Capítulo 4 - Dia de praia

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Eleanor não gostava muito de praia por motivos como: sol quente; areia; crianças energéticas; garotas padrões; homens tarados e machista e água vivas, a lista poderia ficar ainda mais extensa se ela se esforçasse para pensar.
No entanto, furar com Jane não era uma opção, as duas não se viam desde o final do período letivo - Jane passou as férias inteiras na casa de seus tios brasileiros - e ela era amiga de Eleanor desde o fundamental, antes mesmo dela conhecer Rae e The 1975.
Só que Eleanor precisava ver o que havia naquela caixa de recordações primeiro, sua curiosidade não ia a deixar em paz enquanto não vasculhasse aquilo. Então, ela retirou com cuidado a caixa do closet e a colocou no meio do quarto, cortou o lacre com uma tesoura e respirou fundo antes de levantar as abas de papelão.
Sua primeira visão foi a de vários álbuns de fotografia, que pela quantidade ela se perguntava se realmente era filha única. Mais ao fundo havia um bloco de cartinhas feitas a mão, todas com os destinatários "Querida, Mamãe" e "Querido, Papai" e atrás dos envelopes "de: Eleanor". Ela pegou um dos álbuns e começou a folhear, era Eleanor ainda bebê no colo de sua mãe, conforme as fotos iam passando ela ia crescendo junto, mudando a paisagem, as pessoas, seus cortes de cabelo e sorrisos. Seus olhos encheram de água quando ela viu a foto dela e seus pais no seu primeiro campeonato de natação, ela ainda tinha cinco anos e foi por causa daquela medalha que sua paixão pela natação começou a florescer.
─ Estou pronta, Elea... ─ Rae entrou no quarto sem Eleanor esperar e ela guardou o álbum rapidamente. - O que está fazendo?
- Só estava olhando essas fotos enquanto te esperava.
- Você está chorando? - Rae perguntou preocupada e sentou no chão ao lado de Eleanor.
- É, mas já estou bem. Vou pegar minha mochila. - Ela começou a se levantar, mas Rae a segurou pelo braço.
- Posso ver? - Ela pediu, Eleanor assentiu e pegou um dos álbuns para ela. Os olhos de Rae brilhavam a cada nova foto que via. - Você é a cara do seu pai!
─ Eu também acho. ─ Eleanor sorriu.
- Posso ver o resto das fotos outro dia? - Rae terminou de olhar o álbum e o entregou para Eleanor.
- É claro que pode. - Ela levantou e colocou a caixa de volta ao closet.
- Meu pai vai levar a gente na praia rapidinho, o sol está muito quente para ir andando.
Eleanor gostou da ideia, com aquele sol forte não ia ser nada fácil caminhar quase um quilômetro a pé.
As duas saíram de casa carregando suas bolsas de praia, John já estava com seu carro luxuoso estacionado em frente a casa.
Rae foi no banco ao lado de seu pai e Eleanor no banco do passageiro.
Enquanto faziam o pequeno percurso até a praia, ela observou como John era um pai atencioso, mas ao mesmo tempo um cara fechado. Ela não entendia como sua mãe havia se apaixonado por ele, ok, era um homem bonito, alto, forte, tinha um belo sorriso, cabelos escuros e descendência latina. Mas o que mais? Onde estava seu senso de humor? O jeito extrovertido edesastrado como o de seu pai? Ela realmente não entendia como John conseguiu conquistar o coração da sua mãe daquela forma.
- Até mais, meninas. Divirtam-se! - John disse quando chegaram à praia.
- Até mais. - Rae e Eleanor disseram juntas e desceram do carro.
Quando chegaram na areia, Jane estava deitada sobre uma toalha debaixo de um guarda-sol tomando água de coco, ela era uma garota alta e magra, sua pele era bronzeada e seus cabelos eram castanhos e cacheados. A típica garota de Miami.
─ Vocês estavam fazendo o quê? Demoraram tanto que achei que não viriam mais.
─ Não estávamos fazendo nada, você que está muito apressada. ─ Rae respondeu deixando suas coisas na areia.
─ Sentem aí. Já mandei trazerem mais duas água de coco para vocês.
Um garoto queimado de sol usando um avental vermelho trouxe as duas águas de coco em instantes com canudinhos brancos e chapéuzinhos amarelos.
- Obrigada, Arthur. - Jane agradeceu sorrindo e o garoto voltou abobado para a estande.
Eleanor foi pegar uma das águas de coco, mas Rae acabou pegando a mesma que ela e suas mãos se tocaram. Eleanor sentiu seu corpo arrepiar e tirou a mão de supetão.
- Desculpa, Eleanor. Pode pegar primeiro. - Rae sorriu sem graça.
─ Tá. - Ela respondeu com o rosto vermelho pelo ocorrido. As duas tinham contato físico com frequência, por que de repente o toque de Rae parecia uma corrente elétrica?
─ Vou tomar a minha daqui a pouco, eu preciso ir mergulhar primeiro. - Rae levantou, tirou seu vestido branco e correu para o mar, Eleanor evitou a olhar, de repente o canudinho da água de coco se tornou um atrativo.
─ Não demora muito, se não eu vou tomar ela! ─ Jane gritou e Rae mostrou língua para ela antes de dar um salto para dentro do mar.
─ Eu vi aquilo, ok?
─ Viu o quê? - Eleanor se fez de desentendida.
─ Vocês duas.
─ Eu e Rae?
─ Não, você e a Beyoncé. ─ Jane disse sarcástica e revirou os olhos. ─ Não se faça de boba. Por que você ficou desconcertada das suas mãos se encostarem? Vocês literalmente vivem se abraçando.
─ Eu não sei, Jane. Eu só... - Eleanor sentiu seu rosto queimar e não era por conta do sol quente.
- É a primeira vez que isso acontece? - Jane a interrompeu eufórica.
─ É, mais ou menos... - Eleanor pigarreou. - Não sei.
─ O que você sentiu?
─ Que pergunta é essa, Jane? - Eleanor ficou sem jeito e colocou a água de coco no colo.
─ Você gosta dela. ─ Jane afirmou sorrindo.
─ O quê? Não, não. De onde tirou isso?
- De onde eu tirei isso? Você tem todos os indícios de uma pessoa apaixonada. Seus olhos brilham quando a encara, vive corando as bochechas e de repente não sabe o que sente quando ela te toca. Simples assim.
- Ah, Jane. - Eleanor suspirou. - Se eu estiver gostando, não conte a ela, por favor.
─ Não vou contar, mas então você está gostando? - Jane se empolgou.
─ Eu não disse isso, foi algo hipotético! - Eleanor enfatizou. - Mas e "se" eu estiver? O que eu faço? Ela é minha amiga e o pior, ela é uma menina. ─ Eleanor olhou para o mar, ele estava calmo, mas não via sinal de Rae. Provavelmente estava mergulhando por entre as ondas.
─ Isso não é um problema, nenhuma dessas duas coisas são.
─ E outra, ela se tornou minha meio-irmã. Sabe o cara que minha mãe saía e não me falava quem era? Bem, era o John, pai da Rae.
─ Não acredito! ─ Jane ficou perplexa. ─ Isso explica muita coisa, a mudança de casa da Rae e o porquê do pai dela não deixar você ir lá. Mas e aí? Como tem reagido a tudo isso?
─ Em relação ao ambiente, já estou me adaptando, embora a casa seja enorme e moderna, mas sobre Rae ser minha meio-irmã é complicado.
─ Porque você está apaixonada por ela. - Jane afirmou. - Mas isso é bom, você pode ficar mais perto dela. Ela não é sua meio-irmã de verdade, vocês são tipo Jasper e Alice ou Emmet e Rosalie em Crepúsculo.
─ Mas eu fico nervosa quando estamos perto e isso dificulta tudo, essa situação não deveria estar acontecendo. - Eleanor lamentou.
─ Eu te entendo, mas não fique mal. As pessoas se apaixonam e está tudo bem. E se te conforta, eu acho que ela também gosta de você.
─ Às vezes parece que sim, às vezes não. E se ela estiver brincando comigo?
─ O quê? Ah, Eleanor. ─ Jane suspirou. ─ Isso é muito sério, ela nunca faria isso.
─ Eu sei. - Eleanor disse arrependida, ela sabia que Rae nunca faria isso com ela, mas quando se está confusa tudo parece real. Até coisas que são improváveis se tornam o centro das atenções. - São só pensamentos intrusivos.
Eleanor e Jane mudaram de assunto quando viram que Rae se aproximava acompanhada por um garoto de cabelos loiros e olhos verdes.
─ Olá meninas. Esse é o Mike, ele quer saber se querem jogar vôlei. - Rae disse.
- Caraca, você é a versão masculina da Eleanor. - Jane disse encarando o garoto. - Obrigada, mas esporte não é para mim.
─ E você, Elea?
─ Não estou afim. ─ Eleanor tentou não deixar visível seu ciúmes que começava a surgir.
─ Então vamos lá, Rae? ─ Mike perguntou sorrindo e Eleanor teve a vontade repentina de bater no garoto que era sua cópia masculina.
─ Você não vai com ele, combinamos de passar o dia juntas, Rae! ─ Eleanor levantou e segurou firme o braço de Rae.
─ Me solta, Eleanor! ─ Rae disse nervosa.
Eleanor soltou Rae e pegou sua bolsa no areia.
─ Até amanhã, Jane. ─ Olhou uma última vez para Rae e saiu da praia com os olhos marejados. Ela não queria ter agido daquela forma, ela vivia fazendo as coisas por impulso e isso era horrível. Ela odiava ter que lidar com seus sentimentos e se pudesse trocar de corpo com qualquer pessoa naquele momento, ela o faria.

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