28. Minha Grace.

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Aurora Grace.

Texas, Dallas.

01:37 p.m, 26/09/2015.

Quando eu fechei a boca e terminei de dar a notícia, Justin começou a tossir compulsivamente e me olhou nervoso. Seus olhos estavam marejados, mas ele não deixou que nenhuma lágrima caísse. Aperto com força os papéis em minhas mãos, e noto que elas estão tremendo, eu estava nervosa e provavelmente um pouco desesperada. Eu não sabia o que Justin diria nos próximos segundos.

— O que? - ele murmura irritado e entre dentes. - Você está dizendo que eu ganhei dois novos tumores? E justamente no meu único pulmão saudável?! - grita.

— Justin...

— Eu fiz a porra das sessões de quimioterapia, e elas não me ajudaram em exatamente nada! - diz alto arrancando as agulhas do braço. O enfermeiro tinha colocado-as a pouco tempo. - Era assim que você queria me ajudar a viver? Porra.

— Você fez apenas três. - explico. - Nós ainda podemos tentar e... Pare de tirar essas agulhas, merda! - resmungo me aproximando.

Scooter está sentado na poltrona do canto da parede. Ele esconde o rosto nas mãos, e eu sei que a situação dele não é diferente da nossa.

Justin estava agitado demais, ele arrancava tudo com pressa, e quando eu cheguei perto, ele já estava fora da cama. Seus braços estavam roxos, seus olhos vermelhos e lábios ressecados.

— Em que estágio?

— O que?

— Em que estágio essa maldição está? - repete bravo. Justin treme, ele está pálido e respira fundo.

— Dois. - murmuro e ele arregala os olhos. - Mas nós ainda podemos tentar quimioterapia e radioterapia. - falo atropelando minhas próprias palavras.

— Não.

— Justin, pelo amor de Deus. - nego de olhos fechados. Essa negação de novo não.

Nós deveríamos ter começado a radioterapia no início das sessões de quimio, mas simplesmente não dava, porque Justin não fica muito tempo fixo em um lugar.

— Você acha que eu vou ficar parado me vendo morrer?! - grita contra o meu rosto. - Eu não quero passar os últimos meses da minha vida em...

— Cale a boca. Está sendo impulsivo demais. - respondo rude. - Você não vai morrer.

— Se essas sessões não funcionaram até agora, acha mesmo que funcionarão daqui por diante? - diz amargo.

— Ainda temos uma carta na manga. - digo e ele me olha atento. - Cirurgia, o nome.

Como o câncer de Justin ainda estava no estágio I, as chances dos tumores diminuírem apenas com a quimo eram enormes, e até o momento não tinha necessidade de uma intervenção cirúrgica. Já agora, eu podia optar pela lobectomia, que consiste na remoção do lobo inteiro do pulmão que contém o tumor. Como os dois pulmões dele tinham tumores, nós faríamos em um e depois continuaríamos com a radioterapia e a quimio para evitar novas células cancerosas e acabar com as existentes.

Eu expliquei tudo ao Justin, como funcionaria e o que faríamos, mas ele riu e negou.

— Não seja burro. - cuspo irritada. - Você pode ficar curado se fizer o procedimento.

— Eu vou precisar passar por uma sala cirúrgica, e ainda vou precisar continuar com essas malditas sessões que não funcionam. - diz. - Acha mesmo que vai valer a pena?

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