Capítulo Cinco: Revelações, Deixo de Ser Um Cão do Exército

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Marshall


Vejo-me no centro do Setor Illen olhando pela janela embasada do expresso 236 rumo a Black hawk. É inevitável eu estar em um dos setores em quarentena e ver tantas pessoas contaminadas pelo Siruss e não pensar na Mellanie, já tem sete anos de sua morte e eu ainda não consigo acreditar que ela morreu. Cada pessoa de cabelos brancos que vejo eu penso que é a minha Mell.

Tento a todo custo ocupar minha mente, distraí-la dedicando cada minuto de meu tempo ao exército, ainda vingarei sua morte, os Nacionalistas pagaram por cada vida que sucumbiu a doença, por cada uma das pessoas que sofreu e sofre.

Por estar em quarentena devido ao Siruss e a poeira que o carrega os portões do domo de Illen agora sempre ficam fechados, estranho passar por aqui já que as rotas de transportes foram mudadas para desviar dos setores mais consumidos pela doença.

Altair prometeu cuidar das pessoas doentes e encarregou a corporação Sile Mëllen para isso, mas não fizeram nada para salvá-los e depois de tanto tempo tudo continua na mesma, apenas nos setores ricos a Sile Mëllen agiu com eficiência, mas nos setores pobres levou todos contaminados e esses nunca mais foram vistos, tentaram apenas impedir a epidemia e pior ainda nos que sofreram os atentados ela simplesmente colocou em quarentena e fechou seus domos, então esqueceu-se de todas as pessoas, abandonaram os setores.

Mesmo já tendo uma década desde As Cinco Tempestades Siruss, a poeira negra ainda espalha-se ao vento nos setores que sofreram os atentados, sem poder se dispersar devido aos grandes domos que a prende. Tingindo tudo da cor da morte e do medo que sempre representou, cobrindo as ruas, os prédios e as pessoas que já estão condenadas à morte devido à exposição.

Pessoas que tiveram a infelicidade de não desenvolverem os sintomas mais agressivos da doença e morrerem de imediato sem estender seus sofrimentos, ainda tentam levar suas vidas normalmente, algo impossível depois dos atentados virais, principalmente nas áreas mais afetadas.

Exceto soldados ninguém mais sabe o que acontece nos setores que foram consumidos pela doença e permanecem em quarentena. Para a maioria dos setores o vírus está completamente controlado e há poucos casos de pessoas diagnosticadas, a Sile Mëllen mantêm "todos" em segurança, mas nos cinco setores não há cura e nem lei.

Subitamente o trem para bruscamente, as rodas chiando ao frearem nos trilhos como se ele tentasse parar em um instante e somos avisados por uma voz mecânica vinda das paredes que não estamos nos movendo por problemas técnicos.

O Clark levanta-se de onde está e senta ao meu lado. Ele não diz nada, apenas como sempre começa a ficar inquieto e se mexer no banco trocando de posição incansavelmente.

As portas destravam e rangem ao se abrirem. Nós estamos em uma zona de risco, onde é expressamente proibido qualquer contato devido a possíveis riscos de contágio. Um soldado em tom de urgência entra no vagão que estamos e nos notifica que um grupo de habitantes está atacando os outros vagões em tentativas desesperadas e obviamente frustradas de saque.

Soa até nós uma rajada de tiros vindo dos outros vagões e momentos depois um grupo de civis surge entre prédios deteriorados à frente da porta, eles se aproximam correndo, quase todos estão armados apenas com armas brancas, porém há alguns que portam antigas armas de fogo.

É autorizado que abramos fogo, quando os primeiros tiros são disparados derrubando civis desesperados, lembro-me dos soldados atirando contra as pessoas em frente ao portão de Dylan. Os gritos soam em meus ouvidos como naquela noite, sei que o Marshall de dezesseis anos atrás me odiaria por atirar em inocentes, estou me tornando aquilo que sempre odiei.

Walking For Silence - InsurreiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora