#08 - Raposa da Lua

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Nazavo quer um quarto! - Ele bate no balcão com o punho fechado, mas sem tanta força. O atendente quase chama o segurança antes de ver o anel que Nazavo trazia.

- Pois não, senhor. Temos um quarto...

- Nazavo não quer quarto. Nazavo quer suíte imperial!

- Sinto muito, senhor. Já está ocupada.

- Como?! Passaram a frente de Nazavo!?

- Senhor, nossos quartos...

Um homem de certa idade e com "ar de gerente" se aproxima...

- Senhor Nazavo, lamentamos muito não poder atendê-lo na forma que desejava. Mas temos quartos muito confortáveis, mesmo não sendo "suítes imperiais". O senhor não gostaria de me acompanhar para que os apresente? Aí sim o senhor decide se quer ou não se hospedar conosco.

- Está bem, mas não engane Nazavo!

- Certamente que não. Queira me acompanhar que apresentarei os quartos.

Eles seguem até uma porta, que leva a uma sala com escada. Antes de subir, Zand vê uma espécie de bar nobre cujo acesso se dá pela sala da escada. Curioso como nunca soube que tinha um bar aqui...

- O bar é para os hóspedes. Pode descer a hora que quiser. Por aqui, senhor.

Eles sobem pela escada de degraus baixos e detalhes esculpidos no corrimão, chegando em um corredor com alguns vasos em colunas, alguns quadros e, claro, algumas portas espaçadas.

À porta que leva o número 103 eles param e o gerente a abre.

O quarto é bastante espaçoso. Bem mais do que os hotéis por onde Zand tem passado sozinho.

Cortinas, tapetes e lençóis em verde e turquesa. Especialmente a cama de casal. Há também um guarda-roupas enorme, uma mesa com quatro cadeiras e um armário pequeno... Deve ser um refrigerador de alimentos, um artefato mágico que mantém frio tudo o que está dentro dele.

- Vejo que gostou do quarto. Realmente, nossos quartos são bem cuidados. Gostaria de ficar com este?

Zand se desfaz da surpresa, afinal, Nazavo já está acostumado a quartos assim. E responde tentando demonstrar certa indiferença:

- Está bem, este serve.

- Muito bem, fique à vontade. Mandarei subirem com sua bagagem.

- Nazavo não trouxe bagagem. - O homem não entende bem a posição de Nazavo, afinal, é alguém de fora que vem procurando um hotel de luxo, como não traz bagagem? E Nazavo completa - Roubaram de Nazavo!

- Lamento muito. Caso seja de seu interesse, há boas lojas de roupas aqui perto. Também alugamos alguns trajes. Caso queira ver o que temos, passe na portaria mais tarde, tudo bem?

- Certo.

- As luzes acendem e apagam com as palavras "lua ilumina" e "lua escura". - Quando diz a primeira expressão, algumas pedras espalhadas pelo teto começam a iluminar o quarto com um brilho lunar. Ao dizer o segundo comando, elas se apagam. - E para chamar o serviço de quarto, basta pronunciar aquele comando. Tenha um bom descanço, senhor Nazavo.

Após apontar para uma das paredes, onde está escrito "lua de quarto", o gerente fecha a porta e se retira, deixando Zand só. Ele se deita e fica imaginando quão metidas devem ser as pessoas que frequentam este lugar. Claro, no fundo também está aproveitando o conforto para descansar um pouco.

Precisa de roupas. Roupas nem que sejam só para "constituírem uma bagagem". Nisso se levanta e deixa o quarto para ir até a portaria.

Além do mais, os funcionários do hotel lhe vigiarão atentamente enquanto não houver ao menos uma bagagem valiosa no quarto como garantia caso não pague a conta. Não foi bondade que moveu o gerente nesse atendimento tão educado e atencioso. Pelo menos não foi apenas bondade. O que o gerente viu e o recepcionista não viu foi justamente a garantia do pagamento. Na forma de um belo anel roxeado.

Zand fecha a porta e passa por um sujeito magro e vestindo um manto, dirigindo-se ao fim do corredor. Ou é um mago ou um granfino de outra categoria.

- Senhor Nazavo?

- Nazavo precisa de roupa.

- Pois não, senhor. Naquela direção temos algumas ótimas peças que... - Ele aponta um corredor de frente ao balcão, onde Zand vê, de relance, uma silhueta feminina que lhe parece familiar, no sofá.

- Não, Nazavo não quer alugar. Nazavo quer roupa nova!

- Pois não, senhor Nazavo. Há duas lojas aqui perto que devem te atender bem. Basta o senhor sair e pegar a rua naquela direção. Após dois quarteirões, o senhor encontrará a Tobias'. A Zwomz é uma loja bastante conhecida no continente, com filiais em várias cidades. Ela fica ao lado da Tobias'.

- Nazavo vai ver.

- Pode ir. Com certeza o senhor vai achar algo que te agrade.

- Nazavo espera que sim.

"É chato ser grosso assim, mas é necessário para manter o disfarce. De qualquer modo, devo dizer também que é divertido."

E Zand sai à rua pouco movimentada.

EscarlateWhere stories live. Discover now