Alma tênue

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Chegado em casa. Visto meus trapos despojados. Engulo todas aquelas frases metrificadas. A cama me espera, a escuridão bate à porta do meu quarto. Prolongo o ápice da minha caminhada, vou tomar um café. Todo momento para mim é uma desculpa para atuar como um cansado. Minhas motivações adormecidas roncam tão alto que despertam minha ira.

Me olho no espelho, testo alguns sorrisos, cada um à uma visão diferente. Minha moral discorda, mas meu inconsciente sabe que meu desagrado é enorme. Desagradar a platéia fingida é minha arte, um espetáculo que ninguém escapa. Depositaram expectativa na linhagem errônea. Tantos livros na estante, tanto cuidado e atenção jogados sobre um corpo esculpido em pés de argila. Ensinaram-me a capacidade de correr tão rápido para conseguir voar, mas eu gosto da dor em meus joelhos rastejantes.

Um degrau acima ou abaixo, estou feliz com a minha descida até aqui. A montanha íngreme da minha história está estremecida, as bandeiras no topo despencam, arrastam os pilares da minha infância. Zerei a vida. Isso, estou no zero. Meio pé na maioridade nunca significou tão pouco. Meus amigos desconhecidos me saúdam, mostram-me suas namoradas, seus títulos juvenis, medalhas pesadas. Tudo que eu tenho é uma caixa antiga, rasgada e bagunçada, com acordes fora de melodia e manuscritos de um analfabeto. A bagunça sempre pôs em ordem os meus desejos e devaneios, dentro da minha vida ao avesso.

Alguns devaneios...Onde as histórias ganham vida. Descobre agora