City of Angels [joshler]

apenas, vá para casa

pedalo rapidamente pelas ruas, enquanto clocks do coldplay vibra em meus fones de ouvido.

estou um pouco atrasado.
eu deveria estar no hospital estadual de seattle às 18h para iniciar o plantão.

agora são 18h35.
okay, eu estou muito atrasado.

só espero que stela, minha preceptora da residência, não esteja me esperando no vestiário para uma bronca que só ela sabe dá.

geralmente, eu não sou irresponsável com meus horários, mas hoje eu estava na casa de meus pais. que fica a uma distância razoável do hospital. infelizmente, papai não pôde me trazer e como eu havia ido para lá de bicicleta, voltei com a mesma para cá.

deveria ter saído mais cedo... ou talvez seja melhor comprar um veículo de locomoção mais rápido para ir ao trabalho, penso enquanto desço e estaciono millenium falcon, minha bicicleta.

18h45.
não está tão ruim.

"boa noite, thomas." cumprimento o guarda da entrada de serviço do prédio.
"boa noite, dr. joseph"

insiro meu cartão de identificação no espaço indicado na catraca e minha entrada é liberada.

ando, apressadamente, pelo corredor branco em direção ao almoxarifado de roupas do centro cirúrgico.

"olá, jude. um conjunto m, por favor." digo para a mulher idosa que está atrás do balcão sentada em uma cadeira, provavelmente, nada confortável.
"aqui está, tyler." ela sorri e me entrega um conjunto verde desbotado.
"obrigado!."digo, já saindo.

vou correndo para o vestiário com o uniforme e o cartão de identificação em mãos. coloco-o no suporte de liberação do vestiário masculino e entro no local.

retiro minhas roupas e embolo dentro de minha mochila. destravo o cadeado de meu armário, pego meus desgastados converse branco e meu querido estetoscópio e jogo minha mochila em seu interior.

19h

olho no espelho e verifico minha imagem:
estou, devidamente, vestido com o conjunto do c.c., que mesmo sendo m, fica gigante em mim. o cartão de identificação, está no crachá em um cordão (com vários capacetes stormtroopers estampados) pendurado em meu pescoço, com o esteto em seu redor.
passo as mãos em meu cabelo castanho escuro para ajeitar meu pequeno topete, suspiro fundo e vou para o elevador com destino à sala de supervisão.

+++

"você perdeu a passagem de plantão, tyler. onde você estava? nunca se atrasou tanto..." brendon, meu colega de residência e melhor amigo, cochicha próximo à mim, enquanto lemos a evolução do dia nos prontuários dos pacientes da uti que somos responsáveis.

"estava na casa dos meus pais, bren." digo. "fazia tempo que não os visitava e eles já estavam reclamando demais: 'ah, meu amado filho mais velho nem lembra da existência dos pais e blá blá blá'." faço uma imitação ridícula da voz de mamãe.

"nossa, sei como é. Meus pais fazem o mesmo drama." ele fala. " de qualquer modo, teve sorte que stela não veio hoje para a supervisão, ela ta sendo deusa no congresso anual em new york."

"ah." resmungo em resposta.

brendon e eu nos conhecemos quando estávamos estudando medicina juntos na seattle university. foi amizade à primeira vista.
fazíamos todos os trabalhos juntos, estudos para as provas, festas no campus, compartilhamos os porres, sorrisos e lágrimas.