1 - UMA BORBOLETA BATE AS ASAS

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1995.

Uma borboleta bate as asas no jardim principal do Hospital Público de Arvoredo. Lá dentro, em uma pequena sala totalmente branca, uma linda mulher negra dá a luz ao seu primeiro filho. Foram exaustivas horas sentindo dores, e finalmente, às 10h da manhã, o pequenino Yuri nasce trazendo alegria para Esmeralda. 

Após a limpeza do pequeno e da enfermeira constatar que ele nascera saudável, sua mãe pôde finalmente pega-lo no colo e registrar mentalmente os traços presentes na criança. Yuri nascera com uma maravilhosa pele negra, um pouco diferente da de Esmeralda, já que a dele era mais clara, porém não podia-se negar que a principal identidade da mãe ele herdara. 

Traçando seu pequeno nariz, suas fofas e coradas bochechas e seu cabelinho ralo com os dedos, Esmeralda silenciosamente agradecia à Deus por tudo ter dado certo na hora do parto. Quem a visse dias atrás duvidaria que esse momento fosse acontecer. Sofria muito com a dura realidade em que estava vivendo e até chegou a duvidar que fosse estar viva após o parto, mas, o seu pedido à Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, tivera êxito. Agora, só restava agradecer e pedir, novamente à Deus, que o caminho dela e do seu filho fosse cheio de saúde e paz.

- Meu amor, eu te prometo que farei o possível e o impossível para que nada de ruim te alcance. Eu te desejo saúde, felicidade e bastante força, para que possa enfrentar os obstáculos que aparecerão em seu caminho. - dizia com a voz baixa, olhando para o seu filho - Que tenhas caráter e uma boa educação para poder chegar em todos os lugares... Meu menino, a mamãe não pode te jurar a eternidade, mas te jura amor eterno. Mesmo que o destino seja traiçoeiro conosco, jamais deixarei de te amar. Meu pequeno Yuri... Yuri Silva, somos nós dois contra o mundo. 

Não havia somente Esmeralda e Yuri naquele quarto. Na janela, uma borboleta azul turquesa batia suas pequenas asas e parecia observar os dois, como uma prova de que a natureza já traçava seus caminhos. Silenciosamente ela parecia guardar aquela imagem única. A imagem do momento em que uma mãe conhece o seu filho pela primeira vez. E, foi naquele exato momento, que algo pareceu mudar. 

Algo naquela cidade pareceu tomar outro ritmo, ninguém sentiu algo estranho de repente ou o tempo fechou-se de vez, não! Era outra coisa... parecia que Arvoredo tinha entrado em uma nova era... E as borboletas sabiam, ah, elas sabiam! Que aquele nascimento traria, no futuro, grandes e importantes consequências.

  Ƹ̴Ӂ̴Ʒ  

- Quero essas taças completamente limpas! Não quero encontrar uma mancha ou sujeira sequer nelas. Estou de olho em tudo o que vocês fazem. Não tentem me enganar, não tentem esconder o que quebraram e o mais importante, não façam um trabalho medíocre. Entenderam? - falava de forma rude Suzana, governanta da mansão dos Napoleão. 

- Entendemos! - responderam em coro, os empregados.

- Ótimo! Agora irei até o salão principal averiguar o resto da mudança. Façam o trabalho de vocês.

Alguns seguranças e a equipe de mudanças da cidade trabalhavam de forma rápida naquela enorme mansão que era localizada em um dos pontos mais altos de Arvoredo. Uma importante família estava para conhecer o seu mais novo lar. 

Eram os Napoleão. Donos do maior e principal conglomerado midiático do país. Seus membros residiam separadamente em outra cidade, mas, após alguns fatídicos eventos, decidiram se unir justamente naquele local que mais parecia um castelo (ou quase isso). 

Alguns carros começavam a passar pelo portão principal da mansão. Para a época, eram carros de ultima geração, dos mais diferentes tipos. Ao todo eram 6, trazendo os novos residentes do local que fora adquirido por milhões. Na entrada do casarão, uma belíssima e séria mulher de aproximadamente 40 anos aguardava o pessoal. Era Suzana, governanta há 10 anos da família. Para alguns, era o próprio demônio em forma de gente, para outros, era uma mulher extremamente misteriosa, mas confiável e que sabia guardar os maiores segredos daquela família. 

Desde que começara a trabalhar para aquelas pessoas Suzana usava preto. Sapatos, casacos, saias longas, vestidos, meias, enfim, tudo era naquele tom escuro. Nunca ninguém ousou questiona-la sobre o seu gosto para moda (se é assim que podemos dizer). A imagem que ela passava era de que estivesse vivendo em um eterno luto, entretanto, nada conseguia apagar a beleza do seu rosto. Era uma mulher linda que transpirava ainda jovialidade.

Uma borboleta bate as asas no jardim principal daquela mansão. Quieta, próxima das rosas vermelhas que cercavam os muros daquele casarão, ela observava a chegada dos novos moradores. Estava registrando aquele momento nada ímpeto. 

A natureza, mais uma vez, era testemunha daquela história... que muitos achavam ter acabado, mas que na verdade estava entrando em uma nova fase. 

ATEMPORAL (Romance Gay)Where stories live. Discover now