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CHARLIE — 1944 — ENGLAND 

Enquanto ainda abraçava o tronco de Alex pude escutar muitas vozes pro cotidiano pacato em Doncaster, então me levantei de imediato indo até a janela, haviam alguns homens, talvez meia dúzia, quando um deles cruzou o olhar comigo continuou me encarando por um longo tempo como se estivesse a me reconhecer e logo eu entendia do que aquilo se tratava. Fechei a janela com pressa e calcei minhas botas, a voz rouca de Alex ainda deitado chamava pelo meu nome, o encarei ainda assustada e ele se sentava passando a mão pelo rosto. 

— São eles... 

— Como eles te acharam?— se levantou com pressa— fica aqui, vou tentar conter o tumulto. 

Assenti enquanto o via colocar as roupas apressadamente e saindo do quarto, minhas mãos estavam trêmulas, apenas minha mãe passava pela minha cabeça agora, amontoei minhas roupas na mala a colocando nas costas, preparada pra fugir, assim que fui até a mala de Alex achei sua arma escondida, engoli em seco ao pensar que ele estava desarmado, peguei a mesma e desci as escadas com cuidado, me escondendo tentando entender o que eles conversavam. 

— Não queremos causar problemas, só precisamos da garota. 

— Então acabou de causar problemas, porque ela não sai daqui.— Alex respondeu incisivo 

Olhei melhor vendo um deles tirar a arma da cintura, no mesmo momento respirei fundo tentando lembrar do que ele havia me ensinado, "destravar, mirar e atirar", segurei a respiração e antes que ele atirasse consegui acertar seu ombro, Will se apressou em empurrar as portas pra trancá-las e nos abaixamos enquanto tiros eram disparados, mas depois de um tempo em silêncio chegamos a conclusão que eles foram levar o atingido até algum hospital. 

— Precisamos sair daqui— Alex me puxou

— Não temos pra onde ir 

— Vamos voltar pra Londres, já sei o que fazer. 

— Alex... 

— Confia em mim— Acariciou meu rosto— vai dar certo. 

Assenti ainda contrariada e abracei Will me odiando por deixá-lo agora, já havia me afeiçoado tanto que tinha me esquecido completamente que um dia teria que deixá-lo, odiava deixar alguém pra trás. 

— Mandem notícias— ele disse aflito— espero que fique tudo bem com vocês. 

Alex o abraçou com tapas em suas costas e nos encaramos rapidamente tendo em mente que não tínhamos tempo pra despedidas, tínhamos que ir embora sem olhar pra trás. 

Em Londres Alex me levava por ruas até então desconhecidas, quando parou em frente a uma casa bateu algumas vezes e logo Joe aparecia, assim que cruzamos olhar apenas consegui pular em seus braços querendo dizer tudo o que havia acontecido nos últimos tempos de uma vez. 

— Então você vai fazer isso mesmo?— Joe encarou Alex 

Desviei meu olhar pra encará-lo, seus olhos verdes pareciam evitar entrar em contato com os meus, mas parei em sua frente o obrigando a me olhar. 

— O que você está escondendo? 

— Fomos liberados por causa do acontecimento em Dunkirk, os que sobraram ficaram com traumas— suspirou— me ofereci pra próxima missão. 

— Alex, não... Por que? 

— Porque vai ser melhor assim, mas precisa me prometer que não vai se afastar do Joe. 

— Eu queria que você me prometesse que não se afastaria de mim. 

Sem notar senti meus olhos marejados e minha respiração se acelerar, era como se um raio decidisse cair no mesmo lugar duas vezes, é muito difícil ter certeza que ele simplesmente voltaria bem. 

— Alex, ainda podemos dar um jeito— Joe se ofereceu

— Eu não quero arriscar. 

ALEX — 1944— ENGLAND 

 Os olhos castanhos permaneciam fixos em mim como se estivesse ansiando pela minha desistência, se eu pudesse faria exatamente isso, mas a questão é que isso me custaria muito e eu tinha que fazer o certo. 

Eu conhecia os "patriotas" muito bem, um deles já fez parte da minha família, não deixariam Charlie viva, só alguém feito o general para oferecer proteção e foi isso que eu fiz, me ofereci pra voltar ao exército na próxima missão em troca da proteção, obviamente, mandei as cartas escondidas, mas quando a resposta chegou e houve a invasão em Doncaster não havia outra opção além de aceitar. 

Joe entrou dentro da casa depois de se despedir de mim, pudia sentir que ele também desejava que eu ficasse, mas agora não havia mais volta. 

— Alex, por favor...— Charlie sussurrou— eu não quero perder mais ninguém. 

— Eu também não— beijei o topo de sua cabeça 

— Me deixa te levar até a estação. 

— É perigoso e eu odeio despedidas— Limpei as lágrimas que insistiam em molhar seu rosto— não acreditaria que aquela garota insuportável que eu conheci naquele navio um dia choraria me vendo ir embora. 

Ela tentou sorrir e me abraçou, Charlie havia me ensinado mais do que poderia imaginar e eu simplesmente não podia saber que em algum momento ela acabaria morrendo ou pior, tivesse que me ver morrer, deslizei a mão pelos seus cabelos loiros pela última vez e segurei seu rosto pra que ela me encarasse. 

— Eu te amo, Charlie. 

UM ANO DEPOIS

PART III 

LOVE WILL TEAR US APART

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terceira e última parte em andamento ❤️

MERCYOnde as histórias ganham vida. Descobre agora