Capítulo 6 - Suor, lágrimas e sangue

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Bolsa de água quente. Analgésico. Cortinas fechadas. Cama. É a única forma que encontro de atravessar o resto do dia, torcendo para conseguir dormir e esquecer: 1) a cólica. 2) o fato de, agora, eu estudar em uma escola onde uma parte considerável dos alunos já teve acesso à visão do meu sangue menstrual. Penso que poderia ser pior, Thomas poderia estar lá, Thomas poderia usar isso contra mim por sabe deus quanto tempo. Mas, considerando a dimensão do acontecimento, é bastante provável que ele já tenha sido informado.

Ainda que eu tenha ido embora pouco tempo depois da aula de educação física (teoricamente, por causa da cólica; na prática, porque eu queria sumir de lá), algo me diz que a história pode ter se espalhado. Felizmente, o vestiário conta com chuveiros e eu pude tomar um banho e vestir uma calça jeans limpa. Logo depois, Laila apareceu no banheiro, me oferecendo um absorvente.

"Eles são idiotas, parece que nunca viram uma mulher sangrando na vida."

"Ah, foi você que gritou isso então?"

Ela sorriu.

"Gritei, mas não acho que tenha adiantado muito. Não adianta falar com quem não tá interessado em ouvir, né?"

Conversamos um pouco, até ela se apresentar oficialmente. Eu disse que lembrava dela das apresentações.

"É, bom, eu escuto essas apresentações de primeira aula há exatos 10 anos, não sei se ainda tenho qualquer paciência pra isso."

"Uau, você estuda aqui há 10 anos?"

"Pois é. Daí você entende o cansaço."

"Eu estudava na minha há 12."

Ela faz uma careta de horror.

"Se eu tiver que aguentar esses idiotas por mais 2 anos, acho que eu realmente prefiro vender minha arte na praia."

Penso em perguntar, afinal, qual é a arte que ela venderia na praia, mas não sei se estou perguntando demais para uma primeira conversa, então simplesmente sorrio e agradeço o absorvente, pouco antes das outras garotas começarem a entrar no banheiro também.

Quando chego em casa, felizmente, estão todos na rua - menos a dona Nora, a cozinheira que vai lá de vez em quando. Ela é uma senhora gorda e calma que me lembra muito a minha avó materna (ainda que ela tenha morrido quando eu tinha só 8 anos, o que me deixou poucas lembranças - e algumas fotografias). Ainda assim, dona Nora parece alguém que te ofereceria um chá quente em um dia ruim. E é exatamente isso o que ela faz. Esquenta uma bolsa de água quente e um chá de camomila para mim, manda eu deitar e fecha as cortinas do quarto, dizendo que um pouquinho de sono cura tudo.

Não sei se cura tudo, mas realmente ajuda. Acordo já de tarde, um pouco menos triste, e começo a sentir aquela deliciosa sensação de estar com uma enchente vermelha entre as pernas, então saio correndo para o banheiro do corredor.

É quando acontece. Saio correndo para o banheiro e abro a porta sem pensar que alguém poderia estar dentro. Saio correndo e abro a porta tão rápido que só consigo dar um salto quando me deparo com Thomas mexendo no armário sobre a pia, o cabelo molhado. De cueca.

A cena toda não demora nem 5 segundos, mas dá tempo de ver que a cueca dele é estampada por vários símbolos do Batman. Instantaneamente, ele me vê, leva um susto e fecha a porta na minha cara.

"Que tipo de pessoa sai entrando no banheiro dos outros?!" - ele grita lá de dentro.

"Que tipo de pessoa não tranca a porta do banheiro?!" - eu respondo - "Inclusive, sinto informar, mas o banheiro também é meu agora."

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 14, 2017 ⏰

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