5 Templários

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Sexta 17:00

Acordo desorientado. Meus olhos lacrimejam sem motivos evidentes, marcas por todo o meu corpo, como se eu tivesse sido atacado por um animal. Um odor forte e desagradável está empestando o lugar onde estou. Aliás, onde estou? Uma casa velha, a luz entra por buracos nos telhados e reflete nas goteiras que derramam gotas, feito as lágrimas inexplicáveis que caem de meus olhos.

Não ouço barulhos, nem os meus. Ainda desorientado vou até outro cômodo do que parece ser a casa, este cômodo tem vários assentos e um altar. Talvez não seja uma casa, seria uma igreja? Neste estado?

Em frente ao altar, uma mulher. Me aproximo lentamente e a cena que vejo traz motivos às minhas lágrimas.

Quinta/Sexta 00:00

"Estamos indo para o local sagrado, nos encontre lá". A mensagem de confirmação me traz alegria e certo medo. O combinado é que nós nos encontremos em frente à igreja abandonada, apenas lá poderemos estar unidos fisicamente e espiritualmente. O pentagrama tatuado em meu peito esquerdo já diz tudo.

"Cheguei na igreja, onde vocês estão?". Minha mensagem não chega para nenhum do grupo. Acho estranho, mas decido entrar sozinho. Me surpreendo, eles começaram o culto sem mim. Mesmo sendo convidado de honra, eles decidiram iniciar sem mim. Me chateio, mas sigo em frente.

Me posiciono na quinta ponta do pentagrama, mas algo me chama a atenção. Nossa oferenda já está vestida, não é usual que a virgem de sangue puro vista branco.

Quarta 13:00

Eu e meu namorado encontramos o garoto perfeito para ser a 5º oferenda amanhã. Ele é um garoto rebelde, cristão por obrigação, virgem e puro de coração. Nosso mestre gostará de sua presença.

Já organizamos tudo, amanhã às 3:00 AM estaremos prontos para nossa partida. A adaga que nos trará o prometido está afiada. A seiva do sangue de nosso bode foi colhida. E o mestre já fora contatado.

Sexta 17:15

As lágrimas escorrem, a alegria contagia. Vejo nossos corpos ensanguentados e nosso mestre sentado no centro do pentagrama. O saúdo e me sento acima de meu antigo corpo, na quinta ponta do pentagrama. Meus 5 amores em suas respectivas pontas me dão as boas-vindas.

Sinto meu corpo se preencher com os pecados e isso é ótimo. São acalentadores e doces.

No afago do escurecer meu corpo padece e as pontas se tornam um corpo e um só espírito. Adormeço no anseio de acordar no lugar prometido por ele.

Sexta 17:00

É escuro e frio, ao mesmo tempo me cega e esquenta. Que lugar é esse? Óbvio, é a dimensão para os vencedores. Ledo engano.

Meus olhos rodeiam o lugar, mas não vejo nada. Minhas vestimentas estão feito pedra, um líquido viscoso em minhas mãos. Procuro por algo para iluminar o lugar e acho minha vela. Ao adormecer eu a apaguei com meu corpo, acendo-a e ando dois passos, até esbarrar em alguém, mesmo com a vela não consigo enxergar mais que uma mão do corpo. Acendo então as velas do pentagrama e o que vejo é assustador, mas presumível.

Quinta/Sexta 00:00

Nós não devíamos ter sequestrado esse garoto, mas nosso mestre insistiu e eu como mero templário cumpri as ordens.

Preciso de algo para me manter são, as vozes sussurram em meus ouvidos, enquanto posiciono meus amados em seus devidos lugares. A faca, gélida, em minha cintura incomoda, mas logo ela esquentará com o sangue puro de meu amor por todos eles.

É chegada a hora, devo contatar meu mestre e oferecer meus amores para permanecer no local a mim prometido.

"Ave Baphomet, meu coração leve e puro clama teu nome! Ave Baphomet, meu lugar a teu lado me dê! Seja feita a carne pela carne, o sangue pelo sangue! De chama a chama percorrer seus reinos! Deite-se em meu punhal e deleite-se de minhas oferendas"

Um a um corto-lhes o pescoço e deito-me no centro do círculo de sangue, representando o mar de pureza e lealdade. Ao terminar o ato, injeto minha lucidez em minhas veias e adormeço.

Meses depois...

Desde então, vivo num looping eterno destes momentos, entre a sanidade e a loucura, entre a dor e o prazer, todo o sangue derramado não foi em vão.

Meu mestre me observa e fala constantemente comigo, mas não me levou à sua dimensão, aquela que me prometera um dia. Foi inconsistente em sua promessa, mas ele tem seus motivos, fui fraco e não matei o sexto amor, aquele que naquele momento, apenas cabia a mim oferece-lo.

Hoje, atrás de grades de ferro e olhares de fogo, contesto meu lugar prometido. Vou completar o ciclo por mim iniciado naquela noite. Declaro então nestes parágrafos, que a próxima morte será apenas em prol de meu mestre.

Sou hoje capaz de oferecer a meu superior o amor que naquela noite não fui capaz de entrega-lo.

"Ave Baphomet, meu coração leve e puro clama teu nome! Ave Baphomet, meu lugar a teu lado me dê! Seja feita a carne pela carne, o sangue pelo sangue! De chama a chama percorrer seus reinos! Deite-se em meu punhal e deleite-se de minha última oferenda, seu fiel e único servo."

Enquanto meu sangue se esvaia no chão, meu mestre resgatou minha alma e me levou, finalmente, a meu inferno particular, ao lado de todos meus amores, a torturá-los e amá-los, sem mais vozes me dizendo o que fazer. 

5 TempláriosWhere stories live. Discover now