Prólogo - O ÚLTIMO ATO DE JOÃO CARLOS

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Saio do banheiro e avisto meus amigos parados em frente a nossa sala. Vou andando até eles e assim que paro ao lado de Gutenberg — meu melhor amigo — percebo que estão falando sobre alguma festa.

— Qual é a festa da vez? — pergunto e vejo Eliza sorrir para mim.

— Vai acontecer uma festa lá na Neon, e a gente vai ter que fazer daquele mesmo jeito de sempre. — Ela diz sorrindo.

O jeito de sempre é esperar até o toque de recolher e então sair de fininho do dormitório, nos encontrarmos do lado de fora perto dos coqueiros e então saltar o muro.

Aos dezesseis anos, nós provavelmente temos que nos preocupar mais com os estudos e deixar as festas para quando formos mais velhos, mas, sinceramente, nós estamos com os hormônios à flor da pele, e só queremos deixá-los agir.

— Combinado! — digo sorrindo.

Então o nosso professor de Língua Inglesa chega à sala e todos nós entramos e ficamos em silêncio enquanto ele fala sobre as notas da prova que fizemos na semana anterior. Aparentemente, quase todo mundo tirou nota acima da média.

Essa questão das provas é complicada para mim. Eu e meu pai temos um acordo: eu devo tirar acima da média em todas as provas e ele me deixa usar o seu dinheiro para fazer o que eu quiser — como por exemplo, comprar uma moto ou algo assim —, mas se eu tirar abaixo da média em uma prova sequer, eu sofrerei com consequências que eu não posso nem imaginar quais sejam.

O professor passa entregando as provas e eu cruzo os dedos desejando um único ponto acima da média.

— Parabéns, Gutenberg! — O professor diz entregando a prova para o meu amigo que se senta em minha frente.

— Sinceramente, não entendi a sua nota, João Carlos. — Ele diz e então me entrega a prova.

Fico olhando para o número escrito em caneta vermelha no topo da prova e fico com os olhos arregalados, porque aquela nota com toda certeza não será ignorada por meu pai.

— Quanto você tirou? — Gutenberg diz se virando para trás e eu mostro a minha prova para ele. — Zero? Não acredito!

— Meu pai vai me matar! — É tudo o que eu consigo dizer.

Joca e Os CarasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora