Tentando recomeçar - Duologia Recomeço

O rude.

(Tomaz)

Quando enfim o efeito do pouco álcool que tomei passou, me dei conta do que realmente estava acontecendo. Liguei pro meu pai explicando tudo, o mesmo me apoiou e mandou eu o manter informado. Pedi que ele contasse a mamãe com jeito, ela é muito nervosa pra tudo.

Nesse momento estou encarando a última foto tirada no meu celular de mim e da Bianca. É no meu aniversário de 26 anos, um mês e poucos dias atrás. Esse sorriso que paira nos lábios dela é tão caloroso...

_Começando a sentir a dor do abandono? Tua ex-mulher sentiu isso todos esses anos._Fábio diz dirigindo o carro.

_Ela não é minha ex-mulher, caramba!_Bufo irritado._Por que não pulamos essa história de tratamento? Temos que começar a procurá-la de agora. Ela pode estar em...

_Você não vai pular nada, Tomaz de Alcântara Muniz._Ele brada como se fosse minha mãe._Ela merece esse tempo e você tem muito o que pensar. Você só está focando no fato de que ela te deixou, mas tá esquecendo de lembrar o por quê disso tudo. Você vai ter que refletir muito pra um dia tentar merecer a Bianca.

_Tentar? Ela é minha, Fábio.

_Não mais, querido amigo. Não mais.

Preferi não dialogar mais, estávamos no caminho desse tal lugar pra que eu comece a fazer esse tratamento. Só sei que é numa fazenda enorme, com diversos profissionais experientes. Encostei a cabeça e comecei a pensar na Bianca longe de mim. Na Bianca grávida e longe de mim. Ela não seria louca de me trocar por um qualquer.

...

Um tempo depois chegamos na fazenda. Fábio foi conversar com o dono do lugar e eu fiquei observando o lugar. Minha boca salivava por álcool, minha cabeça doía. Pensamentos sobre a minha filha começam a invadir minha cabeça e então acho que vou enlouquecer. Fábio volta.

_Você já quer beber?_Pergunta me analisando._Você parece mais que quer chorar...

_Droga!_Murmuro baixo tentando controlar essa dor._Eu não vivi o luto...

_Você vai ter muito tempo pra sentir. Sua internação terá duração mínima de três meses, Tom._Ele tira a minha mala do carro._Deixarei todos da sua família saberem onde você está, só não manterão contato regularmente. Regras do lugar.

_E a Bianca?

_Eu vou procurá-la, mas não pense que quando eu descobrir eu virei aqui contar antes de vê-lo totalmente mudado. Se cure, amigo. O seu estado não está tão terrível.

Nos abraçamos e então fui apresentado ao doutor Cury. Ele nos mostrou o lugar e nos apresentou outros doutores. Tudo aqui parece muito tranquilo. Se eu quero a Bianca de volta, preciso acabar com isso.

_Eu vou indo, Tomaz._Fábio aperta a minha mão._Não irei abandoná-lo. Sempre virei nas visitas permitidas. Por favor, cuide-se.

_Me cuidarei, amigo. Encontra a minha mulher, por favor. Até breve.

Fábio vai embora e então o doutor me leva até meu quarto. Não é luxuoso, mas isso é a última coisa que eu vou ligar agora. Ajeito minhas coisas no meu lado de um guarda-roupa e pego uma toalha. Preciso de um banho. O quarto por enquanto é só meu, mas é dividido com mais uma pessoa. Pelo que o doutor disse, ainda pode chegar mais pacientes. Vejo que já está quase anoitecendo e então trato de tomar meu banho logo. Depois do banho, saio do quarto pra conhecer o lugar e também pra encontrar a cozinha. Estou com muita fome e sede.

...

Já soube que amanhã tenho psicólogo, aqui tem um quadro em que os nomes dos pacientes são associados ao que vão fazer durante o dia. Bem organizado. Estou sentado, comendo um sanduíche natural e encarando a paisagem.

_Vi que você é novo aqui._Uma voz feminina me aborda._Sou Hannah, prazer.

Viro o rosto pro lado e observo uma mulher com idade em torno de 29 anos, morena e com um sorrisão pro meu lado. Ignorei.

_Falei algo errado?_Ela insiste.

_Não, só não quero papo. Só que o tempo passe depressa._Mordo mais um pedaço do sanduíche.

_Acostume-se então a conversar pois faz parte do tratamento. Amizades melhoram o humor e a vida, acredite.

Ela começou a falar um pouco de si na intenção de me fazer falar um pouco de mim. Viciada em jogos e álcool, foi praticamente obrigada a se internar. Já está há 6 meses nesse lugar, ainda não a consideram curada/tratada.

_Estou aqui por mim e pela minha filha._Concluiu pesarosa._E você? Por quem está aqui?

_Pela minha mulher e pelo bebê que ela está esperando._Falo rapidamente._Ela me deixou estando grávida por eu ser um bêbado de merda.

_Você não quer a "cura" por você? Pra ser um alguém melhor pra si próprio?

_Sem essa hipocrisia, por favor. Você sabe que se fosse por si mesma não estaria aqui. Alguém usou a sua filha como método de persuasão, não seja tola._Fui rude e me arrependi pela expressão que o rosto dela adquiriu._Desculpe.

_Pensei assim quando cheguei, mas as coisas mudam._Ela sorri amigavelmente._E você ainda não disse seu nome.

_Quando achar o momento eu digo.

Ela assentiu e então saiu de perto de mim. Não quero amizades, não quero conversar com ninguém. Eu quero a Bianca. Eu quero me livrar logo disso aqui pra poder ir vê-la e trazê-la de volta pra mim, seja onde quer que ela esteja. Arrependido? Sim, estou. Fui o pior dos homens com a mulher que escolhi pra minha vida inteira, mas tudo tem conserto. Ela vai voltar pra mim, ela vai sim. Eu sei que quando eu vê-la, ela estará do mesmo jeito de sempre. Amável, compreensiva e me amando incondicionalmente. A Bianca é minha. Só minha.

***