O Sangue de Artenis 02 (Artenis)

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Os Novatos

Era dez de fevereiro, fazia uma semana desde que as aulas do terceiro ano do ensino médio haviam começado. Era um belo início de tarde, e eu estava atrasado como sempre; o sol ardia tão forte que quase parecia derreter o asfalto em que eu corria sobre.

Chegando ao portão da escola, com as pesadas e a respiração ofegante, de repente, fui atacado pela sensação de estar sendo observado. Aquele era um tipo de sentimento cada vez mais recorrente naqueles dias, e isso me assustava um pouco.

Instintivamente me virei para trás.

A rua estava vazia, parecia que não havia uma única alma viva além da minha mesmo sendo pleno meio-dia.

No entanto, olhando mais atentamente, havia sim alguém.

Do outro lado da pista, um homem estava encostado em frente a um poste. Ele era alto, parecia ter por volta dos trinta anos de idade, e tinha uma aparência desgrenhada: seu cabelo ondulado estava bagunçado, e seu terno de cor roxa, amarrotado. Além disso, sua calça, que também era roxa, parecia um pouco larga demais para suas longas pernas e ficava amassada sobre os sapatos pretos que ele calçava.

A impressão passada por ele, no geral, era a de alguém que acabara de acordar após uma noite inteira de festa.

Nossos olhares cruzaram o asfalto, indo ao encontro um do outro. Começamos a nos encarar como se estivéssemos num empasse de filme de faroeste.

Era estranho, porém, só de observá-lo, ele me dava uma sensação esquisita. Era como se tivesse algo diferente sobre ele; talvez fosse seu ar misterioso, mas, além disso, o que mais me causava estranhamento era o fato de que eu sentia alguma familiaridade no seu rosto, como se já tivesse o visto antes em algum lugar — embora não me lembrasse de onde ou quando.

Após levar a garrafa de vodca que carregava em sua mão à boca e tomar um ou dois goles da bebida, o homem voltou a me encarar com seus olhos castanho-claros enquanto sustentava um estranho sorriso no rosto.

Por que esse cara tá me encarando? O que ele quer de mim?

E, acima de tudo, por que eu sinto que ele não me é estranho, mesmo parecendo que esta seja a primeira vez que o vejo?

Continuamos a nos encarar por alguns segundos que pareceram minutos, então me lembrei de que estava atrasado e não podia ficar dando atenção a um estranho qualquer na rua. Deixei esses pensamentos para trás e ultrapassei o portão preto na entrada do colégio.

Após passar pelo pequeno pátio além do portão, adentrei o prédio da escola e subi os degraus da escada que me levaria ao terceiro andar, onde se encontrava a sala da minha turma, 3-E. Não parecia haver ninguém nos corredores, meus batimentos cardíacos aceleravam.

Sim, ela pode estar aqui hoje.

Eu conseguia até mesmo ouvir sua doce voz me cumprimentando ao me ver entrando na sala.

Definitivamente, ela tem que estar aqui hoje, era o que eu pensava, parado diante da porta da sala da minha turma, com a minha mão já sobre a maçaneta.

Definitivamente.

Respirando fundo, girei a maçaneta e dei um passo à frente.

A sala estava lotada, quase cheia. O professor Cristiano, que dava aulas de História às segundas e terças, sentado em sua cadeira, me cumprimentou com um olhar sério e, em tom autoritário, disse:

— Artenis, está atrasado.

— Eu sei... professor Cristiano... me desculpe — respondi em meio a minha respiração ofegante, tentando recuperar o fôlego após subir aqueles lances de escada.

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