respirar como lhe ensinaram nas aulas de parto, mas leva menos de cinco minutos para descobrir que morder o braço do Derek a cada contração, é muito mais reconfortante que isso. Enquanto respiro aliviado por estar ao volante e vejo a cara de dor do Derek com as mordidas de Vick, sou incapaz de controlar um sorriso.

— Isso que eu chamo de participar ativamente do parto — falo olhando os dois pelo retrovisor e vejo meu calmo e educado irmão fazer um sinal ofensivo com o dedo.

Quando estamos prestes a deixar o bairro, há um imenso caminhão de entregas de bebidas bloqueando totalmente a rua, buzino uma, duas, três vezes na quarta, Derek decide sair do carro, ele caminha até o caminhão balançando o braço dolorido e conversa durante algum tempo com o motorista. Balanço a cabeça ao ver ele pedindo gentilmente para que ele nos dê espaço, o cara parece concordar e ele retorna o carro com um sorriso triunfante. Cerca de dez minutos depois, ainda estamos presos pelo caminhão.

— Desse jeito a bebê vai nascer no carro. — falo impaciente batendo o dedo indicador sobre o volante.

— Eu acho que estou sangrando — fala a Vick com uma cara de espanto.

— Isso é normal,  não é?—questiona meu irmão inquieto.

E eu fico apreensivo e buzino várias vezes, sangue nunca é bom sinal de nada — penso interiormente — Derek percebe a tensão que se formou em sai do carro, retira o blazer que usava e vai caminhando a passos largos e firmes em direção ao caminhoneiro.

— Olha aqui seu imbecil, eu tô sendo mordido por uma mulher em trabalho de parto, depois de tirar meu irmão da cadeia e ver minha sobrinha num maldito abrigo,  então é melhor você tirar essa porcaria desse caminhão na frente porque senão vamos ter que adicionar assassinato a lista do meu dia! — Ele grita pegando o homem que rabiscava uma prancheta pelo colarinho e empurrando contra o caminhão. Vick e eu nos entreolhamos e ficamos em silêncio quando em ele retorna ao carro e vemos o caminhão começar a se mover.

Minha vida em pequenas Escalas  [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora