VI - Floresta dos Poemas

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Dale em seus últimos e decisivos instantes, deteve o punhal em mãos apontando-o ao solo, tamanha foi a pressão exercida sobre seu corpo que, surpreendentemente, a afiada ponta confeccionada de tinta perfurou o papel, o suficiente para rasga-lo e para nosso herói transpor-se à outra face da página!

Depois de passado a euforia da batalha e da travessia, Dale conseguiu se levantar e se recuperar em instantes, graças também a grande quantidade de adrenalina ainda agia em seu corpo.

De pé, ainda em frenesi, notou caído ao chão segurando a adaga, seu braço direito decepado.

Berrou de dor.

Tal pressão somada ao impacto sobre seu braço que segurava a lâmina, fora suficientes não só para perfurar a folha, mas também para dilacerar seu membro. O Rabisco precisava de ajuda, quem sabe ainda poderia recuperar seu braço. Pegou o membro e correu ao Norte daquela página, foi então que avistou ao longe uma floresta densa e descrita por várias colorações de tintas e grafites.

Mantinha um passo acelerado em direção à mata, sempre segurando seu membro. Ao chegar mais próximo, notou que as grandes árvores e suas folhagens eram formadas por poemas, frases e textos curtos, todos contendo suas poesias. Fora o local mais lindo que já teve o prazer de conhecer.

Chegou ao pé da floresta, e sem pensar duas vezes, adentrou-a. As árvores tinham formas e tamanhos variados, além de suas cores também se diferenciarem conforme os materiais que foram usados para confeccionar os textos.

A luminosidade que incidia naquela face da folha, era por parte atacada pelas copas das grandes vegetações, fazendo o interior da mata ser um tanto quanto obscuro, mas ainda visível.

O que lhe ainda restava do membro ainda o maltratava com a dor, porém já era suportável. Nosso herói precisava encontrar ajuda e, por sorte, ao topo do tronco de uma das árvores, esta era formada por um texto longo que a fazia se destacar em tamanho das outras e de uma tinta avermelhada, avistou uma casa feita por outros materiais, possivelmente retirados do próprio ambiente.

- Traças me mordam! Civilização! - Ficou feliz, pela chance de encontrar ajuda.

Caminhou na direção da moradia, enquanto desviava e escalava algumas raízes que serviam como os pés daquelas enormes plantas. Ao chegar na base da árvore que sustentava a casa, gritou:

- Olá, alguém ai?! Eu preciso de ajuda!

Ninguém o atendeu. Dale cogitou escalar, mas sabia que seria impossível, dada a falta de um dos seus membros superiores. Ficou algum tempo parado por ali, esperando algo acontecer, enquanto ainda vislumbrava a vista que tinha daquele ambiente. O silêncio, que era quebrado apenas por alguns insetos que vagavam e zumbiam por ali, começou a lhe aparentar assustador, a vastidão da floresta poderia resguardar todo o tipo de perigo e, dada suas experiências recentes, sabia que isso era possível, poderia não ter a mesma sorte que tivera outrora.

O suspense continuou por alguns segundos, até ser quebrado por um ataque vindo de suas costas. Um encontrão o arremessou ao solo, e o agressor se posicionou sobre suas costas o imobilizando. Sentado em suas costas, segurou pelo seu braço o forçando para trás.

- Quem é você?! O que quer aqui?! - Exclamou o atacante, proprietário de uma voz feminina.

- Arrg.. Eu sou Dale, muito prazer. - Com a face afundada ao solo, se apresentou ironicamente com o canto da boca.

Nesse momento Dale percebeu que a pessoa em suas costas segurava seu braço decepado, e então, o largou, e ao levantar a cabeça apoiou seu cotovelo no chão e sua mão em sua bochecha.

- E você? Qual seu nome? Fique a vontade ai em cima... sem pressa. - Revidou com um tom de deboche.

Ao perceber que segurava um braço arrancado, liberou um grito de susto e se lançou para longe dali.

- I-I-ISSO É UM BRAÇO?! - Assustada, a moça que o atacara, agora se via na defensiva.

- É sim, tive um pequeno acidente, mas agradeço sua preocupação. - Tentando se levantar, respondeu à estranha.

- E ele é seu? - Já recuperada do susto, apunhou sua lança e com postura de ataque, interrogou.

- É sim... ou era... pode me ajudar? - Caminhou até seu braço, e com ele em mãos sorriu sem jeito.

A moça sorriu. Tinha o corpo delgado e uma touca roxa na cabeça, por ela, escapava mechas de cabelos negros que pousavam na altura dos ombros. Vestia roupas simples e de cores neutras e um colar com um pequeno pingente vermelho preso a ele.

- Não sei porque tive medo de você, você é só um bobão. A propósito, meu nome é Luna - Se apresentou enquanto andava até o outro lado do tronco, e retirava uma corda que guardava atrás duma rocha.

- Vou te levar até lá em cima, vamos ver o que podemos fazer com isso. - Envolveu a corda na cintura de Dale e deu um nó, fez o mesmo processo em si mesma.

Os dois escalaram até o topo, conseguindo finalmente chegar ao lugar pretendido, depois de uma árdua subida.

- Então... essa é sua casa? - Ainda ofegante pelo esforço, iniciou o diálogo.

- É sim, eu mesma construí. Levou semanas para terminar. - Respondeu enquanto desfazia o nó e procurava seu kit de primeiros socorros.

- Interessante. Mas por que tão no alto? Por que não a fez lá em baixo? Seria um tanto mais fácil. - Indagou Dale.

- Essa floresta, por mais que seja linda, guarda criaturas extremamente perigosas. Além de mim, só mais uma pessoa se atreveu de viver por aqui.

Dale arregalou os olhos.

Luna envolveu o que ainda sobrava do braço com ataduras, afim de cessar o esfarelamento dos traços daquela parte, pois, isso se agravado, poderia desmaterializar o corpo do Rabisco por completo.

- Prontinho, vai sarar em breve. Já seu braço, não tem concerto, sinto muito.

- Obrigado, sem problemas. - Com olhos tristes encarou seu braço inerte. - Ei! Essa outra pessoa que vive por aqui, quem é ela?

- Ele se chama Rony, é um construtor.

- Um construtor? - Perguntou, surpreso.

- Isso, ele escolheu este local pela variedade e abundância de materiais que este lugar possui, fazendo com que seja interessante para suas criações.

- Huun... Entendi.

Atento à moça, Dela continuou a fazer indagações, sobre tudo. Conversaram durante horas, até o dia ceder á escuridão, e a casa na árvore precisar ter suas portas e janelas lacradas, fortemente.

Um cristal curioso, composto de tintas fluorescentes, iluminava o ambiente.

- Você pode dormir nessa rede. - Avisou Luna a Dale, enquanto ela subia uma escada que levava ao seu quarto.

- Luna, só mais uma coisa. - Chamou.

- Sim?

- Obrigado por tudo, mesmo. A essa hora eu estaria lá em baixo, e sabe-se lá o que poderia estar passando.

- Não foi nada. Foi um prazer, Dale, boa Noite. - Desejou enquanto terminava de subir as escadas.

O rabiscou deitou-se na rede, posicionou-se aconchegante, enquanto segurava a atadura de sua ferida. Adormeceu.



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