Capitulo I

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          Tempos antes do trágico acontecimento, um grande festival na cidadela de Berton estava para começar. Viajantes dos quatro cantos de Nelim vinham festejar, comprar, vender, trocar, brigar e até encontrar uma alma gêmea.

           Logo na entrada da cidadela, havia uma feirinha muito movimentada que comercializava iguarias locais. E em meio àquela multidão de forasteiros, um garotinho de cabelos alaranjados, emoldurando um par de olhos de um azul aquamarine e o rosto coberto por sardas, adentrava à feira em busca de uma encomenda que o pai pediu que buscasse. Andava segurando um chapéu de palha entre os dedos e dentro dele uma pequena bolsinha de couro com algumas moedas.

          O ruivo já avistava à tenda onde deveria retirar a encomenda do pai. Foi quando um grupo de nobres notou a presença do pequeno garoto e começaram a cochichar e rirem.

         — Eles criam selvagens aqui?

         — Olhem que vestes imundas.

         — Fiquem longe, ele pode ter alguma doença contagiosa — Mas o pequeno não ouviu sequer uma palavra e seguiu até à tenda. Chegando lá, entrou e ao perceberem sua presença, um silêncio pairou juntamente com olhares repreensivos e de repulsa.

         — O que você quer garoto? Vá embora, eu não tenho esmola para te dar — O atendente cochichou empurrando o ruivo para fora.

          — Eu vim retirar uma encomenda para meu pai lá das fazendas do rei Arne, é uma caixa de grãos que... — O garoto mal terminou de falar e o atendente o interrompeu novamente ao ver alguns de seus clientes apreensivos, segurando seus pertences com a presença do pequeno.

          — Espere lá fora antes que eu perca meus clientes.

          — Eu hein! Você só vai perder essas pessoas se elas caírem em um buraco sem fundo — Brincou o pequeno ruivo do lado de fora da tenda. Enquanto esperava, se encostou a um barril de carvalho cruzando os braços e começou a reparar que algumas pessoas que tinham intenção de entrar na tenda, recuavam ao vê-lo e tomavam outro rumo.

         — Será que estou fedendo? — Disse para si mesmo levantando os braços e farejando. Logo o atendente saiu com a caixa de grãos, entregou às pressas ao garoto dizendo:

         — Espero que isso mate sua fome, pois é só o que posso te dar.

         — Toma é para pagar a encomenda — O garoto mostrava a pequena bolsinha com as moedas ao atendente.

         — Não garoto e agora vá embora antes que eu mude de ideia. — Finalizou ele entrando para à tenda. Sem entender a situação o ruivo arqueou a sobrancelha direita e deu de ombros indo embora.

           Com a missão cumprida ele colocou o pequeno pacote embaixo dos braços, vestiu seu chapéu de palha e se apressou correndo pela multidão para chegar logo à fazenda. Quase na saída da feira, o ruivo distraído, trombou com outro garoto fazendo os dois caírem no chão de ladrilho e derrubarem os pacotes que ambos traziam.

           — Menino tonto presta atenção da próxima vez que... — Antes que o outro garoto concluísse a frase, um grito veio da multidão:

           — Peguem esse garoto! Ele roubou minha caixa de joias — Os guardas confusos ao ver os dois meninos ao chão, primeiramente agarraram o ruivinho, julgando pela sua aparência que ele era o possível gatuno.

          — Me soltem eu não fiz nada — De imediato o outro garoto pegou um dos pacotes ao chão e saiu correndo, alertando assim quem era o verdadeiro ladrão. Os guardas largaram os braços do ruivo e seguiram perseguindo o outro garoto.

         — Nunca mais venho aqui nessa feira, só tem gente estranha — Balbuciou o pequeno ruivinho pegando seu pacote ao chão e saindo pelo arco de metal, que havia na entrada da feira.

            O sol escaldante levantava um leve vapor da grama, que cercava a estreita estrada de terra por onde o ruivo caminhava. O suor escoria em sua testa e dois tímidos círculos rosados, surgiam em suas bochechas. Exausto ele finalmente adentrava as plantações, quando ouviu alguém assobiando. Ele parou olhando para trás e para sua surpresa era o menino ladrão da feira que acenava chamando o ruivo. Ele voltou questionando:

          — O que você quer menino? Vai me roubar também por acaso?

         — Não sou ladrão... Aquelas joias eram do meu pai eu só as peguei de volta daquela mulher e vim trazer sua caixa de volta, acho que quando caímos trocamos os pacotes — Completou o outro estendendo a tímida caixinha de madeira na direção do ruivo, que em resposta abriu a caixa que estava em sua posse e arregalou os olhos ao ver o conteúdo brilhante dentro dela.

          — Nossa isso é...

          — Não é da sua conta, agora tome a sua — Sem demora o menino devolveu e tomando o seu pacote da mão do ruivinho, saiu correndo por entre a grama e sumiu. O ruivinho sem entender deu de ombros e caminhou para casa. Ao avistar o pai gritou mostrando o pacote.

         — Pai, fiz como você pediu, está tudo aí — O pequeno ficou parado com as mãos para trás como um soldado reportando ao seu superior. O pai do pequeno pegou a caixinha na mão e ao sentir a leveza desconfiou questionando o filho.

         — Ruivinho tem certeza que isso aqui tem os grãos que lhe pedi?

         — Sim pai, eu fui à tenda que o senhor mandou. Quando cheguei lá o rapaz nem me deixou explicar e me colocou para fora... E tinha umas pessoas que ficaram olhando para mim, povo estranho esses forasteiros né pai?

         Logo que abriu a caixa o pai descobriu do que se tratava e porque as pessoas estavam olhando o filho daquela maneira. Dentro do pacote havia um pequeno pão velho e duro. Ele suspirou olhando as vestes velhas que deu para o filho trabalhar naquele dia e sorriu dizendo:

        — Filho me desculpe terpedido para você ir lá e não se preocupe que o papai vai resolver esse mal-entendido,agora vá se trocar para brincar antes que anoiteça — Completou com um abraço eum beijo na testa do pequeno ruivinho que sorriu e correu saltitante entrandoem casa.    

DEGUSTAÇÂO - As Sombras de ArkronOnde as histórias ganham vida. Descobre agora