— Pare de gritar! Você vai assustar os camelos.

Você puxou a vara por cima das pernas e a passou pela janela, apontando o laço para os animais. Você os observava com atenção. O suor porejava do seu rosto. Porejava do meu também, apesar do vento que entrava pela janela.

— Vou na fêmea jovem — você gritou.

— A que está mais perto de nós. Você pode dirigir um momento?

Você começou a se debruçar para fora da janela aberta.

— O que você está fazendo?

— Pegue o volante! — você ordenou.

Você não me deu muita escolha. Logo depois de dar a ordem se inclinou perigosamente para fora da caminhonete, que começou a se aproximar dos camelos. Se continuasse naquela direção, você acabaria batendo com a cabeça na traseira de um deles. Estive tentado a deixar que isso acontecesse.

— Pegue o volante agora!

Estendi as mãos. Podia ouvir os camelos grunhindo com o esforço da corrida. Podia ouvir você ofegar também. Segurei o volante. Estava quente e viscoso. Seu pé esquerdo estava pousado sobre o acelerador, e não nas proximidades do freio.

Sua perna direita estava apoiada na moldura da janela. Não havia como parar a caminhonete, caso fosse necessário.

— Dirija em linha reta!

Tentei não olhar para você nem para os camelos. Todas as vezes que fazia isso, começava a guinar na direção deles. Girei o volante para me desviar de uma touceira de triódias e quase joguei você para fora da janela.

— Meu Deus! Você ainda dirige pior do que eu!

Você lançou uma risada ao vento e eu contive meu riso. Tinha que me concentrar em não deixar a gente morrer.

Você enganchou a perna direita por trás da esquerda, se debruçou mais para fora e esticou a vara, puxando a corda que estava pendurada nela.

Sua coxa estava empurrando o meu braço; acho que você estava com ela ali para se equilibrar.

— Quando o laço estiver sobre a cabeça dela, saia do caminho. A corda vai se esticar toda. Se abaixe, se puder; se você se embaraçar na corda, ela pode cortar você em pedaços. Estou falando sério.

Olhei para o meu corpo esticado sobre o assento, e para as minhas mãos agarradas ao volante, pensando em como poderia sair do caminho de alguma coisa. Você pressionou mais o acelerador. A caminhonete chacoalhou e tremeu. Você estava pronto para jogar o laço. Todo o seu corpo estava retesado. Sua perna começou a pressionar mais o meu braço.

Eu me obriguei a continuar respirando. Seu braço estava levantado, pronto para fazer o arremesso. Você se debruçou mais para fora, com seu longo tronco esticado até o limite e todos os músculos tensionados. Será que se eu o empurrasse você cairia da caminhonete? Você rodopiou a vara sobre a cabeça, ganhando velocidade e impulso.

Então você soltou a corda.

Tive um vislumbre do laço caindo sobre a cabeça da camela. A corda zuniu pela caminhonete, queimando minha pele quando passou por sobre o meu braço. Arranhou também sua barriga nua, marcando você com um profundo vergão vermelho.

De repente a caminhonete começou a adernar, como que por conta própria. Senti o porta-malas guinando para a esquerda. Tentei desesperadamente girar o volante no sentido oposto.

— Largue! — você berrou.

Você se deixou cair sobre o assento do motorista, quase sentando em cima de mim. Segurou o volante com uma das mãos e o virou na direção da camela.

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now