Capítulo 1

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*Mary Jane*

Abri os olhos e tudo ao meu redor girava. Era como sair de um passeio na roda gigante, mas com uma dor de cabeça maior... bem maior. Aos poucos fui recuperando minha visão. Pude perceber que não estava no meu quarto. Esse era bem maior. Meu Deus, onde estou?

O primeiro detalhe que reparei foram as cortinas cinzas que obstruíam a passagem do sol pela grande janela ao lado da cama, uma cama de casal no meio do quarto. Os lençóis eram macios e tinham cheiro de novos. Uma pilha de roupa jogada ao lado da porta de entrada me chamou a atenção, pois havia um guarda-roupa grande na parede oposta á janela. Havia um criado mudo com um relógio digital que marcava 10 horas e 17 minutos. Não havia fotos no quarto, então pensei que talvez fosse um quarto de homem. Mulheres não deixavam esse detalhe passar.

Foi quando me apavorei. Olhei-me deitada na cama, com uma camisa branca masculina de manga curta e uma cueca samba canção. Uma cueca? Ai meu Deus. Como vim parar aqui vestindo uma cueca? Onde estavam minhas roupas? Passei os olhos mais uma vez pelo quarto, mas não as encontrei. O que eu faço agora? Foi quando escutei barulhos do lado de fora da porta. Havia alguém lá fora, e não estava sozinho. Estavam conversando entre si. Ouvi pelo menos uma TV ligada. Arrastei-me pela cama tentando não fazer muito barulho e andei na ponta dos pés até a porta. Tentei escutar mais a fim de identificar quem estava no lado de fora, o que fora em vão, já que não lembrava nem como tinha chegado ali. Tomei coragem. Não tenho nada a perder. Pensei. Fiz uma oração silenciosa, então abri a porta e sai decidida a descobrir tudo que pudesse. Onde estava? Como cheguei ali? E o mais importante, com quem eu estava?

Então tudo girou novamente quando aqueles olhos se cruzaram com os meus. Eram cor de mel, sob a luz da manhã pareciam verdes, mas eram claros. Tinha os cabelos longos, na altura dos ombros, ruivos e tingidos de loiro em mechas. A barba mal feita, apesar de ser bonito, lindo, esplendido, ele simplesmente não se importava. Usava um jeans desbotado e uma camiseta preta. As sobrancelhas grossas formando um par perfeito com os cílios longos. E então olhei os lábios. Faziam uma pequena curva na bochecha por causa de um meio sorriso vindo em minha direção. Corei. Abaixei a cabeça na esperança de não ser notada, mas era tarde demais.

- Bom dia!

Uau! Que voz! O tom grave e ao mesmo tempo gentil fez minhas pernas cederem e quase caí.

- Fiz ovos com bacon e uma vitamina. Fique a vontade pra se sentar conosco a mesa. Você deve estar com fome depois de uma noite agitada. A proposito sou James. Apesar de ter me apresentado ontem a noite, não acho que você se lembre.

- Mary Jane. E você tem razão, eu não me lembro de ontem a noite. Desculpe-me.

- Não precisa se desculpar, sabemos por que você não se lembra.

Sabemos. Foi quando percebi mais dois rapazes me olhando da sala. Estavam sentados em poltronas acolchoadas em frente a TV. Reparei que estavam com manetes de vídeo game na mão, mas o jogo estava em pause, porque a atenção estava voltada a mim. Corei novamente.

- Bem-vinda ao nosso humilde lar. – falou um dos rapazes, o alto de cabelos loiros caídos na testa. Tinha um sorriso encantador com lábios carnudos. Os olhos azuis de piscina estavam esperando que eu dissesse alguma coisa, mas estava sem palavras para responder.

- Não é lá grande coisa, mas é bem aconchegante não acha?

- Ela bateu a cabeça? – olhei alerta para o outro que estava a seu lado. Um moreno claro com cabelos soltos também lisos e caídos na testa. Mas esse tinha um olhar mais inocente, como um bebê saído da embalagem de fraldas Pampers.

Continuei muda, atônica por causa da minha dúvida. Não sabia nada sobre o fato de estar ali, com aqueles três rapazes, lindos e adoráveis, gentis e deslumbrantes... Ah para! Foco por favor, Mary Jane!

- Não acho que ela bateu a cabeça, só está confusa com a surpresa. Aposto que está se perguntando agora como veio parar aqui. Fique tranquila, vamos te explicar tudo que aconteceu. E antes de tudo: não, você não transou com nenhum de nós. – disse James. Obrigada meu Deus por esse detalhe!

O apartamento se inundou em gargalhadas merecidas pelo comentário, mas me vi envergonhada por ser o centro das atenções. Então os dois “garotos” da sala voltaram ao jogo e James me levou até a mesa para tomar café da manhã. Sozinhos ali pude reparar mais detalhes do lindo homem a minha frente. James tinha um porte atlético, como se fosse membro de algum time ou equipe, moreno, alto, tudo em um homem que agradaria qualquer mulher. Os ombros largos e braços bem definidos me fizeram corar mais de uma vez, tenho certeza. Apesar da situação, meio que me senti bem à vontade ali, com ele...

- Por favor, eu preciso saber o que aconteceu ontem à noite. – pedi com gentileza.

- Eu sei. Na verdade eu te encontrei... – a campainha tocou.

James se levantou para atender. Da mesa não dava pra ver quem estava à porta, mas sabia que era homem pela voz que vinha de lá.

- Ai está você! Te procurei a noite toda minha linda. Por onde andou? E por que fugiu daquele jeito? Eu não mordo sabia? Só se você quiser...

Então tudo veio como um flash em minha mente. Lembro-me daquele homem arrogante. O cabelo negro com corte de modelo. Sabia que sua aparência causava efeito. Mas eu já o tinha visto fazer o seu mal. Seus olhos castanhos estavam vidrados em mim e percorreram todo meu corpo me fazendo tremer de medo. Lembro-me de tudo que ele tentou fazer comigo na noite anterior. Lá estava ele novamente, aquele monstro. As lembranças vieram como um furacão. Pior, um tsunami de medo me invadiu completamente. James se enrijeceu e num piscar de olhos já estava ao meu lado perguntando o que tinha acontecido. Agradeci a Deus pela presença dele. Ele conseguiu evitar que mais uma vez aquele homem me tocasse. Eu não queria, não poderia suportar vê-lo me tocar, me sujar com suas mãos estúpidas. Levantei com um susto e me prostei junto ao meu protetor.

- Por favor, não deixa... Por favor... – Eu implorava a James sussurrando. Quase não consegui falar, tudo estava entalado na garganta. Sentia ódio, raiva, mais de mim mesma do que daquele imbecil.

- Não devia ter vindo aqui Marcos, pelo visto não é bem-vindo. Se soubesse antes, não teria o deixado entrar. – Senti, mesmo de costas, o olhar fulminante de James em Marcos quando lhe disse estas palavras.

- Calma ai parceiro, eu vim em paz. Só queria saber o que aconteceu com ela ontem, já que a perdi de vista e não estava no meu melhor momento para procura-la.

- Você não a perdeu, eu a encontrei. Graças a Deus que a encontrei... – James parecia aliviado, ainda furioso, mas de algum modo também aliviado.

Teria ele se preocupado com minha segurança? Eu não me lembrava o que tinha acontecido, mas agora me lembro. James me encontrou. Eu estava fugindo, de Marcos.

- Sabe amigo...

- Não sou seu amigo.

-... eu poderia tê-la alcançado na escada. Ela estava bem alterada.

- Será por que você a deixou assim? Tenho certeza que uma mulher como ela não se alteraria tão facilmente, não por vontade própria.

Mulher... James me chamou de mulher... como eu gostei de escutar isso...

- Pelo tom da sua voz creio que não esteja satisfeito com os acontecimentos da noite passada, estou certo James Carter?

- Não tenha dúvida nenhuma disso. Saia! Antes que eu seja obrigado a te expulsar.

- Isso não vai ficar assim.

Marcos saiu da mesma maneira que entrou, com um sorriso maligno nos lábios. Meu Deus! Como pude cair nas garras dele? Como pude ser um alvo fácil? Eu sempre me precavi. Nunca dei muita importância a homens em festas noturnas. Eu nem deveria estar naquela balada... como pude ser tão tola?

- Não foi sua culpa, pare de se torturar. O pior já passou. Você está aqui, e não na cama dele.

- Você por acaso lê pensamentos? – sorri como uma criança boba que acabou de fazer uma piada e meu sorriso foi correspondido. Eu estava bem, estava com James. Obrigada meu Deus!

...

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