As noticias não vem a cavalo e sim por carta

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Peguei uma das cartas para abrir, estava curiosa pelo conteúdo e para saber mais sobre aquela família, para ela, eles eram misteriosos demais, por um lado, ela mesmo não dava brecha para que se mostrassem mais receptivos, mas em sua cabeça, ela estava sequestrada e os demais viviam em um teatro convincente para parecer que ela é louca.

Abri com cuidado, olhando para ver se não vinha ninguém, pois violar correspondência alheia é crime, abri com calma, era uma carte de um parente, a língua não reconheci de imediato, mas algo chamou a minha atenção, foi quando descobri que a data estava 110 anos no passado, deixei caí-la no chão, meu coração não só disparou como entrei num estágio de pânico, as lágrimas vieram a tona, abri a outra carta, e mais uma vez 1887 estava datada, olhei em volta, mal conseguia enxergar o que tinha a minha volta.

olhei para as minhas mãos e gritei em desespero, chorando alto.

- NÃOOOOO.... NÃO PODE SER... VOCÊS QUEREM ME ENLOUQUECER... - Disse gritando, Martha e o carteiro e Fritz vieram ao meu socorro, eu chorava desesperadamente, Não conseguia escutar o que dizia, tentava me tocar e eu me debatia naquela cadeira não querendo que me tocasse, e gritei para ele. - EU ESTOU MORTA... MORTA... VOCÊ ME MATOU, OI VOCÊ QUEM ME EMPURROU PARA DESPENCAR....

- Não... não fui eu.... você caiu.. - Fritz parecia desesperado com a minha acusação, seus olhos estavam quase em suplica para que eu acreditasse, mas as minhas lembranças agora eram reais, eu o vi atrás de mim no quarto, olhei em seus olhos, arfando e com muito ódio.

- Era você... eu sei que era por que te vi atrás de mim e você me empurrou. - Voltei a chorar.

- Por Deus, Marjory... Eu nem em casa estava quando se acidentou...

- Fui eu quem te empurrei. - Disse Martha, nós dois a olhamos assustados, na mina mente era ele, tinha certeza disso. - Nós discutimos... você começou a descer a escada com o cesto de roupa suja, eu fiquei com raiva e a empurrei.

Fritz praticamente voou sobre ela, mas o carteiro segurou Fritz e a confusão começou, na verdade não me interessava mais se eu fui empurrada e por quem, eu acabava de constatar que tinha morrido, meu corpo já não existia mais e tinha sido transportada para uma época que provavelmente eu tinha uma divida a pagar, e talvez fosse amar aquelas pessoas que estavam bem ali na minha frente.

As lágrimas escorriam abundantes, olhei em volta, jamais alguém conseguiria plantar tantas arvores e tão grande em tão pouco tempo, sumir com uma casa, cercado, um paiol, arrumar aquela casa tão rapidamente, a constatação era verdadeira e agora conseguia entender.

em 1997, Fritz não era real, era um fantasma preso naquela fazenda a espera por sua amada, e agora teria que descobrir o que o fez ficar na propriedade por tantos anos.

A clareza dos fatos agora me era real, apenas eu o via, sentia e conversava, alguns flash de nossa conversa me vinham a cabeça, "minha esposa perdeu a memória, nunca mais me reconheceu até morrer".

Fritz se voltou para mim, ajoelhando no chão pedindo perdão pelo que a irmã fez, ao toque da sua mão, me lembrei de que antes de sentir meu corpo se chocar com o piso e tudo cair sobre mim, Fritz sorria pegando em minha mão quando a estiquei, ele simplesmente me salvou de sentir toda a dor do mundo, me trazendo para essa época que provavelmente ele foi mais feliz.

- Eu vou mandar Marta para a Alemanha... não se preocupe.

Olhei para Martha que chorava sacudindo a cabeça.

- Não faça isso, aqui é o lar dela, e precisamos dela... deixe-a ficar. - Disse apertando sua mão, fungando tentando parar de chorar. - Deixa-a ficar, foi apenas um momento de fúria, Martha está arrependida. - Disse a encarando.

- Eu não acho que é seguro deixa-la aqui.

- Não diga besteiras... Martha e tão confiável quando a uma raposa.

Fritz riu e eu com ele.

- Me diz o que posso fazer para ter seu perdão? - Fritz me olhou com amor nos olhos, dor e pesar.

Levei a mão ao seu rosto e o acariciei, Fritz fechou os olhos sentindo minha mão, chegando a tombar a cabeça para sentir aquele afago, uma lágrima correu de seu olho, e que olhos podia dizer que ele tinha, eram tão azuis, seu cabelo ruivo quase fogo, fechei os olhos e suspirei longamente pensando em Odilon e de como ele deve ter sofrido com minha morte repentina.

Agora eu precisava saber o que precisava fazer por todos que estavam naquela casa, para poder descansar em paz, tanto eu como Fritz e Martha.

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