CONFISSÃO #27: TIVE MEDO DE TER PROBLEMAS NO TRABALHO

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PARTE 61 - ENFIM... SERÁ?

Desde o início do ano que eu estava tentando manter contato com um menino que aparecia no meu Grindr. Não obtive muito sucesso. Então eu falava com ele, não dava em nada, ficava um tempo sem falar e tudo se repetia.

Eu reconheço que assustava o menino. Eu estava entrando no esquema que toma conta da vida sexual de quase todo gay solteiro com mais de trinta anos: aproveitar o momento. Além disso, minha condição sorológica costumava afastar um pouco as pessoas. Quando alguém chegava, era pra sexo casual. Não me passava mais na cabeça a possibilidade de ter um relacionamento sério.

Justamente por esse motivo eu costumava ir direto ao ponto quando conversava no Grindr. Era direto e muito sexual. Não sensual, sexual mesmo. Isso de certa forma intimidava muita gente. Foi o que aconteceu com esse menino.

Porém, um dia ele começou a me seguir no Instagram. Depois que postei uma foto vestindo um kilt, ele me mandou uma mensagem privada perguntando onde eu comprei. Ele queria comprar um. Eu respondi, é claro. Não demorou para trocarmos Facebook, mas é claro que eu, como de costume, passei do ponto e ele... Bom, ele novamente ficou arredio.

PARTE 62 - CONFISSÕES

Neste meio tempo eu decidi tomar uma decisão. Criei uma página no Facebook, anônima, chamada "". A primeira postagem foi feita dia 09 de abril de 2016.

Fui convidando alguns amigos íntimos para "curtir" a página. Muitos sabiam de minha sorologia, outros não. A verdade é que muita gente não percebeu que se tratava de minha história com o HIV. Então de certa forma ainda fiquei não identificado.

As primeiras postagens eram mais acessadas por membros de grupos fechados no Facebook com público portadores do vírus HIV ou doentes de AIDS. A intenção era aos poucos abrir isso para todo mundo, mas precisava ir aos poucos. Deixei colegas de trabalho por último. Confesso, tive medo de algumas reações. Quando se está nessa posição você pensa em tudo. Eu trabalho com fitness, promovo saúde. De repente um instrutor de hidroginástica e Bike Indoor portador do HIV pudesse me fazer perder alguns alunos, ou até mesmo perder meu emprego. Eu sei dos direitos trabalhistas de soropositivos, mas temia estresses, sofrer discriminação e ser demitido por falsos motivos. Seria terrível também não ser mais considerado apto para executar a profissão que tanto amo e me dedico muito.

Mesmo assim, já não tinha mais tempo de desistência. O retorno dos leitores foi instantâneo e positivo. Consegui ajudar pessoas de todo o país, com informações, conversas, etc. Era o que eu queria. Tentar informar as pessoas sobre o que é ser portador do HIV, ajudar quem estava passando pelo mesmo e mostrar que qualquer um pode ser contaminado pelo vírus.

O próximo passo? Me identificar como autor.


* Direitos trabalhistas de soropositivos - O portador de HIV não pode ser demitido devido à doença. Tem direito a transporte gratuito e a sacar o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Mas duas décadas após a criação do Programa Nacional de DST e Aids, do Ministério da Saúde, fundamental na garantia dos benefícios, muitos ainda são vítimas de preconceito no trabalho e em outras atividades. Via DST-AIDS.

HIV/AIDS - Confissões de um soropositivoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora