Misteriosa Essência - Livro 1 - série Enigmas

1 - Apreensão é o Meu Nome

Odeio chegar atrasada no trabalho.

Apesar de meu pai, Bill Ryan, um dos mais poderosos e famosos agenciadores de talentos dos Estados Unidos e Presidente da Ryan Corporate (RC), ser meu chefe, eu não posso me dar ao luxo de dar um mau exemplo perante os outros funcionários.

Ele não anda bem de saúde — o cigarro sempre foi seu "aliado" e a descoberta de um câncer de pulmão, o faz ficar na cama por dias, recuperando-se do mal-estar que as diversas sessões de radioterapia lhe causam — e na sua ausência, o comando da empresa fica nas minhas mãos, o que me deixa louca com tantos assuntos e trabalhos a fazer.

Assim que chego na sede da RC — um prédio de 20 andares, com uma estrutura espelhada imponente e um letreiro cortado a laser formando meu sobrenome, que não passa despercebido por quem quer que circule por Midtown —, vou logo cumprimentando o Sr. Jackson, porteiro do prédio, como faço todas as manhãs.

Aproveito que o elevador está no térreo e aperto o 20º e último andar, onde fica minha sala. Como não tive tempo de terminar de me maquiar no meu apartamento, rapidamente ajeito meus longos cabelos loiros em um coque baixo diante do espelho, passo meu batom Diva, da MAC–que eu adoro e que combina com a saia lápis que estou usando– e dou um toque final espirrando meu perfume preferido, Light Blue, da Dolce & Gabanna, que sempre carrego na bolsa.

— Pela pressa que saí de casa, está ótimo. — digo, sorrindo no espelho, conferindo se não há batom nos dentes.

As portas do elevador se abrem, passo pela recepção e Mary, minha secretária, vai logo me dando bom dia, repassando os compromissos que virão pela frente. Não sei se é impressão minha, mas parece que todos os funcionários estão me encarando. Confiro se há algo errado com a minha roupa, porém não vejo nada fora do lugar, mas pensando bem, talvez as más línguas já tenham espalhado a situação constrangedora que enfrentarei logo mais.

— Srta. Ryan, está confirmada a reunião para apresentação do novo Diretor Executivo, às 11:00h.

— Estou ciente, Mary, obrigada. — agradeço e ao mesmo tempo reviro os olhos. Afinal, eu estou sendo forçada a uma situação que eu nunca pensei que fosse passar, após tudo o que aconteceu.

Um dos diretores da RC se aposentou e, para substituí-lo, meu pai resolveu contratar Paul Mayer para preencher o cargo. Paul é altamente qualificado para a função. Formado em Administração pela Universidade Columbia, havia desembarcado de Londres há algumas semanas, após uma temporada de três anos, onde cursou Mestrado em Oxford, além de ter trabalhado em renomadas empresas do ramo de marketing e agenciamento de novos talentos na Europa. Com apenas 28 anos, seu currículo é invejável. E para completar o pacote, é um pedaço de mau caminho, que um dia despedaçou o meu coração. Encontrá-lo naquela reunião, era o que eu mais temia.

— Mary, como saí de casa correndo, não tive tempo de passar na Starbucks, você poderia trazer uma xícara de café bem forte para mim? — Já passa das 10:00h e como cheguei atrasada, não passei na minha cafeteria preferida.

— Claro, em um minuto. — ela responde, com um vinco em sua testa, que demonstra o quanto está preocupada comigo. E antes de sair da minha sala, emenda: — Antes que eu esqueça, você está linda, mesmo mal humorada. Está parecendo cada vez mais com a executiva de sucesso que seu pai tanto sonhou.

Mary sorrí com tanta admiração que eu acabo relaxando, retribuindo o elogio com um sorriso.

Minha secretária está na faixa dos cinquenta anos e faz parte da empresa há vinte. Suas rugas, levemente escondidas pela maquiagem, a denunciam. Como sempre estive presente no ambiente de trabalho do meu pai, seja brincando e correndo ao redor da empresa –quando criança–, ou exercendo a função de "aprendiz de sucessora" quando já estava mais crescida, trato Mary como se fosse da família. Afinal, crescer sem ter minha mãe ao meu lado, faz com que uma parte de mim — que eu faço questão de esconder—, seja um pouco carente.