Capítulo 16

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Thomas narrando:

Não era preciso ser um gênio para saber que o motivo de ter gastado toda a minha madrugada fazendo uma autoavaliação da minha existência foi Angeline, mas assim que amanheceu, ao ocupar minha mente com todas as milhões de tarefas que eu tinha de cumprir, tudo o que havia pensado durante a noite perdeu a importância. Não era como se eu fosse mudar meu conceito de vida apenas porque conheci uma garota. Se ela escolheu ser a misericordiosa, eu sou o perverso.

Porém toda a minha esperança de ignorar os pensamentos da madrugada foi por água abaixo quando tive a infeliz ideia de continuar o trabalho em casa, ao constar que eu não teria reuniões na empresa a tarde. Eu estava absorto em uma negociação online quando ela entrou em meu escritório para limpá-lo e então, de repente, todos os pensamentos que tentei ignorar voltaram como uma avalanche para me assombrar.

O menino que eu era gostaria do homem que me tornei?

A garotinha que conheci anos atrás teria orgulho de mim?

Meus sobrinhos ainda me amariam se soubessem como eu sou de verdade?

Eu não conseguia controlar. Pensei que essas perguntas eram irrelevantes, mas agora, bastou que eu estivesse no mesmo ambiente que ela para trazer tudo a tona outra vez.

- Maldição! - Esbravejei batendo com força na mesa, atraindo imediatamente sua atenção. - Será que não existe outra pessoa que possa vir limpar esse escritório?!

Ela piscou algumas vezes me olhando paralisada, até conseguir emitir uma voz amedrontada:

- O senhor quer... que eu chame minha mãe?

Eu a olhei por alguns segundos. O mais conveniente a se dizer era que sim, merda, eu gostaria que qualquer outra pessoa do planeta limpasse o maldito cômodo, mas no fundo, eu sabia que isso não era verdade. Eu odiava os pensamentos que estava tendo, mas não odiava sua presença. Eu não queria que ela saísse.

Balancei a cabeça para os lados e desviei os olhos, voltando a trabalhar.

- Não. - Disse com um suspiro. - Continue.

Angeline obedeceu, hesitante. Pelos próximos segundos deixei o silêncio se infiltrar entre a  gente, mas logo a quietude se tornou incômoda. Então eu comecei a conversa da maneira mais natural possível, sem me atrever a olhar para ela um minuto sequer. No entanto, não pude evitar que o assunto evoluísse para além do profissional, e conforme ela respondia sem questionar a todas as indagações que eu fazia, eu me sentia seguro o suficiente para sondá-la.

Algumas de suas respostas me interessavam mais que outras, mas foi apenas quando comentou sobre seus princípios que me senti realmente surpreso.

Ela é virgem. Ela tem um maldito namorado há três anos e ainda é virgem. Das duas uma: ou o cara é um tremendo incompetente, ou ela realmente acredita que existe um Deus que possa castigá-la se ela se deixar levar pelo prazer. Eu não sabia qual das duas opções era a mais engraçada.

- O senhor sempre faz isso? - Ela perguntou irritada ao notar a diversão em meu rosto.

- Defina isso. - Pedi.

- Esse tipo de... perguntas aos seus funcionários.

Então perdi a vontade de rir, porque a resposta pra essa questão com certeza seria não. Eu tenho meus próprios empregados há longos nove anos e nunca explorei tão profundamente nenhum deles, pelo contrário: tudo o que me interessava eram seus currículos profissionais, e quanto menos eu soubesse sobre suas vidas pessoais, melhor.

O que mudou, Thomas?

Precisei de um momento para saber o que responder, e quando finalmente encontrei algo viável, decidi me divertir com isso. Vamos ver até que ponto Angeline é forte. Vamos jogar.

Um plano para nós (PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora