[TRINTA E SETE]: DOIS PEDAÇOS DE UM CORAÇÃO PARTIDO

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LORENZO

Meu pai sempre me disse que quando amamos alguém, precisamos demonstrar. Segundo ele, foi assim que ele conseguiu conquistar a minha mãe, não com coisas matérias, mas com momentos, com memórias, e com muito amor. É assim que pretendo conquistar o Nicholas, embora eu saiba que certamente eu esteja percorrendo um caminho sombrio demais e sem nenhuma luz no final do túnel. Esse risco vale a pena. Ele vale a pena por ser justamente alguém como eu, somos como dois pedaços de um coração partido, duas crianças que já não sabem como encontrar o caminho de casa outra vez. Ele passou por muitas coisas desde que o conheci, e antes mesmo de fazer isso, seria mentira se eu dissesse não conhecer o legado de Nicholas Danvers desde que ele começou a namorar com o Derek Haze.

Eu tive olhos para ele desde a primeira vez. Minha mãe sempre brigou comigo por eu me apaixonar fácil demais, e certamente isso é devido a minha carência emocional que foi destruída quando a única pessoa que sempre me amou de verdade foi parar em uma cama. Meu pai me destruiu mais do qualquer pessoa nessa vida poderá me destruir, e ainda assim eu amo ele mais do que qualquer outra coisa que poderei amar por toda a minha existência. Ele fez escolhas erradas que o levaram para o lugar onde está hoje, e se eu pudesse escolher ser qualquer outra pessoa no universo, eu definitivamente escolheria ser ele. Me amortece saber que ele me nutriu de coisas boas e me fez amar girassóis.

Meu hálito exala aquele sabor das balas de hortelã que ele roubou na loja de conveniência que havia na estrada, e enquanto saíamos do carro depois daquela minha resposta confusa que eu também estava tentando digerir, a cerveja paga esquentava na parte de trás, sendo contemplada pelo terrível sol abafado de Anchieta. Morar aqui seria melhor do que morar em San Pier, pelo menos o que deveria ser quente é realmente quente e não uma enganação, isso já é um belo começo e ponto de confiança.

Nicholas para do meu lado sem dizer nada. Minha visão sobre ele ainda é embaralhada. Gosto de observar as pessoas por tempo o suficiente para vê-las em todos os tipos de situações antes de defini-las para mim. Seus olhos azuis se movem em direção aos meus. Ele parece um mar profundo agora, enquanto eu continuo sendo o escurecer de mais um dia sem estrelas no seu. Seus lábios se abrem para que ele diga algo, mas ele simplesmente se nega a deixar as palavras sair e me estende a mão, esperando que eu aceite. Seus dedos se encaixam entre os meus, fechando um aperto forte que desejo não quebrar nunca mais.

Sequer começamos e eu já tenho medo de que seja a última vez. Tudo é improvável quando se trata dele, e eu respeito isso. Sei o quão grande é toda a sua indecisão e quero me tornar bom o suficiente para que ele veja que não há risco em ficar, que eu também posso proteger ele e com o tempo, aprender a ama-lo da forma que ele merece ser. Me vejo nele em diversos momentos, principalmente nos de fraqueza, quando a sensação do mundo estar te esmagando é grande demais para você suportar, a diferença é que um de nós dois consegue se fazer de forte e inabalável quando isso acontece, ele está de parabéns para isso.

Eu jamais conseguiria.

Seus passos me levam em direção da bilheteria daquele grande parque, não temos hora para voltarmos para San Pier, mas eu cumpriria a minha palavra de deixa-lo em casa para evitar qualquer conflito que ele possa ter com os pais.

— Vamos prometer uma coisa um ao outro, aqui e agora. — digo quando pegamos a fila que não está tão grande. Nicholas me olha outra vez, esperando minha proposta. — Quando pegarmos o bilhete e passarmos pelo portão, esse clima chato vai sumir. Passamos por aquela sensação mas a intenção de ter vindo aqui hoje é a nossa diversão, vou fazer o impossível para te fazer sorrir porque se você sorrir, eu vou sorrir, e quando você sorrir eu saberei que estarei fazendo o melhor cara do mundo feliz, assim eu vou ficar feliz também.

Depois do Ritual (romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora