Prólogo

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Um longo manto de escuridão afunda minha consciência em horror com a cena grotesca de morte. Meus pés fraquejam consternadamente e eu caio de joelhos com o impacto do projetil transpassando meus ombros frágeis e esguios, minhas mãos tremem em contato com tanta dor e sangue ao redor...

Nunca tinha presenciado algo parecido e sequer tenho certeza que meus olhos estavam prontos para tanta desgraça.

Não consigo parar de transpirar o medo em forma de gotas de suor ácidas. Um ardor convulsivo penetra em minhas fibras, minha garganta fica seca subitamente e minha visão embaça mais uma vez, meu coração acelerado espancando meu peito. Uma fisgada extenuante quanto à pegada de um torno parece meu empurrar cada vez mais para baixo, lacerando ainda mais meus cortes.

Um corpo moribundo despenca ao lado do meu, a voz trêmula como um gemido é uma ode infeliz nos meus ouvidos. Limpo o rosto, mas só acabo espalhando mais o sangue na testa. Fico nervosa, sentindo-me incomodada. Nossos braços colidem levemente e um arrepio tenebroso transpassa meu corpo como uma lança afiada. Espio suas feições e tudo que vejo é destruição, o espelho de uma destruição que estou prestes a conhecer.

O clamor da criatura gorgolejante e moribunda é o indicativo de sua ansiosa morte. Ela levou um tiro como eu, mas seus ferimentos são mais graves e piores. Resfolego grandes goles de ar com a bílis engasgada na garganta, e reflito sobre esse momento ruim ao passo que a escuridão enevoada ludibria o canto dos meus olhos. Não há nada pior do que a sensação de estar morrendo...

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Ode do Infortúnio (Os Segredos de Afternoon Fall)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora