Cap. 12 - A Família Pierce

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Steven Engel

Eu não podia dizer simplesmente: "Eu prefiro passar quase uma dentro de um táxi qualquer fedendo à charutos do que enfrentar mais cinco minutos de vergonha ao seu lado mesmo que estejamos indo para a mesma droga de lugar" sem parecer ainda mais idiota diante de Mike - a simples ideia em pensamento já era capaz de fazer com que eu quisesse me estapear, então era exatamente por isso que o quaterback e eu caminhávamos lado a lado em direção ao estacionamento, afundados em um silêncio sufocante que estalava nos meus ouvidos.

Eu precisava fazer alguma coisa... Dizer alguma coisa... Não importava muito o que seria, eu só sentia a necessidade de parecer menos estúpido.

Eu não era homofóbico. Ou, pelo menos, eu me esforçava para não ser; mas a família Engel era conhecida por sua intolerância. Vindo de onde viemos, com nossa árvore genealógica sendo plantada na América graças à um coronel nazista fugitivo que não perdeu tempo antes de se associar à grupos de supremacistas brancos, não era difícil imaginar como o preconceito, em todas as suas esferas, se conectava diretamente ao meu sangue e ao meu nome.

Mas eu estava tentando fugir disso.

Depois de anos de cegueira, foram justamente os meus pais, tão religiosos e elitistas, que fizeram minha fé, a fé no que era certo ou errado, ser abalada. E só uma pessoa se pôs ao meu lado na tentativa de ajudar... O menino judeu que eu havia ignorado por tanto tempo, o garoto que estudava comigo à anos e eu não fizera questão de, ao menos, saber o nome...

Viver na Alemanha foi o melhor modo que encontrei para me reinventar, para tentar ver o mundo com os meus próprios olhos e descobrir sobre o que mais eu estava enganado. Conhecer a origem do meu sangue, e também a história do povo daquele garoto assustado que me estendeu a mão quando eu mais precisava, foi só o começo da jornada, o primeiro passo em direção à mudança que eu me dispusera a fazer.

E eu estava trilhando o meu novo caminho, transformando o meu destino à partir da primeira vez que me sentei ao lado de Blink, a menina negra com dreadlocks roxos e cor de rosa, na aula de história alemã, a mesma Blink que me arrastou por Berlim durante horas em nome de uma marcha pelos direitos das mulheres e que havia me apresentado Yousef, o bailarino muçulmano capaz de emocionar toda a escola durante um debate sobre os legados do holocausto.

Eles haviam explodido a minha mente de tal forma que se tornara impossível voltar ao que eu era antes - não que eu quisesse, é claro. Mas a diferença estava tão nítida no novo eu que eu podia ver os olhares tortos dos meus pais sempre que eu expunha uma opinião própria contrária às deles.

E eu estava disposto à me manter nessa jornada de aprendizagem mas não era simples como podia parecer. Não existia um botão capaz de desligar todo o preconceito que me foi imposto por anos como via de regra e, como se tudo isso já não fosse o suficiente, ainda havia todas essas sensações novas e assustadoras que Mike provocava em mim com um simples olhar.

Eu queria dizer tudo isso à ele, desesperadamente. Dizer que eu estava em um lento e - por que não? - doloroso processo de evolução, já que por algum motivo que escapava da minha compreensão, a opinião de Mike importava para mim. Mas nada disso sairia da minha boca, por mais que eu quisesse, então me concentrei em algo mais simples por hora:

- É uma choper? - Perguntei timidamente assim que paramos ao lado do automóvel. O metal preto rebaixado contrastava lindamente com o prateado do guidão comprido e eu achei ter me lembrado do nome do modelo.

- Como? - Mike me encarou com confusão evidente.

- A sua moto... - Indiquei com a cabeça me perguntando se não havia falado besteira - É como chamam as desse tipo, certo? Choper...

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