CAPÍTULO 7 - UMA NOITE DE PAIXÃO E MORTE

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A lua cheia ascendia no céu quando o barco de Robert ancorou na ilha Griplen. Como para cumprir o que ele havia dito à Lucy, não se via uma única estrela no céu naquela noite. Mas a lua estava manchada de sangue, o que somado ao corvo que caiu morto aos seus pés, só podia significar que algo terrível estava a caminho.

Levado pelo instinto, Robert deu a volta por trás da mansão, e se esgueirou silenciosamente até a porta do galpão. As janelas daquela construção ficavam altas demais para que qualquer pessoa pudesse espiar através delas, mas deixavam escapar uma luz baixa e fraca que certamente vinha das velas acesas. Deduzindo que o pai ainda podia estar lá dentro, Robert caminhou até a porta, e muito calmamente, abriu uma fresta para espiar lá dentro, cuidando não fazer nenhum ruído.

Como havia percebido antes mesmo de se aproximar, as velas simetricamente espalhadas pelo galpão estavam acesas. Havia um círculo de cal desenhado bem no meio do salão, e dentro dele, desenhados com terra, os vinte e quatro símbolos rúnicos: uma das últimas conexões com seus ancestrais. Acompanhando o contorno do círculo, também pelo lado de dentro, jaziam doze carcaças sanguinolentas de doze corvos mortos. O corvo, em sua comunidade mística era reconhecido como o espectro da morte, um arauto que vinha à sua frente para escolher a alma a ser levada por ela. Quando um corvo era usado em um ritual, a intenção não podia ser outra, senão invocar a morte.

Robert estava horrorizado. George Griplen ainda estava no centro do círculo, vestido com o manto negro. Tinha numa das mãos uma agulha longa, embebida em sangue – o sangue dos doze corvos mortos –, e na outra, uma boneca de vodu, vestida com o lenço de cetim branco de Lucy; um lenço que ele não podia ter surrupiado de outro lugar, senão do quarto de Robert.

George, sem perceber a presença do filho na porta, começou a murmurar palavras de maldição numa língua que Robert fora obrigado a aprender desde menino – a língua de seus ancestrais da Velha Ordem; uma língua que para o resto do mundo está morta há séculos, mas que sua família e os poucos remanescentes de sua comunidade mantinham viva somente para a prática de seus rituais.

Robert ouviu muito superficialmente as palavras que seu pai murmurava, mas o bastante para compreender o que ele fazia. Infelizmente, não conseguiu invadir o galpão a tempo de impedir que ele atravessasse o ventre da boneca com a agulha amaldiçoada.

George ainda murmurava a maldição quando Robert empurrou a porta, correu para dentro do salão e lhe arrancou das mãos a boneca mutilada, para retirar a agulha de seu ventre. O sangue pingava no chão, na beira do círculo, e Robert começou a murmurar um contrafeitiço, para tentar anular a maldição de seu pai; no entanto, antes que terminasse, as velas ao redor do altar profano foram apagadas por um sopro espectral.

– Está feito! – declarou George Griplen, com um sorriso sádico e satisfeito, enquanto despia o capuz do manto negro. – Aquela infeliz nunca conceberá um filho seu, ou de qualquer outro. Ventre seco! Esta será a punição por sua teimosia, Robert.

O coração de Robert encheu-se de ódio naquele instante, a ponto de o veneno lhe escapar pelos poros como suor. Seus olhos se cobriram de sangue, conforme permitia que o ódio crescesse em seu interior, e corresse como fogo por suas veias.

– E a sua punição será arder no inferno! – amaldiçoou Robert, antes de virar as costas e sair pisando duro do templo pagão.

Por todo o caminho enquanto contornava a casa, dirigindo-se de volta ao pequeno cais na margem da ilha, Robert murmurava na língua de seus ancestrais. O fogo em suas veias agora superaquecia o ar ao seu redor, e deixava uma trilha de areia queimada demarcando seus passos. Agnes Griplen correu para a soleira ao sentir o ar pesado e sufocante que agora envolvia a mansão, e viu, horrorizada, a intensidade do sangue que inflamava os olhos de seu filho, enquanto ele invocava, enfurecidamente, uma maldição para vingar-se do pai.

As Noivas de Robert Griplen - Parte 1 - MaldiçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora