Pelo amor ou pela dor

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- Bom dia.

- Bom dia! Não pensei que ia chegar tão cedo.

- Dona Clara disse que era importante, então não quis me atrasar.

- Não é nada de mais. Ela me deu o dia de folga e pensei que talvez...

- Eu adoraria.

- Você nem sabe o que eu ia dizer.

- Se for para estar com você, não me importo.

Miriam ficou corada e não sabia onde enfiar a cara, Tomé percebeu o que disse por impulso e também ficou sem saber o que fazer. Foram salvos pelo menino-rádio, vinte e quatro horas no ar. Leo já chegou falando tanta coisa ao mesmo tempo que ele mesmo se perdeu em suas palavras e saiu como entrou, "super" veloz.

- Desculpe, às vezes acho que ele é adotado.

- Eu te cortei enquanto estava falando. Termine, por favor.

- Pensei em comprar umas coisas e queria uma companhia.

- E quando sairemos?

- Assim tão fácil? Lembre-se de que sou mulher e vou acabar indo em várias lojas.

Ele chegou perto do ouvido dela e falou baixinho para que só ela escutasse:

– Lembre-se que sou um homem apaixonado e esse tipo de coisa não me abala.

Eles estavam tão próximos e iam se beijar quando, de botuca no sofá, Leo acabou caindo tentando escutar o que diziam.

- Leo! Já não disse que é feio escutar a conversa dos outros? Vai já pro quarto.

- Agora que ia ficar bom. – De cara amarrada e contrariado, ele obedeceu.

- Ele não toma jeito.

- Crianças são assim mesmo. Pode não parecer, mas eu fui bem travesso quando pequeno.

Ao lembrar de sua infância, acabou sem querer chamando atenção do espírito de Elisa, que estava com Carlos na cadeia e, com a velocidade do pensamento, chegou até onde eles estavam.

- Não posso me distrair um segundo que você já corre para essa aí. Não adianta tentar, eu te proíbo de ser feliz! - Elisa tentou manipular os pensamentos do irmão, mas não conseguiu. Lucas e Raquel, junto do espírito protetor de Tomé, o haviam orientado a orar e vigiar com mais afinco e isso levantou uma barreira contra ela.

- Mas o quê? Como assim você não me escuta mais? – Ela tentou e tentou e nada conseguiu, resolveu acompanhar e entender o que estava acontecendo.

- Dona Clara, estamos de saída. Se Leo fizer alguma arte, pode puxar a orelha dele.

- É isso, o garoto! – Elisa correu no quarto e falou ao ouvido de Leo, que deu um pulo da cama. Ele a ouviu perfeitamente e, com o susto, acabou batendo com a cabeça na parede o que rendeu um belo corte. Ele só gritou quando passou a mão na nuca e trouxe a mão melada de sangue. Ela não queria que ele se machucasse e ficou desesperada pensando que havia matado o garoto.

- Irmã! – Ele gritou o mais alto que pode antes de desmaiar.

Leo e Miriam correram para ver o que acontecia. Até mesmo Clara, que havia entrado no banheiro para tomar banho, veio até eles.

- Meu Deus, Leo!

Tomé o pegou no colo e sentiu o sangue escorrendo pela cabeça do menino. Entrou com ele no banheiro e ligou o chuveiro, limpou a ferida. Leo despertou para alívio de Miriam, que quase morreu com o susto. Ela pressionava uma toalha o melhor que podia sobre a ferida enquanto pegavam um táxi para o hospital.

As escolhas de cada umOnde as histórias ganham vida. Descobre agora