VII - O construtor

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- Acorde dorminhoco! - Chamou, Luna. - Hoje vamos visitar um amigo.

- O tal do construtor? - Despertou rapidamente.

- Isso mesmo. Tenho algumas coisas em mente. - Indicou, pegando sua lança, apoiada a parede ao lado da porta principal.

- Eii! E o café da manhã? Eu vou morrer de fome! - Disse Dale.

A reposição de parte do seu Grafite, sugara suas energias durante a noite, deixando-o extremamente faminto.

- Nossa, você é muito dramático! Alguém já lhe disse isso?! - Observou a moça.

- Na verdade... já. - Nesse mesmo instante, a expressão de Dale se converteu em tristes olhos.

- Pegaremos frutas pelo caminho, este lugar está farto delas. - Explicou Luna, enquanto notava a tristeza do rapaz. - Bem.. Vamos?

- Ah! Já ia me esquecendo, leve seu braço junto, ele pode vir a ser útil.

Os dois desceram por uma espécie de tirolesa até o solo. Luna conhecia os horários mais seguros para percorrer aqueles caminhos, mesmo assim, devia manter a cautela e sua guarda sempre alta.

A denominada Floresta dos Poemas, é um lugar rico tanto em Flora, quanto em Fauna. Cheio de vida, porta desde pequenos roedores até grandes herbívoros e carnívoros sanguinários. Parte destes seres, os mais temidos, costumam atacar a noite, se escondendo nas escuras entrelinhas. Porém, enquanto a luz incide e ilumina a Face, outros predadores se destacam, estes, oferecendo perigo real aos nossos aventureiros.

Ao chegar à base da árvore que sustentava a casa, Dale observou o familiar brilho azulado. Era a adaga de Elad, que o Grafitado recuperara após te-la perdido quando sofreu o ataque de Luna. Pegou e também carregou-a consigo pelo caminho que a moça indicara. A paisagem era acidentada, continha muitas folhagens, vinhas, raízes, galhos secos e troncos tombados. Contudo, a guia trilhou o trajeto mais limpo e livre para que pudessem passar sem mais estorvos, era o caminho que Luna costumava percorrer até a casa de Rony. O percurso foi vencido em pouco mais de 20 minutos, era início da manhã quando chegaram àquele baluarte.

A moradia do tal amigo mais parecia uma fortaleza, que se erguia ao final de uma rampa. Continha em sua fachada uma porta robusta, alta o suficiente para ter 3 ou 4 vezes o tamanho de Dale. Em suas extremidades duas grandes torres de vigília se erguiam, nelas, um pequeno espaço, uma vasão, era por onde se tinha a única visão do interior daquele forte. Placas dum prateado estranho sobrepostas, formavam as resistentes paredes.

  As portas se abriram sozinhas no momento em que Luna confirmou: 

- Sou eu, seu maluco. Trouxe um novo amigo que precisa de sua atenção.

Um mecanismo até então desconhecido por Dale puxou as portas para traz, abrindo-as. O interior daquela peça era vasto e quase totalmente vazio, a exceção eram algumas caixas e pacotes usados para carregar mercadorias.

A moça já conhecia a localização do construtor e, por uma escada ao canto nordeste do salão, eles desceram até o início de um longo corredor. O corredor era iluminado pelos mesmos cristais fluorecentes que iluminavam a casa de Luna, e as paredes tinham aquele mesmo aspecto cinzento brilhante que cobria as camadas mais externas.

Percorreram o longo corredor, passando por várias portas, todas trancadas.

- Que lugar louco, não? - Afirmou entusiasmado o Rabisco. - Não sabia que essas coisas existiam.

Dale nunca tinha se deparado com tais tecnologias, as que teve contato lá na cidadela, eram ultrapassadas e até simplistas se comparadas com as que deslumbrara.

- Demais! Rony trabalha com essas criações desde antes de conhece-lo. - Explicou Luna.

  Quando chegaram no final do corredor, se depararam com uma porta entreaberta. Adentraram-na.

A porta se ligava à oficina, onde o construtor passava a maior parte do seu tempo. O local era um caos, peças eletrônicas, matérias primas, ferramentas, protótipos de diversas criações que mal era possível identificar suas funções. No centro de tudo isso, um Rabisco trabalhava na beira de uma mesa portando uma ferramente barulhenta, que esmerilhava uma peça avermelhada. De costas, o ''homem'' se parecia com Dale, todavia, era um pouco mais alto e trajava uma roupa especial, azulada com detalhes em prata.

- Ora, ora... se não é Luna, a caçadora... - Iniciou Rony, enquanto retirava uma espécie de máscara de solda. - O que te traz para essa agradável visita?

- Trouxe um amigo. Ele vai precisar de seus cuidados. - Disse Luna.

- Vejamos... Ah, olá rapaz. - Se virou e cumprimentou. - Qual é o problema?

- Ele perdeu o braço, pensei em te procurar para conseguir uma prótese, quem sabe. - Argumentou a moça.

- Certo, deixa eu dar uma olhada. - Se aproximou de Dale, com uma fita métrica mediu o ombro e o braço que ainda restava, e pegou o já em decomposição membro decepado. - Isso deve bastar. Verei o que posso fazer pelo seu amigo, discutimos o preço depois... Agora, podem esperar naquela sala. - O construtor indicou uma porta à extrema esquerda da sala. Seria aquela uma ''sala de estar/espera''.

Dale, calado até então, abismado com as novidades e com o personagem novo, brincou: 

- Tem como fazer ele soltar raios ou chamas? Ou.. ou talvez três lâminas...

- Gostei desse rapaz... meu nome é Rony... Rony Bicark -  Apresentou-se. - E você, é?

- Sou Dale. - Acenou com a cabeça.

- Essa faca, posso vê-la, rapaz?

- Ah, sim, aqui. - Entregou a adaga ao estranho.

- Essa lâmina tem uma ótima qualidade, gostaria que eu a pusesse na prótese? - Perguntou.

- Não. A arma pertence a um amigo, ainda pretendo devolve-la.- Firme, esticou a mão, indicando querer de volta a peça.

- Do jeito que preferir...  - Sem entender muito bem, o construtor devolveu-a. - Vou ver o que posso fazer, Dale. Agora, me deem licença, o braço fica pronto em 3 horas. - Informou.

Os dois se viraram e se dirigiram à sala. 

- A propósito, Dale... - Interrompeu o construtor. -  Pensarei na ideia das lâminas. - Sorriu.

Dale sorriu expressivamente, como costumara. - Ok! - Deram as costas adentrando a sala.

As aventuras de DaleOnde as histórias ganham vida. Descobre agora