VINTE E SEIS

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 — Você não vai sair desse quarto? – Vênus fala da porta, dois dias depois.

— Estou pensando em mudar. Você não tem alguns pôsteres de banda para me emprestar?

— Pôster de banda é que nem calcinha: não dá para ficar dividindo por aí – ela cruza os braços – Vamos fazer um grafite na parede. Sempre quis um grafite na parede. Meu pai nunca deixou.

— Meu irmão vai adorar.

— Eu falei no nome dele, por um acaso?

— Hm, ele é o dono da casa.

— E quem liga? Como se fosse ele que mandasse aqui – se joga na minha cama.

— Suponho que sim, já que ele ainda mora sozinho nessa casa. Quer dizer, a não ser que você esteja assumindo que mudou para cá de vez.

— Por favor – revira os olhos – Vulcano manda mais nessa casa do que seu irmão. Não seja idiota – ela me dá um sorriso e eu sorrio de volta – Sério. Sei que o time de Ponte Belo perdeu e você fica bem mal quando isso acontece, o campeonato acabou e seu irmão diz que você fica ainda mais mal por isso, mas eu tô ficando preocupada.

— Não fique. Daqui a pouco começa os jogos escolares e esse ano vai ser ótimo porque vou ser a técnica da escola.

— Uy, técnica. Ser Vale é uma benção.

Jogo uma almofada de coração nela, sabendo que essa era a pior escolha (e por isso a melhor) porque Vênus odiaria o coração. Como era esperado, ela faz uma careta segurando próximo do rosto.

— Mas que merda é essa?

— Seu namorado que me deu.

— E você guarda isso?

— Ahn, de novo, seu namorado que me deu.

— Certo, ele é brega. Mas você não precisa guardar um presente desses. Deixa jogado e espera que Vulcano o ache. Que coisa horrível – joga a almofada no chão.

— Ele tinha quinze anos.

— Continua sendo horrível. Enfim! – se senta, balançando os all-stars sempre sujo para cima e para baixo – Diga como é a noite carioca.

— Não sei. Não conheci – puxo um pôster do Iron Maiden da parede – Ei! Você sabe onde está aquele pôster do Pink Floyd que ficava na parede do meu irmão? Acho que vai ficar legal aqui.

— Hm... lembra sobre deixar coisas no chão para Vulcano pegar?

— O que?! Você não fez isso!

— Foi sem querer!

— Vênus!

Ela dá de ombros, mas não há nenhuma expressão de culpa ou arrependimento em seu rosto. Na verdade, eu quase posso ver um sorrisinho de canto sádico, típico da minha cunhada.

— Você sabe que aquele pôster é uma raridade? E vale uma fortuna em sites?

— Agora vale zero centavos na bosta que Vulcano produziu – arqueia a sobrancelha – Isso que eu chamo de redução de custo.

— Você é inacreditável mesmo! Meu irmão não brincou quando usou isso para definir você.

— Meu jeitinho.

— Ele sabe disso?

— Tá tudo bem – mexe a mão – Quando ele descobriu eu ofereci meus seios e ele ficou tranquilo, tranquilo. Homens sempre são controlados com pares de seios. Uma verdade universal que deveria ser mais distribuída por aí.

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