— Isso é sério? — Eliza perguntou para seu pai de novo, ainda sem acreditar. Seu café da manhã continuou intocado enquanto ela encarava o jornal, lendo a manchete pela quarta vez.
— Também não consigo acreditar — disse seu pai com a voz cansada, comendo um pedaço de torrada. Ele esfregou os olhos e piscou algumas vezes. — Meu telefone tá tocado sem parar a manhã toda. Fábio diz que o departamento está lotado. Nunca viu tantos repórteres. Ele disse que estão entrevistando todo mundo. Tão querendo até falar comigo.
A garota abriu o jornal tão rápido que quase o rasgou. Seus olhos conferiram a manchete e a foto de novo antes de irem para o artigo. Chefe de Polícia suspeito de corrupção. Só isso a deixava ardendo de raiva por dentro, mas o que vinha abaixo daquilo quase a fez rasgar o jornal.
O Chefe de Polícia, Djalma dos Santos Silva, é suspeito de aceitar propina para liderar a investigação sobre o prefeito e o conselho municipal e tirar o foco de si próprio. Um informante anônimo informou que as investigações ignoraram qualquer pista que pudesse levar à profunda corrupção dentro do próprio departamento de polícia...
É mentira! Ela tremeu tanto que teve dificuldade para ler o resto. É uma puta de uma mentira! Eliza desistiu e devolveu o jornal ao pai; ela não precisava ler o resto para saber que a deixaria furiosa. Não tem como ele aceitar propina. Aquele prefeito... Eliza lembrou-se dele na festa. Bianca disse que era uma festa de propina... Pensei que ela tava brincando... Bianca...
Com o estômago revirando, a garota correu até o quarto e agarrou seu celular. Assim que escutou o som de chamada, ela virou na direção da casa da Ruiva. Eliza descansou a cabeça na parede e focou os olhos, mas não aconteceu nada. Respirando fundo, ela olhou para a parede. Dessa vez, ela ficou transparente, mas não importa o quanto tentasse usar seus poderes, ela não podia ver mais do que alguns metros adiante.
Não tem como eu me focar agora, percebeu Eliza, estalando a língua. Tudo que conseguia pensar era Bianca e sua família. Vamos lá, atenda... vai, Vermelha, atende... Mas só escutou o som da chamada ecoando.
Ela encerrou a ligação e tentou de novo. Vamos, Bianca, quero ouvir a sua voz... Eliza nunca pensou que odiaria o som da chamada tanto assim.
— Bianca! — gritou ela quando sua namorada finalmente atendeu.
— Oi, Eliza. Bom dia — respondeu Bianca. Embora falasse com a voz normal, Eliza sabia que era forçado. Será que ela conseguiu dormir? — Por mais que eu adore começar o dia escutando a sua voz, não, pera. Esquece isso. É o melhor jeito de começar o dia. Mas sei que você sabe que não sou uma pessoa que acorda cedo.
— É, eu sei muito bem. E também sei várias outras coisas sobre você. Tipo, que você ronca. Bastante — brincou Eliza para melhorar o clima, com um pequeno sorriso fraco.
— Já disse e repito que não sou eu. Talvez suas orelhas tenham evoluído junto com os olhos, por isso fica escutando outra pessoa roncar — respondeu Bianca com seu tom brincalhão de sempre. Eliza podia imaginar a ruiva fazendo cara emburrada, mas sabia que Bianca não estava se divertindo como de costume.
— Isso não faz sentido. De acordo com todos aqueles filmes que você me forçou a ver, só dá pra melhorar os outros sentidos quando você perde um.
— Verdade — disse ela, as duas riram. Logo, pararam e o silêncio reinou. — Creio que tenha visto as notícias?
— Sim — disse Eliza, mas adicionou. — Eu sei que não é verdade! Seu pai nunca faria algo assim!
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Meus Olhos Enxergam
ParanormalVocê acredita no sobrenatural? Eu não. Pelo menos não até eu acordar com um poder estranho. No começo pensei que seria legal, mas não foi. Esse poder arruinou minha vida