Capítulo 2

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Na semana seguinte, Kihyun ainda queria entortar o nariz de Changkyun. Os dias após o incidente do corredor foram os piores de sua vida. Aquele idiota não parava de o perturbar quando podia, e quando Kihyun o ameaçava de morte ou tortura ou escalpelamento, ele fazia questão de lembrá-lo que sabia do segredinho dele, e isso já era suficiente para Kihyun calar a boca.

Basicamente, ele estava sendo chantageado em pleno ambiente escolar.

— Changkyun disse que vai me deixar em paz se eu for assistir o jogo dele — Kihyun comentou durante a aula de artes. Jooheon, ao lado dele, realizava um trabalho minucioso de colar pedrinhas em um boneco de macarrão.

— Bom, você gosta de basquete.

— E detesto Changkyun.

— Ah, Kihyun — Jooheon parou seu trabalho para olhá-lo com desgosto. — Tu para. Passou a semana toda reclamando do carrapato e agora que tem como se livrar, não quer?

— Quem te garante que se eu for ele ainda não vai continuar me perturbando? — Kihyun perguntou e Jooheon deu de ombros, deixando-o se afogar sozinho em seu próprio mar de dúvidas.

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O barulho do sinal do intervalo foi um alívio para Kihyun. Saiu da sala de artes cheio de cola nos dedos depois de ajudar Jooheon com o maldito homem-macarrão, e virou no corredor em direção a sala de Minhyuk, enfrentando até mesmo a contra-mão de alunos esfomeados apenas para garantir sua chance de acompanhá-lo até o refeitório, e talvez até conseguir conversar além do básico. 

No entanto, quando Minhyuk saiu de sua sala, ele não estava desacompanhado, como Kihyun esperava, e sim com um garoto, lado a lado e sorrindo como se o mundo dos outros — do nosso protagonista, especificamente — não estivesse caindo aos pedaços. Minhyuk muito mal o notou ali e não era como se antes já notasse tanto, mas naquele momento foi pior do que tudo.

A única visão que Kihyun teve de Minhyuk foi de suas costas sumindo na curva do corredor ao lado daquele dissimulado quer-quem-seja. Ele seguiu a mesma direção quase sentindo uma nuvem de chuva em sua cabeça, até Jooheon acordá-lo de sua melancolia com um tapinha nos ombros.

— Não vejo Minhyuk. Deu tudo errado?  

— Absolutamente. Ele saiu da sala com outro garoto e mal notou que eu existia ali. E meu cabelo é o único rosa nessa escola inteira, não é difícil me notar...

Jooheon mordeu o lábio e ficou em silêncio com cara de pena ou de que tinha mordido uma bala bem dura. Aquele simples gesto já era suficiente para Kihyun saber que ele estava escondendo algo. Conhecendo-o com a palma da mão como ele conhecia, não era difícil ler os sinais.

— Desembucha, Jooheon.

— D-Desembuchar o quê, garoto? Eu hein. Minhyuk está te deixando doido. — Jooheon disse meio exasperado. Kihyun protestaria contra e insistiria até ele falar, mas quando viu Hyungwon a caminho, saiu puxando o amigo para a fila do almoço. 

— Código Chae?! — Jooheon sussurrou em desespero.

— Ajeita esse cabelo de espantalho e bota um sorriso nessa sua boquinha linda, porque ele está vindo em nossa direção.

Chae Hyungwon era um garoto bastante popular. O mais alto de sua turma, conseguia ficar bonito até mesmo de uniforme. Rumores diziam que ele estava treinando para ser modelo, e iria desfilar em uma agência famosa quando se formasse. Talvez ele fosse até mais cobiçado que Changkyun. Entretanto, em meio à tantas pessoas que ele poderia namorar ou beijar ou... o que quer que fosse, ele escolheu logo Jooheon. O pateta e desastrado e ruim em exatas Jooheon, que fez da primeira vez que tiveram contato um eterno desastre envolvendo leite de morango e respingos pelo corredor inteiro.

E, bom, Jooheon já não era lá o mais extrovertido do mundo, e depois do desastre que ocorreu, ele fugia de Hyungwon como o diabo foge da cruz. Este, por sua vez, de alguma forma se sentia ainda mais atraído a se aproximar, e já tinha tentado de tudo bem como Kihyun havia. Parando para pensar, os dois até que eram bem parecidos.

— CARAS! — Shin Wonho surgiu do além para agarrar os dois amigos pelo pescoço em um abraço um tanto sufocante. — Por que estão com essas caras? Hoje é dia do onigiri!

— Wonho, hey! Hyungwon está vindo e Jooheon está em pânico.

— Não estou em pânico! — É claro que estava.

Mas já era tarde para Jooheon acalmar seus ânimos, pois Hyungwon havia chegado lindo e etéreo como sempre. Cumprimentaram-se todos.

— Jooheon, pegue dois onigiris custe o que custar. Um é meu. — Kihyun agarrou a mão de Wonho. — Vou tratar de uns assuntos com Wonho — e saiu.

Wonho não exatamente protestou contra a ação, mas quando se afastaram, ele acabou entendendo o motivo. Deixar Jooheon e Hyungwon sozinhos, é óbvio.

— Kihyun, Jooheon vai nos matar. — Disse Wonho. Eles se olharam e caíram em risadas logo depois disso. — Você vive tentando dar uma de cupido com os dois mas nem se ajuda com Minhyuk. Como está a situação?

— Oh, bem... ele me abandonou.

"Abandonou"? Pare de ser dramático. Vocês muito mal tem uma amizade.

— Mesmo assim! Eu tomei iniciativa para enfim construir uma hoje, mas ele saiu da sala agarrado em outro garoto sem sequer me olhar.

— Ai, Kiki, que vida amorosa complicada essa sua. Você precisa de uma poção do amor pra facilitar. — O tom natural de Wonho fez Kihyun entender que ele estava falando sério. E aí, ele riu.

— Você está realmente falando sério? — Perguntou Kihyun entre risadas.

— Quem disse que não? Se você quiser uma, eu posso arranjar.

— Você precisa arranjar é um médico, isso sim.

POTION OF LOVEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora