6 - O NASCIMENTO

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Em uma manhã de sexta, nas ruas de Arvoredo, pessoas caminhavam, pássaros cantavam sob as sombras das árvores, vizinhos cortavam suas gramas e crianças se preparavam para ir à escola. Bem, era uma manhã comum, em um dia comum na grande metrópole, mas a realidade muda quando focamos para outro ponto da cidade, na parte que parecia ter sido esquecida pela grande parte da população de classes mais elevadas e também pelo governo local.

Em um pequeno casebre, numa das favelas de Arvoredo, uma bela jovem se apoiava na pia da cozinha sentindo fortes dores em sua barriga. Era Esmeralda. A guerreira Esmeralda. Que carregava em seu ventre um garoto saudável e pronto para nascer. A bolsa tinha acabado de estourar e a jovem gritava pedindo ajuda. Com pequenos e cuidadosos passos a jovem foi até a porta, andou pelo pequeno gramadinho em frente à sua casa e gritou pela sua vizinha.

- Dona Cida!! Dona Cida! Me ajuda!!

Dona Cida era vizinha e amiga de Esmeralda. Elas se conheceram no primeiro dia em que a jovem mudou-se para sua pequena casinha. Foi instantâneo! Surgiu uma grande amizade entre elas... cheia de segredos e companheirismo. Uma ajudava a outra e a pequena idosa (mas cheia de vitalidade), que vendia peixes na feira do bairro e sempre esteve por perto, cuidava dela como se fosse uma filha.

- Oi, minha filha, o que está acontecendo? Porque tantos gritos??! - Vinha a senhorinha assustada ao seu encontro.

- Ele vai nascer, Dona Cida! O meu filho está pra nascer! - Dizia Esmeralda segurando a sua barriga. - A bolsa acabou de estourar. Me ajuda! Me leva ao hospital! 

- Oh meu Deus! - Exclamou a senhorinha.

Dona Cida rapidamente entrou em casa, pegou a sua bolsa, trancou a porta e foi até a casa da amiga pegar o necessário. Não demorou muito pra que a senhorinha ligasse o seu carrinho modesto. Em seguida, partiram em direção ao Hospital Municipal de Arvoredo, que felizmente ficava há poucas quadras dali.

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Esmeralda recuperou-se do seu acidente, saiu do hospital, finalmente conseguiu um emprego como cozinheira em uma creche infantil (que fica no lado mais humilde da cidade) e comprou um pequeno casebre em uma das favelas da região, próxima ao local de trabalho. Sozinha, ela apagou todos os seus rastros para que a família Napoleão e seus antigos amigos jamais a encontrassem novamente. Queria viver em paz e sem lembrar daquela época que viveu.

Vivia de forma mediana, apenas com o básico - já que o salário que ganhava apenas dava pra comprar poucas coisas e pagar as algumas contas - fazia dois turnos e mesmo com uma barriga já evidente, não sentia preguiça, pelo contrário, sempre agradecia à Deus, todas as noites antes de dormir, por mais um dia de vida. 

Era uma rotina cansada? sim, era, mas Esmeralda sentia lá no fundo que deveria continuar lutando para conquistar cada vez mais o seu espaço na Terra.

Com sete meses de gestação, pediu licença do trabalho. A barriga já estava bem grande (o que fazia com que suas colegas de trabalho brincassem que tinham dois bebês ali dentro), mas, felizmente para ela era apenas um, bastante saudável por sinal e que sempre fora calmo... Não chutava muito e nem fazia com que ela sentisse enjoos, se tirasse as dificuldades da vida, poderia muito bem conviver feliz com a quietude daquela gestação.

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Esmeralda chegou no hospital reclamando e aos gritos. A dor aumentava cada vez mais. Uma enfermeira rapidamente a socorreu e a levou até um quarto, por uma cadeira de rodas. Uma hora depois, mais precisamente às 10h da manhã, nascia um belo menino! Yuri chegou ao mundo com bastante chororô e sorrisos por parte da mãe... Sua chegada já era aguardada por muita gente.

ATEMPORAL (Romance Gay)Where stories live. Discover now